Título: Investimento estrangeiro deve seguir robusto
Autor: Castro , José de
Fonte: Valor Econômico, 26/09/2012, Finanças, p. C11

A perspectiva de recuperação da economia em 2013 manterá robusto o fluxo de investimento estrangeiro direto (IED) para o país, financiando com tranquilidade o déficit em transações correntes pelo sexto ano consecutivo. Economistas ponderam que mesmo um aumento nas remessas de lucros e dividendos, com impacto no buraco das contas do Brasil com o exterior, não desperta preocupações.

Em 2011, o Brasil recebeu o valor recorde de US$ 66,66 bilhões em IED, um salto de 37,4% sobre o ano anterior. Para este ano, a projeção do Banco Central (BC) é que US$ 60 bilhões sejam recebidos.

"Acredito que esse cenário se mantém no ano que vem. O IED é um fluxo de longo prazo, que depende de mais coisas que um desempenho trimestral da economia. Depende de perspectivas, e elas são de crescimento forte do mercado interno, com desemprego baixo", avalia a economista do Itaú Unibanco Gabriela Fernandes. O banco estima déficit em conta corrente e IED em 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013.

Para o economista da Rosenberg & Associados Rafael Bistafa, o aumento da projeção do BC para o IED neste ano reflete o desempenho positivo dessa conta observado nos últimos meses e sugere a manutenção do Brasil como um país atrativo. "Como esses investimentos são de longo prazo, a continuação dos números firmes mostra que o apetite do estrangeiro pelo Brasil não é algo pontual. Eles realmente acreditam no potencial de crescimento do país, ainda mais levando em conta as fracas perspectivas para o mundo desenvolvido nos próximos anos", afirma.

Bistafa prevê que, salvo algum evento extremo no exterior [que não está no radar], o IED deva somar US$ 59 bilhões neste ano, ou 2,5% do PIB. "No ano que vem, mantido o equilíbrio "instável" que temos visto lá fora, o IED deve se manter entre 2,5% e 2,8% do PIB", diz. O economista projeta ainda que o déficit em transações correntes fique em US$ 53,6 bilhões (2,27% do PIB) neste ano e entre 2,2% e 2,5% do PIB em 2013.

Para o economista da Tendências Consultoria Silvio Campos Neto, os números do IED também decorrem de investimentos que já estavam programados. "Os números são fortes, mas estão abaixo das máximas históricas. Aquele potencial de crescimento (da economia) não é tão robusto, mas dada a falta de opções o investidor acaba se voltando para cá", pondera.

O Itaú também projeta alguma aceleração nas remessas de lucros e dividendos. "Os números de 2012 têm vindo demasiadamente fracos, então imagino alguma volta em 2013 [com a retomada da economia]", afirma a economista do banco, sem apostar, no entanto, em cifras elevadas como em 2011.

O Goldman Sachs compartilha da visão de que a conta corrente está bem ancorada, mas diz que a conta capital e financeira continua "vulnerável a mudanças no sentimento externo e à natureza do mix de política doméstica".