Título: BC projeta cenário melhor para as contas externas
Autor: Izaguirre , Mônica
Fonte: Valor Econômico, 26/09/2012, Finanças, p. C11

O quadro dramático imaginado no início do ano para o financiamento das contas externas do Brasil em 2012 foi praticamente dissipado pelas novas projeções divulgadas ontem pelo Banco Central (BC). As despesas internacionais líquidas do país com comércio, serviços, transferências de rendas e transferências unilaterais ficarão em US$ 53 bilhões, pelas novas previsões, praticamente o mesmo patamar de 2011 (US$ 52,48 bilhões). E, mesmo menor que no ano passado, o fluxo de investimentos estrangeiros diretos (IED) financiará com sobra esse déficit em transações correntes.

Por causa da crise global, as primeiras projeções para 2012 pintavam um cenário pessimista. Pela primeira vez em 11 anos, o IED - uma fonte mais perene de financiamento - não cobriria a falta de receitas internacionais correntes. Para um déficit de US$ 65 bilhões, eram esperados US$ 50 bilhões de investimentos nessa modalidade.

Em revisões anteriores, o BC já tinha reduzido a projeção do saldo negativo da conta corrente para US$ 56 bilhões. Mas o número ainda estava acima da expectativa de ingresso de IED, até então conservadoramente mantida em US$ 50 bilhões. Os números vistos até agosto, no entanto, deixaram o BC tranquilo para apostar que o fluxo de IED vai chegar a US$ 60 bilhões.

Em vez de uma necessidade de financiamento de US$ 15 bilhões, portanto, o que haverá neste ano é uma sobra de US$ 7 bilhões quando se olha apenas para este tipo de investimento.

O Brasil também recebe empréstimos e financiamentos externos, mas qualitativamente o que interessa é o IED, porque este é o capital que permanece no país em momentos de crise e fuga de capitais estrangeiros. Afinal, o dinheiro investido em uma planta industrial, por exemplo, além de gerar empregos, não tem como ser retirado pelo investidor de uma hora para outra. Uma parte do IED é composta por empréstimos entre matrizes e filiais. Mas, por envolver empresas do mesmo grupo, o fluxo dessas operações de crédito, em particular, costuma reagir em situações de crise da mesma forma que investimentos diretos em participação societária.

A substancial redução do valor projetado para o déficit em transações correntes deve-se, principalmente, à queda do fluxo esperado na remessa de lucros e dividendos ao exterior. O BC trabalhava inicialmente com a hipótese de que o volume líquido dessas remessas chegaria a US$ 39,6 bilhões, expectativa que posteriormente foi reduzida para US$ 28 bilhões. Agora, a autoridade monetária projeta um gasto líquido de US$ 24 bilhões. O chefe do departamento econômico do BC, Tulio Maciel, chamou a atenção também para a desaceleração da atividade econômica no primeiro semestre, que encolheu os resultados dos balanços e, portanto, a disponibilidade de renda de investimentos a ser remetida ao exterior.

Em grande medida pelo efeito do câmbio e da desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB), as remessas de lucros e dividendos ao exterior caíram cerca de 45% nos primeiros oito meses do ano em comparação a igual período de 2011, saindo de US$ 25,699 bilhões para US$ 14,223 bilhões. Os lucros e dividendos recebidos pelo país em função de investimentos brasileiros no exterior passaram de US$ 877 milhões para US$ 4,185 bilhões na mesma comparação.

A projeção de gastos líquidos com viagens internacionais, embora tenha crescido nesta última revisão, ainda está menor do que era no início do ano. Em janeiro, o BC esperava para 2012 uma diferença de US$ 14,5 bilhões entre o que os viajantes brasileiros gastam lá fora e o que os viajantes estrangeiros deixam no país. Ontem o BC disse que essas despesas deverão fechar o ano em US$ 13,5 bilhões.

A conta de comércio foi uma das poucas cuja projeção não melhorou desde o início do ano. Ao contrário, o saldo comercial projetado caiu de US$ 23 bilhões para US$ 18 bilhões. A expectativa em relação às exportações, que já tinha sido revista de US$ 267 bilhões para US$ 258 bilhões, sofreu um corte de outros US$ 10 bilhões, para US$ 248 bilhões. As importações, antes projetadas em US$ 244 bilhões, deverão fechar 2012 em US$ 230 bilhões, também US$ 10 bilhões a menos do que a previsão de junho. Com o mundo crescendo menos, o comércio entre os países sofre.

O IED esperado para 2012, mesmo revisado para cima, ainda é inferior ao de 2011, que foi recorde histórico. Considerando que o cenário internacional neste ano foi mais complicado, o BC acha que US$ 60 bilhões é um número "robusto". Para Maciel, o Brasil se consolidou como receptor de IED, "o que reflete o diferencial da nossa economia em relação aos outros países". "Temos recebido, mesmo numa conjuntura econômica internacional adversa."