Título: Tapete vermelho
Autor: Pavini, Angelo
Fonte: Valor Econômico, 12/02/2007, Eu & Investimentos, p. D1

Os investidores endinheirados estão com a faca de prata e o caviar na mão em 2007. Eles serão disputados a tapa pelos bancos, que estão ampliando suas áreas de private bank e investindo em novas alternativas de aplicação para atrair milionários. E as opções vão aumentar. Bancos estrangeiros, como os suíços UBS e Credit Suisse, compraram recentemente instituições locais para crescer nesse mercado, enquanto novatos brasileiros - como Banco do Brasil, Sul América e Banco Fator - se mexem para ganhar um espaço nesse clube exclusivo. A concorrência mais acirrada deve ajudar a reduzir os custos desses serviços para os investidores.

Nos investimentos, o mote dos privates neste ano deve ser a diversificação, com a queda contínua dos juros incentivando a criação de aplicações sofisticadas envolvendo renda variável - em especial ações - e derivativos, de preferência com garantia de principal. Aplicações no exterior também devem ganhar espaço. A expectativa é de que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) autorize em breve os fundos de investimento a aplicar parte de sua carteira - em torno de 10% - lá fora, criando mais uma possibilidade de diversificação para investidores qualificados, caso dos clientes private.

O mercado private está crescendo a um ritmo de 10% ao ano no mundo inteiro, afirma Lywal Salles Filho, responsável pelo Itaú Private Bank. No comando do maior private brasileiro, com US$ 20 bilhões (R$ 41 bilhões) sob gestão - engrossados pela compra do BankBoston, cujas operações de Miami devem ser incorporadas neste início de ano -, Salles atribui ao crescimento das economias emergentes esse aumento dos privates. No Brasil, a criação de milionários é impulsionada pelas aberturas de capital, que deixa famílias de empresários com milhões para investir. "Só no primeiro trimestre a previsão é de 35 aberturas e isso cria uma enorme liquidez."

A tendência de queda de juros no Brasil para perto dos 11% ao ano começa a tornar interessantes as aplicações no exterior para diversificação das carteiras, afirma Salles. "Sem aquela diferença astronômica de juros, faz sentido ter uma diversificação de moedas maior", explica. Outra tendência é de mais aplicações em renda variável no Brasil e de alongamento de prazos na renda fixa. "Vamos ter clientes falando em renda fixa para quatro, cinco anos".

Para Salles, o aumento do interesse dos estrangeiros pelos clientes private brasileiros muda o perfil da concorrência. "Os bancos brasileiros têm dificuldade em se diferenciar em outra coisa que não seja preço, mas esse comportamento pode mudar com os estrangeiros", afirma. "Isso ajuda a tornar o mercado brasileiro mais maduro."

Aberturas de capital, ganhos do setor agrícola com preços das commodities e expansão da economia juntam-se à maior estabilidade do país para incentivar o crescimento do mercado brasileiro de private bank, afirma Eduardo Oliveira, responsável pela área de "wealth management" do banco UBS. O UBS lançou o serviço private local em 2004 e, no ano passado, comprou as operações do Banco Pactual, aumentando a equipe de alta renda em 60% e triplicando o volume de recursos.

Para Oliveira, novas classes de ativos, especialmente os fundos em mercados de maior risco com garantia de principal, devem ser as novas coqueluches entre os privates. A expectativa também é de um crescimento da parcela de ações nos portfólios dos clientes. "Aqui, essa fatia é de menos de 10% das aplicações, enquanto lá fora uma carteira conservadora tem 30%", diz. O setor imobiliário também atrairá os endinheirados, seja em Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI), seja em ações das empresas.

Fundos com aplicação lá fora também devem ter espaço nas carteiras private, afirma Oliveira. "Faz sentido tanto para o investidor, já que há carteiras no exterior que possuem retornos interessantes, quanto para o governo, pois aumenta procura por dólar aqui", afirma o executivo.

Também apostando na geração de milionários via ofertas públicas, o HSBC vê o cliente procurando sair do porto seguro da renda fixa para a renda variável, afirma Sylvia Coutinho, recém-promovida a diretora regional de private banking para América Latina e Caribe. "O próprio cliente procura maior diversificação em ações e em mercados de crédito, como FIDCs", afirma ela. Outro interesse será em fundos multimercados.

Sylvia vê uma tendência de maior abertura para investimentos brasileiros no exterior. "Aguardamos com ansiedade que a CVM aprove uma liberação para fundos locais terem aplicações lá fora este ano ainda, é uma diversificação saudável e nós, como banco internacional, teríamos uma vantagem competitiva grande ", explica.

No Unibanco Private Bank, a área de derivativos e notas estruturadas está sendo ampliada, afirma Celso Scaramuzza, vice-presidente responsável pelo setor. "Temos de oferecer vantagens para os clientes num momento em que taxas de juros são cada vez menores e os fundos tradicionais atendem cada vez menos os clientes mais exigentes", afirma ele. Entre as opções estão também os fundos de participações, ou private equity, que compram empresas fechadas para reestruturá-las e vendê-las depois de cinco ou dez anos.

Scaramuzza vê a concorrência crescendo no segmento private, mas destaca a vantagem dos bancos locais. "Temos uma posição sólida e a rede de agências nos dá uma capilaridade que outros bancos não têm, além de 85 anos no país e 20 de private". Ele não vê porém, espaço para grandes quedas de taxas de administração para esses clientes, que hoje pagam em média 0,5% ao ano.

O mercado de capitais brasileiro está mais robusto, o que permite a criação de aplicações estruturadas, afirma Maria Aparecida Rocha, diretora responsável pelo private do Bradesco. Para ela, a necessidade de correr mais risco aumenta a demanda pelos serviços de orientação dos privates. Maria Aparecida espera também maior interesse por fundos de previdência privada, os PGBLs e VGBLs, para planejamento tributário e sucessório.

Sobre a concorrência, ela acredita que pode haver pressão nas taxas cobradas pelos bancos, mas que, à medida que o cliente comparar os serviços, ele tende a preferir os nacionais. "Ele não quer correr o risco de um dia ser deixado falando sozinho aqui".

Os fundos multimercados continuarão bastante atrativos para os investidores private, afirma Leo Figueiredo, responsável pelo private bank da Hedging-Griffo, que este ano assumirá todo o serviço local de alta renda do Credit Suisse. "O problema será que muitos gestores estarão no seu limite de captação e não haverá tantas opções para o investidor", explica.