Título: PT intensifica os contatos com governadores eleitos
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2006, Política, p. A5

O governo e o PT não escondem mais as preocupações com os dias seguintes à eleição. Temendo o chamado "terceiro turno", governistas buscam manter contatos com os governadores eleitos da oposição, intensificar articulações com lideranças no Congresso e nos Estados para que, ao término das eleições, abrandem o calor do debate político. Os governistas esclarecem que não estão pedindo que a oposição retire denúncias ou paralise as investigações. "Eles vão continuar na oposição, mas não podem permanecer nessa loucura por mais tempo, ela perdura há um ano e meio. A vida real é muito maior do que qualquer ilação", declarou o governador eleito da Bahia, Jaques Wagner, um dos coordenadores da campanha de segundo turno do PT.

Para Wagner, depois do segundo turno, os governadores eleitos - mesmo os pefelistas e tucanos - terão que pensar no mundo real e na realidade que terão pela frente a partir de 1º de janeiro de 2007. Ele acrescenta que as investigações vão prosseguir - a CPI dos Sanguessugas, por exemplo, ainda está em funcionamento. "O relatório final, com seus indiciados, será encaminhado ao Ministério Público, mesmo destino do inquérito final da Polícia Federal. O que mudará é que esse tema deixará de dominar o cenário político", disse Wagner.

O governador baiano evita criticar diretamente o atual discurso oposicionista, lembrando que pefelistas e tucanos apoderaram-se "legitimamente, do debate ético" para tentar evitar a reeleição de Lula. Diz que a ida para o segundo turno deu fôlego novo à candidatura de Geraldo Alckmin, mas acredita que, ao manter indefinidamente essa bandeira, perderam o timing. "Esse discurso não está mais dando certo. Quantos parlamentares de CPIs não se reelegeram? Vem aí um Senado com uma renovação de um terço, mais de 40% da Câmara com novos nomes".

Um dos coordenadores da campanha de Lula em São Paulo e integrante da CPI dos Correios, o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) acredita que os dois lados - governo e oposição - terão que se despir do clima eleitoral e buscar um entendimento efetivo. Na visão dele, não há nenhum demérito para o Planalto e para o PT em buscar o entendimento com a oposição. Tampouco seria vergonhoso para a oposição reconhecer o resultado eleitoral e pensar no futuro do país. "A permanência do atual momento é insustentável. O Brasil precisa mais de pactos do que de divergências", afirmou Cardozo.

O petista corrobora o discurso feito pelo candidato do PSDB à presidência, Geraldo Alckmin, "de que não pode ser cobrado da oposição um pacto pela impunidade". "Nós também queremos que se investigue tudo. É necessário para os dois lados. Mas as principais lideranças brasileiras precisam fazer um trabalho de resgate institucional. Senão, todos perdem", disse Cardozo. Ele acha que o próprio Congresso, renovado, terá que dar uma resposta mais satisfatória para a sociedade. "Os pedidos de cassação do escândalo dos sanguessugas vão começar e o Legislativo precisa recuperar sua imagem perante a opinião pública. Isso vai nortear os trabalhos, com certeza", aposta Cardozo.

O prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, demonstra preocupação com a permanência da disputa política acirrada após o segundo turno das eleições presidenciais. Defende que a governabilidade deve ser preservada a todo custo e aponta a necessidade de buscar novos interlocutores na oposição. "Os governadores eleitos terão papel fundamental nesse novo cenário. Muitos do que hoje levantam as vozes contra o governo estão perdendo espaço político", ressalta.

Em Minas, por exemplo, Pimentel não acha difícil a reconstrução das pontes com o governador reeleito, Aécio Neves. Admite que, obviamente, esse debate não pode acontecer agora, porque os dois lados estão disputando o mesmo espaço político. Em São Paulo, a situação seria mais complicada, sobretudo após o escândalo do dossiê, envolvendo diretamente a disputa pelo Palácio dos Bandeirantes. "Como a disputa lá é mais dura, o terreno inevitavelmente está menos propício. Mas José Serra poderá manter uma interlocução direta com Brasília, sem passar, necessariamente, pelo PT paulista", sugeriu.

O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), acredita que um dos antídotos para evitar a paralisia pós-eleição será a tentativa de votar projetos importantes no Congresso antes do término do ano. "As dificuldades maiores nem serão por conta da oposição. O problema é que muitos parlamentares não se reelegeram". Chinaglia acha que a sociedade fará sua própria cobrança. "A população acompanha e vai cobrar de nós mais propostas para o crescimento e desenvolvimento do país e menos discursos exacerbados e alaridos eleitorais", disse.