Título: Operadoras pavimentam caminho para banda larga
Autor: Magalhães, Heloisa
Fonte: Valor Econômico, 12/02/2007, Empresas, p. B3

A operadora de telefonia celular TIM Brasil avalia a possibilidade de adquirir licenças para uso do WiMax, padrão de banda larga sem fio. Mario Cesar Pereira de Araujo, presidente da empresa, afirmou ao Valor que a TIM tem interesse na disputa de licenças de 3,5 gigahertz (GHz) e de 10,5 GHz, adequadas a essa tecnologia. A Anatel promoveu um leilão dessas freqüências no ano passado, mas o processo foi suspenso pelo Tribunal de Contas da União e por liminares na Justiça.

No WiMax, o cliente tem acesso à internet em alta velocidade sem precisar de uma conexão com fio. A versão atualmente disponível da tecnologia não permite ao usuário se deslocar enquanto usa o serviço. Mas os fabricantes de equipamentos prometem para este ano - ou, no máximo, 2008 - uma evolução que permitirá a mobilidade.

Segundo o presidente da TIM, o pulo do gato para assegurar um lugar no futuro é dar aos clientes opções de acesso à banda larga, independentemente da infra-estrutura utilizada. Hoje, a única maneira de chegar à residência do cliente, considerado um ponto essencial para os negócios, é por meio da infra-estrutura fixa. O WiMax, no entanto, firma-se como uma alternativa viável. "Qual é a forma de oferecer banda larga ao assinante com a mesma facilidade de quando ele está no escritório, no hotel ou no aeroporto? É o WiMax", diz Araujo.

Isso não significa desinteresse da operadora na terceira geração da telefonia celular (3G), que permite a oferta de banda larga móvel. "Vamos analisar todas as hipóteses", diz Araujo, quando indagado se a TIM também irá disputar essas licenças.

Para alguns especialistas em telecomunicações, embora continuem em expansão, as empresas de telefonia móvel já não podem mais ser consideradas ilhas de prosperidade em comparação com as teles fixas, que enfrentam a estagnação de seu serviço principal. Sob essa avaliação, o modelo de negócios mais promissor prevê a combinação das vantagens da mobilidade com as da banda larga fixa, que por ora possibilita conexões de maior velocidade.

Como o espectro de radiofreqüências é um bem escasso e valioso, o objetivo de grande parte das operadoras é investir em vários tipos de licenças, como WiMax e 3G. Cada grupo tem sua estratégia. A Brasil Telecom (BrT), que já tem operações de telefonia fixa e celular, planeja fazer testes com o WiMax móvel em Porto Alegre e Curitiba ainda neste semestre. Por meio da Vant, uma empresa adquirida em 2004, a BrT já tem licenças de WiMax de 3,5 GHz e de 10,5 GHz nesses municípios e em outras 15 áreas. A operadora pretende tornar-se uma das primeiras teles no mundo a adotar o WiMax móvel.

Apesar de já deter essas licenças de WiMax, a BrT está ao lado da Telemar e da Telefônica na briga para ter o direito de disputar o leilão de novas licenças, que foi suspenso. O edital lançado pela Anatel impede que as concessionárias obtenham freqüências em suas respectivas áreas de concessão, para estimular a chegada de novos competidores. As teles, porém, obtiveram uma liminar que lhes garante o direito de participar do leilão. Até agora, a Anatel não conseguiu derrubar a liminar.

O grupo mexicano Telmex/América Móvil até agora parece ter optado por uma estratégia global de ação. Em setembro do ano passado, João Cox, presidente da Claro, controlada pela América Móvil, afirmou que a operadora não estava interessada nas licenças de WiMax. Na ocasião, disse que a empresa não havia detectado demanda dos clientes pela tecnologia.

Procurada pelo Valor para esta reportagem, a Claro divulgou nota segundo a qual "acompanha as alterações tecnológicas de acordo com o mercado e as licitações da Anatel". No comunicado, a empresa afirmou que as redes de WiMax móvel ainda não estão em uso comercial, ao passo que as de celular 3G são uma realidade no mundo todo. "É preciso agregar a visão do usuário brasileiro e entender qual será o mercado da banda larga móvel de altíssima velocidade em nosso país."

Apesar disso, a Claro está indiretamente ligada ao mesmo grupo de controle da Embratel (Telmex), que já detém algumas licenças de WiMax e testa a banda larga sem fio. Tanto a América Móvil como a Telmex têm como principal acionista o mexicano Carlos Slim Helú.

A Vivo prefere não comentar o assunto. Segundo fontes ligadas à empresa, as tecnologias de telefonia móvel de terceira geração são suficientes, por enquanto, para suprir a demanda de seus clientes. A operadora está concluindo um investimento de R$ 1,08 bilhão para implantar uma rede GSM paralela à infra-estrutura atual, no padrão CDMA. Com isso, pretende estancar a perda de participação no mercado e pavimentar o terreno para adotar uma rede 3G na tecnologia UMTS.

A Telemar/Oi, que opera telefonia fixa e celular, está declaradamente interessada nas licenças de WiMax. No caso da 3G, não é de hoje que a empresa questiona se é o momento certo para lançar a concorrência, sob o argumento de que os investimentos feitos nas redes de celular ainda não foram amortizados. Executivos da Telemar avaliam que a tecnologia beneficiaria um público reduzido e dizem que ainda não está claro se a 3G se sustentaria com a implantação do WiMax, já que eles as consideram tecnologias concorrentes.

(Com Talita Moreira, de São Paulo)