Título: Energias do Brasil tenta liberar projetos
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2006, Empresas, p. B8

António Martins da Costa, presidente da Energias do Brasil, grupo que é controlado pela portuguesa EDP, tem mantido contatos freqüentes com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Motivo: a companhia tem dois projetos de usinas hidrelétricas que foram bloqueados pelo órgão.

Os empreendimentos, que estão localizados no Estado do Tocantins, têm capacidade conjunta para gerar 630 megawatts (MW) de energia, o que demandaria investimentos ao redor de US$ 630 milhões. "Nossas estimativas dizem que um MW custaria ao redor de US$ 1 milhão", afirma o executivo.

Batizadas como Couto Magalhães e Ipueiras, essas duas hidrelétricas da companhia tiveram seus projetos preparados entre 2001e 2002. E a princípio contam com um parceiro brasileiro, o grupo Rede, controlador, por exemplo, da Cia. de Energia Elétrica de Tocantins (Celtins), a distribuidora do insumo no estado.

O executivo explica que, Ipueiras, o maior dos dois empreendimentos, porque tem capacidade de 480 MW, não conseguiu licença prévia do Ibama. Isso, porque o órgão entendeu que a área a ser inundada era excessiva para potência instalada da usina. Já em Couto Magalhães, cuja capacidade é de 150 MW, a discussão se deu sobre o estudo de impacto ambiental.

"Na usina menor, tivemos a concessão da licença ambiental, mas resolvemos devolvê-la de forma não-oficial, fruto desse impasse. Mas repito que mantemos o interesse nesses dois empreendimentos", afirma Costa.

Carlos Nunes, analista de Energia da corretora SLW, afirma que qualquer projeto de geração de energia interessa ao país neste momento, principalmente porque a partir de 2009 algumas térmicas provavelmente precisarão ser acionadas e a questão do gás estará no centro da discussão. Além disso, o analista afirma que a Energias do Brasil tem sim condições de se alavancar e viabilizar novos empreendimentos. "Depois que o grupo finalizou, por exemplo, a usina de Peixe Angical, o mercado aguarda o seu próximo passo", diz Nunes.

Dos dois empreendimentos, Ipueiras, na verdade, ainda é um projeto. Não há, por exemplo, definição quanto à participação de Energias do Brasil e grupo Rede no seu formato. Mesmo porque, explica Costa, a usina nem chegou a ir à leilão.

No entanto, em Couto Magalhães, a situação é um pouco diferente. Neste caso, as participações entre os grupos, segundo o executivo, estão mais claras: Rede, com 51% e Energias, com 49%.

Mesmo não detalhando a freqüência dos contatos que sua equipe tem mantido com o Ibama, o presidente da Energias do Brasil acredita em uma solução. Para ele está claro que o país vai necessitar de energia nova em um futuro próximo.

Os próprios dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), companhia do Ministério das Minas e Energia, mostram que o ideal seria que entrassem em operação 3 mil MW anualmente no sistema. Tanto que a EPE estima investimentos de R$ 115 bilhões para os próximos dez anos, sendo R$ 75 bilhões em geração e o restante em linhas de transmissão.

A Energias do Brasil tem investido bastante no país. Tanto que nos últimos três anos, a companhia aplicou R$ 2,5 bilhões. E tudo para que pudesse dobrar sua geração de energia no Brasil. Ao final deste ano, a empresa espera atingir uma geração de 1,043 mil MW, contra os 516 MW do ano passado. Atualmente, ela já passa dos 1 mil MW.

Com uma receita líquida de R$ 4,3 bilhões no ano passado, o que significou um incremento de 17,1% sobre o desempenho de 2004, a empresa já informou que está disposta a dobrar novamente sua capacidade de geração.

A controlada do grupo português já deixou claro que pretende elevar sua capacidade de geração nos próximos quatro anos. E para isso promete não economizar. Só de recursos próprios estaria disposta a aplicar algo como R$ 1 bilhão nesses anos.