Título: Vale deve fechar hoje aquisição da Inco
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2006, Empresas, p. B7

A Vale do Rio Doce deve anunciar hoje a maior aquisição já feita por uma companhia brasileira no exterior. Dois meses e meio após fazer uma oferta ousada de US$ 17,7 bilhões, à vista, pela canadense Inco, derrotando dois fortes rivais - a canadense Teck Cominco e a americana Phelps Dodge - , a mineradora brasileira chega hoje ao desfecho do negócio. O prazo para adesão dos acionistas da Inco encerrou-se ontem, à meia-noite.

Com a compra da produtora de níquel canadense, a Vale dá um grande passo no setor de mineração e metais, podendo se transformar na segunda maior companhia de mineração diversificada do mundo, atrás apenas da gigante anglo-australiana BHP Billiton. A brasileira deve superar em valor de mercado gigantes do porte da Rio Tinto, Anglo American, Xstrata e Alcoa. Somados o valor de mercado das duas empresas, Vale e Inco - ontem (US$ 56 bilhões e US$ 16,3 bilhões, respectivamente), atinge US$ 72,3 bilhões. Beira o de BHP Billiton: US$ 73,8 bilhões.

A expectativa favorável do mercado em relação a operação levou os papéis da Vale a fechar em alta. Em Nova York, o ADR ON encerrou o dia a US$ 24,28 e o ADR PN em US$ 20,82, alta de 1,36%. Na Bovespa, a ação ON subiu para R$ 51,99 e a PNA para R$ 44,50. A ação da Inco, na Bolsa de Toronto, fechou em 85,87 dólares canadenses, em nível estável e abaixo dos 86 dólares canadenses ofertados pela Vale.

Considerada uma transação "excepcional" pelos analistas de mineração, a incorporação da Inco pela Vale poderá elevar mais ainda o valor dos papéis da companhia nos próximos meses. O fato da brasileira ter se comprometido com o governo canadense em manter as operações de níquel estabilizadas no Canadá, criando uma subsidiária integral, a CVRD Inco, baseada em Toronto foi bem recebido.

Depois da aquisição da Falconbridge pela Xstrata e da Inco pela Vale, a tendência do mercado de níquel é de se consolidar cada vez mais, avalia um especialista.

Rumores no mercado davam conta de que a Xstrata, depois de comprar a canadense Falconbridge, teria ensaiado um assédio à russa Norilsk, uma das maiores produtoras de níquel do mundo. Em recente entrevista, em Nova York, o presidente da Vale, Roger Agnelli, indagado sobre o fôlego da companhia para novas incursões no mercado de fusões e aquisições, após a compra da Inco, respondeu que a Vale vai ter alguns meses pela frente para digerir a aquisição da canadense, mas não sinaliza que esta compra poderá ser a única da companhia.

"Temos que acumular um pouco mais de gordura para pensar em algo maior. Estamos aguardando o término dessa aquisição; se formos bem sucedidos, a Vale ganha força. Tudo correndo bem e fazendo nosso dever de casa bem feito, a gente consegue depois avaliar outras coisas".

Para Agnelli, o mercado de fusões e aquisições, não só na área de mineração, vive hoje "um momento de extrema excitação". Ele contou que a Vale está há mais de um ano neste processo de decisão e ao se decidir pela Inco, resolveu fazer uma "proposta forte" pela empresa, de quase US$ 18 bilhões. De 2000 a 2006, a mineradora desembolsou um terço desse valor - US$ 5,6 bilhões - em aquisições.