Título: Farmácias imitam supermercados e lançam produtos com marca própria
Autor: Jungerfeld, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 12/02/2007, Empregos, p. B1

As redes de farmácias decidiram pegar carona na tendência já em voga nos supermercados: a de ofertar marca própria a um preço competitivo, às vezes até 30% mais barato que as marcas tradicionais. De Norte a Sul do país, pipocam investimentos nesse negócio. Quem já entrou no setor está ampliando o portfólio e as que pretendem estrear começam a desenhar seus lançamentos.

Em comum, as redes que aderiram à nova onda vêem como principal atrativo a possibilidade de garantir a fidelidade do freguês. E mais que isto: a oportunidade de "fisgar" novos consumidores oferecendo produtos de baixo custo, em especial os de perfumaria.

A maioria das farmácias terceiriza a produção com pequenos e médios fabricantes. Numa inciativa mais arrojada, porém, está a baiana Fórmula. A rede de farmácia de manipulação construiu no ano passado uma fábrica, em Lauro Freitas, na região metropolitana de Salvador, para fazer seus próprios produtos. É de lá que já saem 22 itens, número que subirá para 55 quando a unidade estiver operando a plena capacidade.

A iniciativa deu certo e abriu nova frente de negócios: a empresa vai desenvolver produtos para vender em farmácias que não fazem parte da rede. Edza Brasil, sócia diretora da Fórmula, ainda mantém sigilo sobre o lançamento, mas garante que ele deverá ficar pronto em dois meses. "Vamos oferecê-lo, inicialmente, para redes com as quais já temos algum vínculo comercial."

Outra nordestina, a cearense Pague Menos, pretende estrear no segmento de marca própria no segundo semestre deste ano. A idéia é colocar nas prateleiras itens como fio dental, escovas de dentes, artigos de primeiros socorros, além de termômetros, aparelhos para medir pressão e balanças.

Patriciana Rodrigues, diretora de compras da Pague Menos, diz que o lançamento da marca própria será o foco da empresa em 2007. Criada em 1981 e com faturamento de R$ 1,3 bilhão no ano passado, a rede chegou a fazer alguns projetos-piloto, lançando, há cerca de cinco anos, produtos populares como gaze.

Mas o projeto ficou paralisado porque a empresa preferiu dedicar seu foco na expansão da rede para outras praças. Apenas em 2006, abriu 12 lojas e aterrissou no Espírito Santo e em Goiás. No ano anterior, havia chegado em Estados bem distantes da sua matriz como Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Agora, com uma rede nacional, a Pague Menos, segundo Patriciana, ganhou escala. Esse ganho ajuda na negociação com o fornecedor industrial para que o custo de novos produtos que serão oferecidos seja mais baixo. Os produtos marca própria são terceirizados.

Focada nas classes C e D, a rede de farmácias Sesi, do Rio Grande do Sul, estuda ampliar sua linha. Edson Lisboa, superintendente da empresa, diz que a idéia é entrar em outras categorias como as de produtos de uso diário, por exemplo, sabonetes. A previsão é lançar cerca de 10 novos itens no segundo semestre do ano. Há dois anos, a Sesi tinha 24 produtos, dentre os quais absorventes, algodão, fraldas e termômetros. Hoje representam cerca de 2% do faturamento da empresa.

As marcas próprias, em geral, causam um desconforto inicial nos fornecedores tradicionais, que há anos distribuem artigos de perfumaria nessas redes. Até porque, produto de marca própria "puxa" o preço para baixo e, de alguma maneira, pode "roubar" a posição do líder nas gôndolas.

Para Nelson de Paula, da rede Drogão, mais do que preço, as marcas próprias criam uma área de oportunidades. "Não se trata de concorrer com os nossos fornecedores, mas de abrir uma alternativa de preços para o consumidor", diz. "Isso gera um relacionamento", acrescenta.

Além de explorar a "etiqueta" Drogão para produtos básicos, como algodão e gaze, a rede criou duas marcas para entrar em nichos mais específicos, como o segmento de cosméticos. A linha de artigos para cabelos foi batizada de Intent, que tem xampus, cremes e será complementada com acessórios, como touca plástica para cabelos. Mercadorias para o tratamento do corpo recebeu o nome de Skeen.

A rede Wal-Mart se beneficia da força nos Estados Unidos e de sua operação global, com presença em 15 países, para trazer ao Brasil produtos de marca própria a preços competitivos, que vende tanto em seus supermercados quanto nas suas 114 farmácias. Mas os importados não representam a maior parte da linha. A rede conta com 80% dos fornecedores no Brasil.

Para batizar os produtos, a empresa adotou a marca internacional Equate, que já usa em outros mercados. As vendas dessa linha no Brasil cresceram 30% no último ano. "Queremos intensificar os lançamentos e entrar no ramo de fraldas infantis, categoria que cresce e tem muita visibilidade", diz Claudio Irie, diretor da área no Wal-Mart.