Título: Juros têm quarta queda e real cai com aversão a risco no exterior
Autor: Oliveira , João José
Fonte: Valor Econômico, 26/09/2012, Finanças, p. C2

Os juros projetados pelos investidores na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) caíram pela quarta sessão seguida. A aversão ao risco dominou o dia nos Estados Unidos, derrubando o rendimento dos títulos do governo americano e, por tabela, o custo do dinheiro no mercado local.

O contrato de juros com vencimento em janeiro de 2013 (DI janeiro/2013) recuou para 7,26% ante 7,28% ontem após ajuste. E a quantidade de contratos abertos na BM&F aumentou, mostrando maior apetite do investidor para assumir riscos. Nesse movimento, duas apostas ganharam força alimentadas pela visão de que a crise externa vai se prolongar, mantendo o viés desinflacionário no radar do Banco Central.

Uma aposta é a de quem projeta mais um e derradeiro corte da Selic, levando a taxa básica dos atuais 7,5% para 7,25%, após o encontro do Comitê de Política Monetária dias 9 e 10 de outubro. Outra corrente que ganhou terreno é dos que esperam a manutenção dessa Selic em 2013, descartando um aperto monetário quando a economia voltar a crescer 4% ou mais ao ano. Nos dois casos há ainda um grupo relevante que espera um ajuste para cima da taxa básica em 2013.

Outro mercado que sinalizou prêmios menores demandados pelos investidores foi o de títulos públicos. No leilão de Notas do Tesouro Nacional Série B (NTN-B, papéis indexados ao IPCA), as taxas recuaram. Os papéis com vencimento em 2022 pagaram 3,86% ante 4% no leilão anterior.

O mercado de câmbio passou quase todo o dia perto da estabilidade, sem grandes oscilações, acelerando o ritmo nos últimos quinze minutos. A movimentação garantiu alta de 0,25% no dia e a maior cotação de fechamento para o dólar desde 5 de setembro, a R$ 2,031. A variação acompanhou os ganhos da moeda americana no exterior, provocados pelo aumento da aversão a risco.

"O que chama a atenção é o câmbio ter efetivamente mexido", disse Sergio Machado, gestor da Vetorial Asset. "No fim, o pessoal ficou mais corajoso e forçou preço para ganhar algo. Foi bem intramercado mesmo, e até previsível."

Os números de fluxo cambial apresentados ontem pelo BC revelaram a entrada de US$ 187 milhões no país na semana passada. Indicou, também, queda no ritmo do fluxo, que havia registrado saldo positivo de US$ 1,035 bilhão na semana anterior.

A entrada maior que a saída de recursos no mercado brasileiro tem sido identificada por operadores. Para eles, entretanto, esse fluxo não está relacionado às novas medidas de estímulo anunciadas pelo Fed há duas semanas.

"O dinheiro do QE3 não foi para o mercado ainda", disse Mario Battistel, gerente de câmbio da Fair Corretora. "A hora que começar a entrar no país, pode dar problema. Quando virar o mês, já há risco de isso acontecer."

A expansão no fluxo positivo também é limitada pelas atuações do BC no câmbio, que afugentam estrangeiros mais avessos a intervenções. Para defender o piso de R$ 2 para o dólar, foram cinco intervenções desde 21 de agosto. Outro efeito disso é que o mercado evita negociar a moeda abaixo de R$ 2,02 para evitar chamar novas atuações do BC.