Título: Governo quer expandir investimento em 10%
Autor: Romero, Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 01/10/2012, Brasil, p. A3

O governo trabalha para aumentar a taxa de investimento da economia em 10% no próximo ano, elevando o estoque para algo próximo de 20% do Produto Interno Bruto (PIB). Essa taxa, medida pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), isto é, a compra de bens de capital (máquinas e equipamentos) e os gastos com construção civil, estava em 17,88% do PIB no segundo trimestre, a mais baixa desde o terceiro trimestre de 2009.

A aceleração do investimento é considerada crucial pelo governo para sustentar o crescimento do PIB a taxas mais elevadas e sem gerar inflação. A taxa de investimento real vem caindo desde o segundo trimestre de 2010. Entrou em terreno negativo no primeiro trimestre deste ano, quando caiu 2,06% em relação ao mesmo período de 2011, e acelerou o recuo no segundo trimestre (-3,7%). É por essa razão que o governo vem adotando, desde maio, várias medidas para reduzir custos financeiros e de produção e ampliar os investimentos em infraestrutura.

O Ministério da Fazenda trabalhava, inicialmente, com meta de expansão de 15% dos investimentos em 2013. Agora, segundo informou ao Valor um integrante da equipe econômica, a meta é avançar 10%. Trata-se de objetivo mais realista, uma vez que, mesmo após a forte queda dos juros, da desvalorização do real frente ao dólar e da concessão de inúmeros estímulos fiscais e creditícios, o investimento está demorando a reagir.

"O investimento é prioritário", disse um ministro. "O modelo de crescimento da economia [baseado nos últimos anos na expansão do consumo e do crédito] não se esgotou, mas o governo quer focar o investimento", atestou outra fonte.

O governo acredita que, no momento, há vários sinais positivos indicando recuperação "gradual" da economia. Entre esses, destaca-se a confiança dos empresários. O Índice de Confiança da Indústria (ICI), apurado pela Fundação Getulio Vargas, avançou 0,9% entre agosto e setembro, atingindo 105 pontos, valor próximo da média histórica recente (105,4 pontos).

Na opinião de economistas oficiais, é pelo canal da confiança, batizado na diretoria do Banco Central (BC) de "CNN channel", uma referência ao noticiário internacional, que a crise internacional mais tem afetado a atividade econômica no Brasil. Os empresários temem o agravamento da crise financeira mundial e, por isso, seguram os investimentos.

O governo acha, entretanto, que o risco de um cenário extremo na Europa é bem menor hoje e que, por isso, o humor estaria mudando. "Os estímulos monetários e financeiros, mesmo com atraso, não perderam eficácia", explicou uma fonte graduada.

De fato, o crédito cresceu, em agosto, a um ritmo superior ao do mês anterior. O estoque, nesse período, saltou de 50,8% para 51% do PIB. O governo acredita que a recente liberação de depósitos compulsórios, no total de R$ 30 bilhões, além de injetar liquidez no sistema (para ajudar bancos pequenos e médios), aumentará a concessão de crédito e reduzirá os spreads bancários.

"Compulsório mais baixo reduz custos dos bancos e abre espaço para mais redução dos juros", explicou uma fonte. "Curiosamente, esse é um processo [a diminuição dos spreads] que caminha mais rapidamente no momento em que a economia dá uma recuperada e o volume de negócios aumenta. Os próprios bancos ficam mais à vontade para poder reduzir spreads, porque estarão compensando no volume de negócios."

O governo cita outros aspectos que mostrariam a economia em processo de recuperação. Um deles é a redução dos estoques da indústria de transformação. Outro é o ingresso de investimento estrangeiro direto (IED). Nos 12 meses concluídos em agosto, entraram US$ 65,8 bilhões no país por essa modalidade de investimento, indicando que, apesar do baixo crescimento do PIB nacional, os investidores seguem acreditando na economia brasileira.

Outro aspecto mencionado pelas autoridades é o fato de, hoje, o país ter uma taxa de câmbio mais competitiva. Elas alegam que a volatilidade do câmbio diminuiu muito nos últimos quatro meses e que isso ajuda tanto os exportadores quanto quem produz para o mercado interno. Há uma preocupação, porém, com o efeito, sobre a cotação do real, da expansão monetária promovida pelas principais economias do planeta. Uma forte entrada de dólares provocará a valorização do real novamente.

"Não sabemos o tamanho da encrenca, mas estamos preparados para agir", disse uma fonte. O Banco Central acredita que, mesmo tendo um foco (o mercado imobiliário americano), o afrouxamento quantitativo posto em prática pelo Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, vazará para os mercados de commodities e de moeda.

A reação do governo a esse "vazamento" ocorrerá em duas frentes. Na primeira, o BC vai acelerar a compra de reservas cambiais e atuar no mercado futuro para manter a taxa de câmbio em torno de R$ 2. Se mesmo assim o real apreciar, o governo usará o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para aumentar a barreira de entrada. "Prefiro não utilizar o IOF, mas, se precisar, o faremos", disse uma fonte.

A equipe econômica trabalha, também, na elaboração de novas medidas destinadas a reduzir custos de produção. Os próximos pontos dessa agenda são a unificação da Cofins e do PIS, medida que será anunciada no fim do ano ou, no mais tardar, no início de 2013, e a unificação, em 4%, da alíquota interestadual do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços.

Além disso, o Ministério da Fazenda deve preparar novas desonerações de impostos. "Existe uma tendência em tornar permanentes as desonerações sobre bens de capital (máquinas e equipamentos)", informou um auxiliar da presidente Dilma Rousseff. Não está descartada, por exemplo, a manutenção, a partir de janeiro, do prazo reduzido (de dez para cinco anos) da depreciação acelerada de bens de capital - o benefício, a princípio, vigoraria apenas até dezembro.

O limite da concessão de novas desonerações é o resultado primário das contas públicas. Nos últimos dias, iniciou-se um debate sobre a possibilidade de redução do superávit - hoje, em torno de 3% do PIB -, desde que o espaço fiscal seja usado para diminuir a carga tributária. A medida já conta com a simpatia, inclusive, do BC, que vinha defendendo, até pouco tempo atrás com intransigência, o cumprimento da meta fiscal.