Título: Investimento em novas usinas divide opiniões
Autor: Rittnerm, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2006, Brasil, p. A4

A volta das usinas nucleares como opção para conter o déficit de energia do país divide opiniões. O Greenpeace Brasil acha que a energia nuclear não deveria ser uma opção. "Existem quatro adjetivos para ela: é cara, suja, perigosa e ultrapassada. No Brasil, a energia nuclear é claramente dispensável", afirma Guilherme Leonardi, coordenador da campanha antinuclear do Greenpeace Brasil.

Já o especialista Aquilino Senra, professor e especialista em energia nuclear da Coppe da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) diz que as usinas da nova geração são econômicas e seguras. Para ele, a posição do Greenpeace é "histórica e ideológica", já tendo sido revista inclusive por um dos fundadores do movimento, o cientista e ambientalista James Lovelock.

"Até um dos maiores ambientalistas do mundo acha que a energia nuclear é a única que pode evitar o aumento da temperatura global", rebate Senra.

Para o presidente da Eletronuclear, Othon Pinheiro da Silva, a energia nuclear "não é a solução (para a crise de energia), mas é um bom contribuinte para a solução". Silva, que representa o Ministério de Minas e Energia no grupo interministerial formado para avaliar a atividade nuclear no Brasil, acha que se a usina Angra 3 não for concluída, será um contra-senso.

"Países que transformaram sua economias nas últimas décadas diversificaram a matriz energética fazendo uso maciço da energia nuclear", pondera o executivo, que se diz defensor, em primeiro lugar, da energia hídrica, que, segundo ele, é "uma dádiva" que precisa de reforço térmico, seja de fonte nuclear ou não.

Opositor do programa, Leonardi, do Greenpeace, diz que a energia nuclear é cara, porque envolve outros custos, como a limpeza do material radioativo, suja porque produz lixo radioativo, perigosa devido à possibilidade de acidentes e ultrapassada já que, segundo ele, a tecnologia vem sendo abandonada em países como Alemanha, Espanha e Suécia. Para o ambientalista, se o governo Lula construir Angra 3 será um "golpe nos eleitores", já que pesquisa de opinião pública feita pelo Greenpeace constatou que mais de 82% dos brasileiros rejeitam a energia nuclear no Brasil.