Título: Na arredia zona leste, Haddad é expulso de loja
Autor: Klein , Cristian
Fonte: Valor Econômico, 26/09/2012, Política, p. A8

Se a [ex-prefeita] Marta [Suplicy] não tivesse criado aquela taxa do lixo, o PT estaria até hoje na prefeitura de São Paulo. Era pouca coisa, mas os outros partidos fizeram uma lavagem cerebral na população". Morador do Itaim Paulista, na zona leste, é assim que Genival Pereira, 41 anos, dava sua explicação ontem à tarde para as dificuldades enfrentadas por seu candidato a prefeito.

Fernando Haddad (PT) fazia uma caminhada pelo comércio local, onde chegou a ser expulso de uma loja. Era a tentativa de reconquistar a periferia, reduto petista que se mostra arredio e se volta para o líder das pesquisas, Celso Russomanno (PRB).

Haddad diz confiar no horário eleitoral para ultrapassar o tucano José Serra e chegar ao segundo turno. "Estamos na reta final, mas 38% dos eleitores ainda não assistiram a nenhum programa eleitoral na TV", afirmou o candidato.

Momentos antes, o ex-ministro da Educação cumprimentara Genival Pereira, que lhe pedira, caso eleito, o compromisso de legalizar o trabalho dos ambulantes na região. Genival abomina a proibição feita pelo prefeito Gilberto Kassab (PSD).

"Como diz o ditado, filho não pede para nascer e tem que ser alimentado. Um ou outro pode estar errado, mas a maioria é pai de família, tem que marretar, sobreviver. E as empresas não empregam gente com mais de 40, 45 anos. Agora é só até 35 anos"", afirmava o morador.

Genival Pereira não é camelô, nem está desempregado. Mas aprendeu a fazer sorvete de massa no negócio do cunhado, cuja clientela em boa parte era formada pelos ambulantes do bairro. Antes, Genival trabalhou por sete anos como operador de máquina numa fábrica da Itautec, no Tatuapé, e em outra dos biscoitos Tostines, da Nestlé, por quatro anos, no bairro Pari, também na zona leste. Ambas unidades foram fechadas e a produção transferida para Jundiaí e Marília, no interior. "Elas foram embora por causa da redução de impostos nestas cidades", diz Genival, com ensino médio e pai de uma adolescente de 12 anos.

Haddad - mais desenvolto do que no começo da campanha, quando chamou o Itaim Paulista pelo nome do bem mais abastado bairro do Itaim Bibi - deu atenção ao pedido. "Eu já fui lojista e o ambulante tem fama de atrapalhar o negócio formal. Mas vamos cuidar desse problema", disse o petista, ao lembrar da época em que trabalhava na loja do pai, na rua 25 de Março, no Centro.

Genival argumenta que os próprios comerciantes saíram prejudicados com a proibição de Kassab. "Os lojistas estão sentindo. Os camelôs chamam o movimento e as ruas estão mais vazias", afirmou o eleitor, confiante de que o ex-presidente Lula, padrinho político de Haddad, será o candidato do PT ao governo do Estado, em 2014.

De fato, nem todo o comércio do Itaim Paulista está contente, seja com Kassab ou com os políticos de uma forma geral. Depois de entrar numa sapataria, Haddad foi expulso por uma das funcionárias, que gritava, ao fundo: "Não pode! Para ganhar voto, vem. Depois não faz nada", reclamava a atendente da Varral Calçados. Sem dizer o nome, afirmou que votará em branco. Na Becker, concorrente ao lado, Haddad foi recebido com beijos e abraços.

O petista chegou a interromper a aula em duas turmas para se deixar fotografar com crianças na Escola de Educação Infantil Fundamental Kids. Logo em seguida, concedeu entrevista e discursou ao microfone. Disse que a campanha ainda está uma "mornidão"; criticou Serra - por ter a saúde como prioridade há oito anos, sem melhorá-la - e Russomanno, pelas ideias sobre transporte, pela falta de apoio político e de propostas. "É um simulacro de programa de governo. Fiquem atentos, porque o que parece bom, nem sempre é bom", afirmou Haddad. O petista, mais uma vez, foi acompanhado pelo candidato a vereador do PP, Marcelo Frisoni, marido da apresentadora de TV, Ana Maria Braga.