Título: Pesquisas confundem eleitores na Venezuela
Autor: Murakawa , Fabio
Fonte: Valor Econômico, 26/09/2012, Internacional, p. A11

A menos de duas semanas da eleição, os venezuelanos têm uma ideia muito vaga sobre quem está à frente da corrida presidencial. O clima de incerteza é alimentado pelos institutos de pesquisa, que apontam resultados muito diferentes entre si sobre a disputa entre o presidente Hugo Chávez e seu oponente, o candidato único da oposição, Henrique Capriles.

Ontem, o instituto Datanálisis divulgou sua mais recente pesquisa, pela qual Chávez tem 49,4% das intenções de voto, contra 39% de Capriles, com 11% de indecisos. A vantagem do presidente, segundo o instituto, caiu cinco pontos percentuais desde junho, quando o placar era de 46,1% a 30,8%.

Outros institutos, no entanto, exibem resultados bem distintos. O Gis XXI aponta três cenários, que variam de acordo com o comparecimento às urnas (na Venezuela o voto não é obrigatório), mas sempre com vitória de Chávez: 60% a 40%, 56,5% a 43,5% e 54,6% a 45,4%. Na mesma linha, o Ivad dá vitória do presidente por 50,3% a 32,2%.

Mas ao menos outras duas empresas indicam disputa parelha, com empate técnico. O instituto Varianzas vê Chávez à frente, com 49,7% a 47,7%. Já o Consultores 21 vê Capriles à frente: 48,1% a 47,2%.

"Efetivamente, diante de tantas pesquisas e tão diferentes resultados, cria-se um clima de confusão", diz Héctor Briceño, professor do Centro de Estudos de Desenvolvimento da Universidade Central da Venezuela (UCV). "Mesmo empresas de tradição, que acertaram o resultado de votações anteriores, apresentam números distintos."

A confusão se reflete nas ruas, onde pela primeira vez desde que Chávez assumiu, em 1999, cogita-se uma derrota nas urnas do antes imbatível líder da "Revolução Bolivariana". Chavistas convictos mostram incerteza sobre o futuro do presidente. Alguns, que sempre votaram nele, deixam escapar um certo cansaço com o estilo autoritário do presidente. "Ele é uma boa pessoa, ajudou os pobres, mas com as expropriações que ele fez e a má gestão da PDVSA [estatal de petróleo], o país não foi para a frente", diz um taxista, que pretende votar pela primeira vez na oposição.

Eleitores da oposição no bairro de Altamira, centro de negócios e área da classe média alta de Caracas, já dão a vitória de Capriles como certa. E rotulam institutos como o Datanálisis - que, apesar de muito respeitado, carrega um certo viés opositor em suas análises políticas e econômicas - como "chavistas", simplesmente por indicar que o presidente lidera.

Na primeira quinzena de setembro, o Bank of America fez um exercício interessante. Em relatório a investidores, o analista Francisco Rodriguez calculou qual seria o resultado mais próximo da realidade, levando-se em conta os resultados de sete pesquisas de agosto e descontando-se o viés de cada instituto. O resultado foi uma vantagem de 15,9% para Chávez.

De lá para cá, Capriles vem ganhando terreno em todas as pesquisa. Ao apresentar seus resultados ontem, Luis Vicente León, diretor do Datanálisis, disse que a campanha de Chávez foi muito prejudicada pela doença do presidente, um câncer que ele diz ter sido curado, mas que fez diminuir suas aparições públicas. "Ninguém pode se dar ao luxo de aparecer e desaparecer durante uma campanha presidencial", disse ele. "Enquanto isso, Capriles fez uma campanha hiperativa e surpreendente. Isso explica o seu crescimento."

Para Briceño, da UCV, a ascensão de Capriles torna a tarefa dos institutos mais difícil. "Eu não me atreveria a arriscar um vencedor."