Título: Coteminas importa seis fábricas dos EUA
Autor: Gómez, Natalia
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2006, Empresas, p. B6

Enquanto negocia sua entrada na Ásia, a Springs Global, nascida da união da Coteminas com a americana Springs, começa a redistribuição geográfica de sua área produtiva nos EUA e Brasil. Esta era uma das primeiras mudanças previstas após a fusão, anunciada em janeiro, que criou uma gigante em artigos de cama e banho com receita anual de US$ 2,4 bilhões.

Até o primeiro trimestre de 2007, o grupo trará ao Brasil seis fábricas desmontadas dos Estados Unidos (duas da Geórgia, uma da Carolina do Norte e três da Carolina do Sul) para reduzir seus custos fixos, segundo Josué Christiano Gomes da Silva, presidente da Coteminas. A brasileira controla 50% do capital da Springs Global. Os custos de produção no Brasil são mais competitivos que nos EUA.

Quatro fábricas já existentes no Brasil serão beneficiadas com o maquinário importado das unidades americanas: Natal (RN), Blumenau (SC), João Pessoa e Campina Grande, na Paraíba. Esta última vai iniciar a produção de tecidos planos em março. A unidade argentina, em Santiago Del Estero, também receberá parte dos equipamentos até o final do primeiro semestre do próximo ano e passará a agregar a fase de confecção, além das áreas de fiação e tecelagem, em que já atua.

Está prevista a criação de 3 mil empregos diretos nos dois países após a mudança, que custará até US$ 60 milhões. Hoje, emprega 12 mil funcionários no Brasil.

Com isso, as exportações a partir destes países terão um incremento de US$ 150 milhões, chegando a US$ 400 milhões em 2007. Apesar da situação desfavorável devido ao câmbio valorizado, Gomes da Silva afirma que este ciclo é temporário e que decisões de investimento não levam em conta o cenário de curto prazo. Segundo ele, o maior volume das vendas externas será destinado para a America do Norte, mas no futuro o objetivo é ampliar as vendas para a Europa.

"Temos 7% do mercado mundial de cama e banho mas nossa participação está muito concentrada nas Américas", explica. O objetivo do grupo é ampliar sua participação de mercado para 14% nos próximos dez anos.

Na Europa, a empresa tem uma parceria com a portuguesa Coelima, companhia com receita anual de 75 milhões de euros, que distribui seus produtos na região e faz um intercâmbio na área de desenvolvimento de produtos. "Hoje não temos capacidade para ampliar as vendas para os europeus, mas o aumento das fábricas no Brasil abre espaço para isso", afirma.

Na estratégia do grupo, o próximo passo é a entrada na Ásia, onde quer montar uma base de produção para atuar mundialmente. A companhia quer montar sua primeira unidade na China em até 12 meses. O investimento, que pode chegar a US$ 100 milhões, deve ser feito por meio de uma joint-venture com uma empresa local.

Gomes da Silva explica que apesar da aparente diferença cultural entre brasileiros e chineses, as negociações estão correndo de forma tranqüila, porque os chineses têm muitas semelhanças com os mineiros. "Assim como nós, os chineses ouvem muito, falam pouco e levam muito tempo para tomar uma decisão. Mas assim que a decisão é tomada, eles a concretizam muito rapidamente", afirma. Se as negociações não forem adiante, a empresa está disposta a fazer o investimento sozinha. Além do crescente mercado chinês, a empresa está interessada no potencial dos mercados no Japão e na Coréia do Sul.

Hoje, a Springs Global tem um escritório em Xangai, que pertencia à Springs. Uma segunda fábrica está prevista para o outro ano, possivelmente também na China. Além de aumento do consumo local, a maior vantagem do país são seus custos competitivos.

Para facilitar o intercâmbio das áreas administrativas da Coteminas e da Springs, a Springs Global criou um centro de compartilhamento de serviços em Campina Grande com 50 pessoas, mas a equipe deve chegar a 200. No Brasil, o desempenho do mercado está aquém das expectativas da empresa. "A indústria de vestuário cresce, mas enfrenta a concorrência cada vez mais forte dos produtos asiáticos", diz Gomes da Silva.

Mesmo com a transferência de seis fábricas americanas para o Brasil, os Estados Unidos vão manter dez fábricas ativas. Outras duas operam no México.