Título: De olho no Brasil, Itália sinaliza com concessões agrícolas
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2006, Brasil, p. A3

Ao contrário da posição tomada pela França, que tem resistido à redução dos subsídios agrícolas, o governo da Itália sinaliza com a vontade de agilizar as negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC) e flexibilizar sua política comercial em relação à agricultura.

Questionada sobre suas expectativas para a próxima reunião técnica entre a UE e o Mercosul, no dia 7 de novembro, Emma Bonino, ministra de Comércio Exterior italiana, disse que "tem a ambição de avançar nas negociações", mas ressaltou que seu país faz parte de uma comunidade e precisa seguir a política da UE em relação à agricultura.

Para ela, "é importante se chegar à conclusão de um acordo entre o bloco da América do Sul e o europeu em termos comerciais, de investimento e estratégia. Mas, para que isso ocorra, é preciso vontade política", disse a ministra na sede da Confindustria, a confederação nacional das indústrias italianas, após a abertura da Missão Empresarial Itália-Brasil.

Se depender do primeiro-ministro italiano, Romano Prodi, vontade política para ampliar o intercâmbio comercial, se não entre os dois blocos, mas pelo menos entre os dois países, não faltará. Durante a abertura do evento, Prodi contou que visitará o Brasil em abril de 2007 com uma "grande delegação". De acordo com o primeiro-ministro, a viagem não será apenas para potencializar trocas econômicas, mas também para troca de experiências culturais e políticas.

Em seu discurso, Prodi fez elogios ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva e, depois de citar a baixa inflação, o menor endividamento externo, a nova lei de falências e o alcance da meta de superávit primário, disse que as conquistas dos últimos quatro anos trouxeram a estabilidade necessária para que o Brasil possa receber investimentos de outros países, em especial da Itália.

"Não vim a esse encontro por acaso. Vim porque quero deixar claro que a América Latina está no centro da nossa política internacional e de comércio exterior", afirmou o primeiro-ministro. Prodi acredita que a Itália precisa aumentar a participação em um mercado tão grande quanto o brasileiro e com o qual seu país tem fortes relações culturais.

Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que trouxe cerca de 250 empresários para uma rodada de negócios com italianos, criticou as altas tarifas impostas pela UE no setor agrícola, que, para ele tornam os produtos brasileiros pouco competitivos. Ainda assim, as exportações do Brasil para a Itália cresceram 13,4% de janeiro a agosto deste ano em relação a igual período do ano passado, e o país é o 9º maior comprador de produtos brasileiros.

O ministro brasileiro da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, lamentou que a relação entre Itália e Brasil tenha perdido espaço nos últimos anos, apesar dos esforços das empresas de cada país para manter o intercâmbio comercial.

Para os empresários italianos, o interesse no Brasil vai mais além. Eles enxergam o país como uma porta para a América Latina e querem que os brasileiros vejam o mesmo da Itália: entrada ao mercado europeu. "Visamos o Brasil para termos também acesso privilegiado aos demais países da região", afirmou Luca Cordero Di Montezemolo, presidente da Confindustria e da Fiat na Itália.

As reclamações do setor industrial italiano se confundem com as dos empreendedores brasileiros. Montezemolo também acredita que o crescimento deve ser a prioridade número um do governo italiano. Hoje, a Itália encontra-se em pé de guerra devido à lei de orçamento proposta por Prodi para o próximo ano, que apresenta vários pontos considerados polêmicos.

No entanto, para Montezemolo, que tem criticado essa lei, o problema é mais amplo e diz respeito à política econômica adotada pelo país. No ano passado, Produto Interno Bruto (PIB) da Itália teve uma variação muito próxima a zero. Em 2006, o crescimento não deverá passar de 1,5%. Para ele, "é necessário um ambiente que dê confiança ao investimento do setor produtivo".

A repórter viajou a convite da Fiesp