Título: Presidenciáveis antecipam campanha em palanques municipais
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 01/10/2012, Política, p. A10

A cada eleição para prefeito, é recorrente a eventuais candidatos ao Palácio do Planalto afirmar que eleição municipal não tem a menor influência sobre a eleição presidencial, realizada dois anos depois. O discurso agora é o mesmo, mas a prática dos que esperam romper o ano de 2015 com a faixa presidencial no peito é ainda mais evidente de candidato. A eventual indicação do PSDB, por exemplo, já mantém conversas permanentes com o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga sobre uma política econômica para o país. Isso, sem falar que Aécio já fez mais de 200 gravações para candidatos a prefeito e vereador da maioria dos municípios mineiros e de praticamente todas os Estados.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve em Salvador, no mês passado, enquanto o próprio Aécio e o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra (PE), comandaram um périplo tucano pelo Nordeste. Marina Silva, hoje sem partido, esteve em Manaus, Fortaleza, São Paulo, quase sempre para falar de seu tema predileto: meio ambiente e desenvolvimento sustentável. A presidente Dilma Rousseff terminou a semana disputada pelos petistas de Salvador e de Recife, ameaçados de perder os cargos de que dispunham. Ela também já fez mais de 200 gravações de rádio e tevê.

Não há dúvida: nos últimos anos, as campanhas presidenciais começaram mais cedo. A exemplo de 2010, a campanha presidencial de 2014 já está nas ruas. Há dois anos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disfarçava, enquanto viajava em campanha, pelo país, com a atual presidente Dilma Rousseff. Este ano, os potenciais candidatos de 2014 já nem disfarçam enquanto percorrem Estados e capitais, costurando afinidades e participando de comícios de eventuais aliados em 2014.

Na última sexta-feira, 29, o senador Aécio Neves (PSDB-MH) foi na jugular do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Ele (Lula) está, na verdade, abdicando de ser um ex-presidente de todos os brasileiros para ser um líder de facção. Não é bom para o Brasil, para ele, para sua história", atacou o tucano, modificando o estilo habitualmente moderado dos mineiros de fazer política. Mas já no sábado Aécio amenizou o tom as críticas a Lula.

Lula, ao que parece, mudou o jeito de fazer eleição presidencial. Até Fernando Henrique Cardoso, todos deixavam para os últimos dias o anúncio de que eram candidatos. Mesmo para a Prefeitura de São Paulo, por exemplo, José Serra só deixou para dizer que era candidato nos últimos dias do prazo legal - ele já fizera o mesmo em 2002, na eleição presidencial.

Atualmente, só quem parece assumir abertamente sua candidatura em 2014 é o tucano Aécio Neves, até mesmo porque é considerado o "candidato natural" do partido, algo que o PSDB não teve nas três últimas eleições perdidas para o PT. Ainda assim, Aécio trata do assunto com prudência. "Do ponto de vista prático, a disputa de 2014 só começa depois da eleição municipal", diz. "A eleição municipal talvez aponte tendências, eu não sei dizer."

Marina com Serafim Correa, em Manaus: potencial para levar a disputa de 2014 para o 2º turno preocupa Planalto

Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, é um nome em alta. Dias atrás, um amigo da direção partidária foi direto ao ponto: "Você será candidato?" Eduardo respondeu com um sorriso na pontas dos lábios, irônico. Não abriu a boca. O amigo, de longa data, não deixou por menos: "Pois se eu tivesse sua idade eu jamais perderia essa oportunidade", disse.

Aos 47 anos, Campos tem mais de uma oportunidade para se candidatar e se tornar um candidato competitivo em 2018 - o que em Brasília se chama "tática Ciro Gomes", referência à segunda candidatura do ex-governador do Ceará Ciro Gomes, cujos erros em 2002 - destempero verbal, principalmente - afastaram-no de um favoritismo que parecia evidente até o mês de agosto do ano eleitoral.

Ainda novo aos 57 anos, Ciro ainda poderia pensar na Presidência. Mas segundo os aliados e dirigentes do PSB só voltaria a concorrer a uma eleição, se fosse candidato à Presidência . Mas esta indicação, ao que tudo indica, ninguém tira do governador Eduardo Campos, se o PSB tiver candidato próprio.

Governador de Pernambuco, presidente do PSB e neto de Miguel Arraes, Eduardo também é o mais jovem dos três, integra o atual campo governista - embora com rusgas com o PT - e é permanentemente instigado pelos correligionários a concorrer já em 2014 contra a reeleição de Dilma Rousseff. A resposta é sempre aquele sorriso de Chico Buarque que tanto sucesso faz sucesso entre as mulheres.

Aécio não sabe medir a influência prática das eleições municipais nas presidenciais. Mas sabe dizer com certeza que a lógica das eleições nos municípios é local. Já do ponto de vista nacional, entende que mudou a perspectiva que se tinha há seis meses sobre a oposição. À época, dizia-se que a oposição sairia ainda mais fragilizada que nas últimas eleições. Era o cenário geral, tanto na situação como na oposição. Agora, não só o PSDB como os outros partidos de oposição começam a acreditam que não serão destruídos em 2014. Com prudência, afirmam que a oposição poderá retirar um resultado melhor do que esperava.

Ganhando ou não a eleição, feitas as contas a oposição se apercebeu de que estará participando da campanha em todas as capitais da região Nordeste, um dado que poucos têm analisado, segundo um senador do primeiro time da oposição, mas que deve ser considerado da maior importância: a começar de Salvador (BA) que é o maior colégio eleitoral do Nordeste e onde o ex-deputado Antonio Carlos Magalhães Neto, que é do Democratas, está se mostrando um candidato competitivo.

Campos, com Carlos Eduardo Alves, em Natal: candidatura é oportunidade para se tornar competitivo em 2018

"Isso é importante, independente do resultado eleitoral", dizem líderes da oposição como o deputado Sérgio Guerra (PE), presidente do PSDB. "Há um espaço que não havia, o que demonstra que existe uma razoável parcela da população está disposta a votar na oposição no principal reduto do governo: Salvador", acrescenta Aécio Neves.

A oposição disputa também em Sergipe, Recife (a prefeitura é do PT), Fortaleza (também governada pelo PT), Maceió (reduto tucano) e as pesquisas mostram que o PSB pode permanecer em João Pessoa e Teresina (PI), uma espécie de reduto tucano no Nordeste. Tanto que Lula deslocou para Lá o senador Wellington Dias. As pesquisas indicam que não fez muito efeito.

A oposição também tem chances em Belém (PA), onde está na frente segundo as pesquisas, e exultante em Manaus, onde o ex-lider no Senado Artur Virgílio, do PSDB, concorre com a ex-senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB). O problema é que nem só o PT tem o costume de atirar no próprio pé.

Com Virgílio disparado à frente das pesquisas, o governo de São Paulo resolveu ingressar com uma ação no Supremo contra a Zona Franca de Manaus. Em 2002 e 2010, não teve marqueteiro que tirasse da cabeça dos manauaras que Serra era contrário a Zona Franca. E Virgílio já começou a cair nas pesquisas. O PT parece ter aprendido melhor a lição. O aumento da gasolina só virá no dia 8, após as eleições.

No momento, o que parece preocupar mais Dilma Rousseff, a favorita à reeleição, não parece ser nem Aécio nem Eduardo Campos. O nome sobre o qual mais se fala no Palácio do Planalto é o de Marina, que disputou pelo PV em 2010 e chegou a ter cerca de 20 milhões de votos, número suficiente para jogar a eleição para um segundo turno.

Entrou definitivamente na discussão da eleição presidencial a chamada terceira via. Até bem pouco tempo, ela poderia ser Marina, na avaliação dos partidos. Ontem, ela estava em São Paulo para uma "roda de conversa" sobre "A Ideia Cujo Tempo Chegou", sobre a substentabilidade.

Hoje, fala-se já em Eduardo Campos, Aécio, Marina, Dilma. Mas ninguém perde de vista o ex-presidente Lula. O PT terá ainda muito prestígio, na análise da oposição, mas talvez tenha cometido um erro fatal, a arrogância com que entrou na disputa de 2012, certo de que se Lula não resolvesse tudo, restaria a presidente Dilma Rousseff para terminar o trabalho.

No PSDB, que deve ter a cabeça de chapa da oposição, já começou a fazer estudos nas áreas de segurança. Na agenda de Aécio se encontra a formulação de um novo pacto federativo. Mas o que ele tem feito com frequência e sigilo é conversar com o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga sobre a formulação de uma política econômica. Em resumo, o assunto dos candidatos a prefeito e vereadores é a falta de luz ou o buraco na rua. Mas seus padrinhos estão firmemente empenhados é na articulação de projetos nacionais para 2014.

E nem se falou no mensalão.