Título: Migração para novo patamar tecnológico divide os fabricantes de equipamentos
Autor: Magalhães, Heloisa
Fonte: Valor Econômico, 12/02/2007, Empresas, p. B3

A licitação de freqüências para a chamada terceira geração (3G) é um assunto polêmico entre os fabricantes da área de telefonia celular. Enquanto alguns são favoráveis à adoção da tecnologia, outros acreditam que o Brasil deve saltar para o que caracterizam como a quarta geração. A saída seria partir logo para o padrão WiMax, a banda larga sem fio.

Enrique Ussher, presidente da Motorola, avalia que "há países da América Latina que não vão implementar a 3G e partir para o WiMax móvel". Ele lembra que um dos maiores desafios da indústria de telefonia celular é o de continuar crescendo. Segundo o executivo, o WiMax é de menor custo e maior abrangência, com potencial para levar o serviço para o usuário de menor poder aquisitivo, pois é voltado para "a realidade dos mercados emergentes".

O WiMax móvel ainda não está disponível, mas a tecnologia já é apontada por operadoras como a solução adequada para municípios de menor renda. Apesar das supostas vantagens do WiMax, não se pode dizer que há um consenso sobre a questão entre os fabricantes.

Oswaldo Mello, diretor da área de telecomunicações da Samsung, diz que o assunto precisa ser mais bem discutido. "O tema exige uma discussão densa. Precisa ser bem avaliada a relação entre investimento e retorno. Tenho ouvido as operadoras e compartilho que há muita coisa ainda para fazer para explorar a capacidade da prestação de serviço que existe hoje", diz.

No congresso WiMax World, realizado em outubro, em Boston, Klaus Kohrt, o vice-presidente de relações com o governo da Siemens, afirmou que a banda larga sem fio "vai complementar e não canibalizar a 3G ". E avisou: "Não subestimem o poder da terceira geração."

Silvio Stagni, vice-presidente da Sony Ericsson, diz que a Motorola e a Samsung já entendem o WiMax como 4G . Mas frisa que, de acordo com a nomenclatura da Associação GSM, o novo patamar tecnológico é a evolução da 3G em celular e não o WiMax. A 3G já está implantada em vários países, com 100 milhões de usuários na Europa.

"É a volta de uma discussão no gênero das que já aconteceram no passado, como a disputa entre TDMA e CDMA", diz, referindo-se às pressões em torno do padrão a ser adotado quando o país estava entrando na telefonia celular. "A diferença é que, ao contrário do WiMax, a telefonia celular de terceira geração está implantada em 150 países. A 3G está aprovada, funcionando com produto disponível e começa a ter escala. O WiMax promete uma velocidade de dados maior, mas não está pronto. A expectativa é de que 2007 seja o ano do WiMax fixo. Já o móvel só chega em 2008. Vai chegar três anos após a 3G. Outro ponto é que ainda não há certeza de que o WiMax funcionará em grandes áreas", avalia.

Stagni levanta outro ponto polêmico. Lembra que a Anatel ainda vai realizar o leilão de freqüências para a 3G, mas entende que as prestadoras que já têm a faixa de freqüência para a instalação do serviço não precisam disputar a licença. "A 3G é uma evolução do GSM. Nada impede as operadoras de implantá-la na faixa que já têm", afirma. (HM)