Título: BNDES pode virar sócio de empresas estrangeiras
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2006, Especial, p. A14

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lançará até o final deste ano mais um instrumento para ampliar o comércio entre o Brasil e outros países: um fundo de private equity para empresas estrangeiras que queiram ser parceiras de companhias brasileiras e do próprio banco. Esta novidade - cujo foco são pequenas e médias empresas - vai se somar a uma linha de crédito voltada às importações de máquinas que não tenham similares nacionais, que já foi lançada, mas ainda não teve nenhum desembolso.

O financiamento para compra de máquinas e equipamentos importados conta com um aporte de US$ 100 milhões e pode ser feito tanto de forma direta com o BNDES como também por meio de um agente bancário. Cada operação, no entanto, será restrita a US$ 3 milhões a cada 12 meses e a dívida deverá ser paga em até cinco anos. "A idéia é pulverizar o investimento", explica Francesco Mario Sirangelo, assessor da presidência do banco.

A taxa cobrada pelo BNDES será baseada em uma cesta de moedas, mais 3% ao ano e mais o spread de risco. No caso de operação feita de forma indireta, haverá ainda a taxa do agente bancário. O banco brasileiro terá também um intercâmbio com a Sace, seguradora italiana de crédito à exportação. Ela funcionará como uma espécie de fiador das empresas italianas e, como espera Sirangelo, isso deverá reduzir o spread de risco.

Porém, na avaliação do assessor, a maior procura das empresas deve se concentrar em outro instrumento, o fundo de private equity. O BNDES poderá atuar de três formas diferentes. A que deverá ser a mais comum é a entrada do banco como sócio e controlador de uma joint venture entre uma empresa brasileira e uma estrangeira. Em um outro caso, podera ser parceiro de uma companhia de fora que queira abrir uma subsidiária no Brasil. "Isso poderá gerar mais empregos e trazer novas tecnologias ao país", diz Sirangelo.

"Só vamos aprovar projetos que não concorram com a produção local. Será uma relação ganha-ganha, boa para o Brasil e para o parceiro estrangeiro", enfatiza Luiz Fernando Furlan, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Furlan participou ontem, em Roma, na Itália, da abertura da Missão Empresarial Itália-Brasil, promovida pela Confindústria, a confederação nacional da indústria italiana, e pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg).

Além de estimular o investimento estrangeiro, o banco também quer ajudar na internacionalização das empresas brasileiras. Como o BNDES é um banco brasileiro, só lhe é permitido ser sócio de um empreendimento com sede no Brasil. Porém, nesse caso, ele poderá atuar como gestor de uma subsidiária localizada em outro país através de uma Sociedade de Propósito Específico (SPE). O fundo emprestará para essa SPE. É possível existir ainda a parceria dessa subsidiária brasileira com uma companhia estrangeira para ampliar negócios e mercados.

O desafio agora é encontrar empresas que estejam aptas a participar desse fundo. Sirangelo ressalta que esse é um tipo de negócio que exige uma seleção criteriosa - tanto sobre a estrutura da empresa como também em relação aos produtos que ela fabrica para evitar competição com as companhias nacionais. O foco principal do banco são os pequenos e médios empreendimentos, mas não serão feitas restrições aos grandes.

Amanhã, em Milão, seis entidades, três do Brasil e três da Itália, irão assinar um memorando que acenará com esforços para a criação de mecanismos de facilitação ao acesso ao crédito por pequenas e médias empresas. Do lado brasileiro participam, além do BNDES, o Banco do Brasil, que também possui uma linha para financiamento de importação de máquinas, e a Associação para a Promoção do (Apex). Pela Itália estarão a Sace, a Promos - equivalente italiana da Apex - e o banco privado San Paolo Imi.

A repórter viajou a convite da Fiesp