Título: Vantagem valoriza cacife de Lula nos Estados
Autor: Felício, César e Jurgenfeld, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2006, Política, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ingressou, direta ou indiretamente, na campanha de todos os seus aliados regionais que enfrentam dificuldade no segundo turno nos Estados, na última semana. Hoje, Lula é aguardado para um comício em Timon (MA), onde deverá pela primeira vez declarar apoio em público à pefelista Roseana Sarney, candidata ao governo do Maranhão que disputa contra Jackson Lago (PDT).

As pesquisas são discrepantes no Estado e o resultado local é imprevisível. Pelo Ibope, Roseana conta com seis pontos de vantagem. Lula conta com 80% das intenções de voto no Estado e a estratégia da campanha de Roseana. O apoio presidencial à pefelista preocupa os opositores do grupo sarneyzista no Maranhão. Dissidente da direção nacional, o PT maranhense abriu um comitê "Lula-Jackson". Mesmo depois de receber a visita de Alckmin, Jackson declarou-se neutro.

A associação com Lula no Maranhão é tão cobiçada que Roseana não hesitou em desobedecer à lei da verticalização, que impede este movimento político e enfrenta agora um processo de expulsão dentro da sigla. A presença de Lula e Roseana no mesmo palanque é vetada pela legislação e poderá gerar um processo por crime eleitoral contra a pefelista, já que seu partido integra a coligação adversária do presidente.

Lula também entrou no cenário paranaense, onde a vantagem da associação é mais discutível: O Estado foi um dos onze em que o vencedor no primeiro turno foi o tucano Geraldo Alckmin. Na última pesquisa divulgada no Paraná, pelo Datafolha em 17 de outubro, o governador licenciado e candidato à reeleição, Roberto Requião (PMDB) começa a abrir uma vantagem sobre seu oponente, Osmar Dias (PDT). O pemedebista teve 49% das intenções de voto, ante 45% do pedetista. Na pesquisa anterior, estavam empatados.

Neste domingo, Requião (PMDB), fez declarações elogiosas a Lula em seu horário eleitoral gratuito. A iniciativa aconteceu um dia depois de Lula pedir votos para Requião em comício na Boca Maldita, em Curitiba. Requião até então se mantinha neutro na sucessão presidencial. No sábado, Lula foi claro ao declarar seu apoio ao pemedebista. Disse que há dois projetos em disputa no Estado. E, como Osmar Dias (PDT) faz campanha para Geraldo Alckmin (PSDB), anunciou sua opção por Requião: "Quem vota em mim precisa votar em Requião para o governo do Estado, porque o Requião gosta dos pobres".

Em Santa Catarina, onde o governador Luiz Henrique é franco favorito para se reeleger, em coligação com o PFL e o PSDB, Lula recebeu o apoio do oponente, Esperidião Amin (PP), um inimigo histórico do petista e seu adversário na eleição presidencial de 1994. Na última pesquisa Ibope, o pemedebista aparecia com 11 pontos de frente sobre Amin. O pepista, que estava neutro, alterou sua estratégia depois de nova pesquisa Ibope indicar que ele manteve 38% das intenções de voto, mesmo patamar da pesquisa anterior, e mostrar crescimento de cinco pontos de Lula no Estado, alcançando 42%. Luiz Henrique está com 53%, crescendo um ponto percentual.

A estratégica do candidato até agora era evitar declarar apoio ao presidente, com receio de perder eleitores que estiveram com ele no primeiro turno, mas mostravam preferência ao candidato Geraldo Alckmin (PSDB), que venceu em Santa Catarina no primeiro turno e lidera as pesquisas com 58%.

A campanha de Amin já tinha, no entanto, colocado sua esposa, a ex-prefeita de Florianópolis e deputada federal eleita Angela Amin em uma reunião com petistas na sexta-feira, e vinculado seu vice, Hugo Biehl, ao presidente Lula. De acordo com José Fritsch (PT), com o apoio oficializado, Lula poderá gravar declaração para o programa de Amin na TV.

Na semana passada, em Mossoró (RN), Lula fez campanha ao lado da governadora Vilma de Faria (PSB), que está com sete pontos de vantagem sobre Garibaldi Alves Filho (PMDB), que tem o apoio do PFL. A vantagem de Vilma a coloca apenas um ponto percentual acima da margem de erro da pesquisa do Ibope.

Em Mossoró, Vilma perdeu a eleição para Garibaldi e a cidade é um reduto da oposição local, que elegeu para o Senado a ex-prefeita Rosalba Ciarlini (PFL). A votação de Lula em Mossoró coincidiu com a de Garibaldi: o presidente teve 62% e o pemedebista ficou com 60%. A reação de Garibaldi foi distanciar-se de Alckmin, alegando que aliados seus apóiam Lula, entre eles o primo, deputado federal Henrique Eduardo Alves.

Sem a presença de Lula, o PT paraibano irá promover um ato no dia 25 para marcar o apoio do presidente ao senador José Maranhão (PMDB), que disputa o cargo contra o governador tucano Cássio Cunha Lima. Lula já esteve ao lado de Maranhão no comício em Campina Grande, cidade de origem de Cunha Lima, na semana passada. Na última pesquisa disponível, Cunha Lima teve 50% de intenção de voto e Maranhão, 43%.

Nos Estados em que as eleições estaduais já estão encerradas, a campanha não é menos intensa. O vice-presidente José Alencar e os ministros mineiros foram convocados a reforçar a campanha em Minas, segundo colégio eleitoral do país. Ontem, Alencar e o ministro das Comunicações, Hélio Costa, reuniram-se com lideranças locais do PMDB para pedir empenho na reta final. A meta é evitar o que ocorreu no Estado no primeiro turno, uma votação abaixo da esperada entre os mineiros.

Com o fim da disputa estadual, encerrada no primeiro turno com a vitória do governador reeleito Aécio Neves (PSDB), a coordenação da campanha petista em Minas acredita que a performance do adversário Geraldo Alckmin cairá. Irônico, o ministro Hélio Costa disse que acredita que o adversário vai dar uma virada: "vai virar de bruço", disse ele.

Alencar criticou ontem as declarações de Alckmin sobre as dificuldades que Lula terá para governar se for reeleito. Para Alencar, não adiantará a oposição querer um "terceiro turno" porque o apoio popular garantirá a governabilidade do governo. (Colaborou Ivana M oreira, de Belo Horizonte)