Título: Haddad tenta reconquistar zona leste
Autor: Lima, Vandson ; Giffoni, Carlos
Fonte: Valor Econômico, 01/10/2012, Política, p. A5

"Rico não precisa de prefeito nem de presidente. Quem precisa é o povo mais pobre [...] nessa semana que falta para as eleições, que a gente saia para a rua, vista a camisa, coloque a bandeira [do PT] no portão de casa. Quem tiver carro, pendura a bandeira no carro, para a gente mostrar que aqui em Cidade Tiradentes o PT nunca perdeu e o Fernando Haddad vai ganhar".

Já passava das 21h30 quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu ao pequeno palco montado ao lado do terminal de ônibus de Cidade Tiradentes, distante mais de 30 km do centro. Seu recado se dirigia não apenas aos 155.893 eleitores do bairro, mas aos três milhões de votantes que vivem na zona leste da cidade, região para a qual o PT traçou uma grande operação iniciada no fim de semana e cujo ato principal se dará hoje, em um comício no conjunto habitacional José Bonifácio, que contará com a presença da presidente Dilma Rousseff.

Quando da escolha de Haddad como candidato do partido à sucessão paulistana, no início do ano - decisão na qual a mão pesada do ex-presidente se fez notar - a ideia de que o ex-ministro da Educação tinha o perfil ideal para quebrar a resistência do eleitor de classe média em votar no PT foi vendida como trunfo pelos correligionários. Professor da USP, Haddad guardava a imagem de acadêmico moderado e distante do grupo petista enredado no mensalão. Traria votos novos que somados ao eleitor petista cativo, das franjas da cidade onde está a população mais carente, pavimentariam sua chegada ao Palácio do Anhangabaú.

O que não se esperava é que, a uma semana da eleição, o percentual de intenção de votos do petista estivesse ainda abaixo da média histórica do partido no que era considerado seu reduto. A considerar o Datafolha, apenas 19% dos eleitores da zona leste optam por Haddad - José Serra (PSDB) obtém os mesmos 19% na região e Celso Russomanno (PRB) tem 32%. O petista conta também com 19% entre os que ganham de zero a cinco salários mínimos mensais. "Gente, nós precisamos fazer uma surpresa para nós mesmos, para o PT e para São Paulo. Abrir a urna no dia 7 e estar no 2º turno, mas em1º lugar", pediu Haddad no primeiro dos dois comícios do sábado, em São Miguel Paulista.

Nos dois eventos, Haddad foi didático na tentativa de desconstruir a proposta do oponente Celso Russomanno (PRB) de criação de uma tarifa de ônibus proporcional ao trajeto percorrido, sob o argumento de que ela poderá desempregar que mora na periferia. "Essa ideia do Russomanno está totalmente errada. Na hora em que o empregador for contratar, ele tem que pagar o vale-transporte, não tem? E ele vai dar preferência para quem mora perto [do trabalho] ou longe?", afirmou.

A retórica de que o PT governa para os pobres foi uma constante, usada igualmente pelos ministros Aloízio Mercadante (Educação) e Marta Suplicy (Cultura), que também atacou a proposta do candidato do PRB. "Tomem cuidado e falem pros amigos: quem mora na periferia vai pagar uma fortuna. Sabem de onde ele tirou isso? De Washington. Lá, os ricos moram na periferia, que eles chamam de subúrbio. Então lá está certo, quem mora nos lugares que ficam mais longe, que são mais bonitos, paga mais".

Ontem, após carreata em Guaianazes, Haddad rebateu as críticas de Serra, que afirmou que o petista foi um "ministro medíocre" quando esteve à frente da Pasta de Educação. "Serra não tem expediente na educação, não conhece os números da educação em São Paulo nem no país". Haddad avaliou ainda que Alexandre Schneider (PSD), vice na chapa de Serra, foi "um dos piores secretários de educação do país" [na gestão de Gilberto Kassab, do PSD] e que não cumpriu as metas do Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] do município". Caso eleito, Haddad prometeu conseguir uma universidade federal para a zona leste de São Paulo.