Título: De grão em grão
Autor: Pavini, Angelo
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2007, Eu & Investimentos, p. D1

Quem não quer ser um milionário? Por incrível que pareça, isso é possível, mesmo que custe algumas décadas e mais disciplina no controle dos gastos. De repente, seu milhão, tão útil na aposentadoria, pode estar indo pelo ralo em gastos desnecessários com celulares, tarifas bancárias ou juros dispensáveis.

Estudo feito pelo Finita Consultoria, empresa carioca que dá assessoria financeira a pessoas e pequenas empresas, mostra que se pode juntar não R$ 1 milhão, mas R$ 3,8 milhões com pequenos cortes de despesas e uma boa ajuda do efeito multiplicador das taxas de juros ao longo de 40 anos. O período parece longo, mas coincide com a aposentadoria, justamente quando mais se precisa de reservas. A proposta é dar uma idéia para a pessoa de como essas pequenas economias são poderosas no longo prazo e ajudariam em uma aposentadoria mais confortável.

A importância de cortar despesas e guardar o máximo que se puder não tem nada de novo. Faz parte do tão comentado planejamento financeiro pessoal, que vem se tornando cada vez mais popular no Brasil. Mas, para a maioria das pessoas, é preciso relembrar isso de tempos em tempos. E algumas chegam a procurar especialistas para ajudá-las a encontrar onde cortar custos e ajustar o orçamento à realidade dos ganhos.

Mais do que descobrir a pólvora, a idéia do estudo é mostrar como essas pequenas economias e uma boa aplicação podem surpreender ao longo do tempo, afirma o sócio da Finita Elchanan Palatnik. Ele lembra que as sugestões nasceram de uma família hipotética, e portanto nem todas são válidas para todos. "Mas as pessoas podem ajustar os dados da tabela ao seu caso, incluindo novas despesas e retirando outras". No cálculo de Palatnik, chega-se a uma economia mensal de R$ 984,76, ou R$ 12.282,86 por ano.

Um exemplo bastante comum é o de famílias que têm cartão de crédito e pagam a anuidade cobrada pelas administradoras sem pechinchar. "As pessoas acham que são importâncias pequenas, mas R$ 25 por mês com um juro de 8,7% ao ano daria R$ 98 mil em 40 anos", afirma. Outras economias podem ser evitar atrasos ou rolagens nos pagamentos das faturas, que resultam em multas e juros elevadíssimos. Pode-se também aproveitar os parcelamentos sem juros e buscar as melhores datas para compras, ganhando o máximo de prazo.

Até no pãozinho pode-se economizar, procurando padarias com preços mais razoáveis. Isso daria mais R$ 117,6 mil em 40 anos.

Uma boa economia pode estar na previdência privada, afirma Palatnik. A maioria das pessoas não pesquisa as condições dos planos - especialmente taxas de carregamento e de administração - e acaba, por conveniência ou comodidade, optando por investir no banco onde tem conta, e onde normalmente esses custos são mais altos. "Hoje há muita concorrência nessa área e o investidor pode reduzir o custo pesquisando em outra instituição", afirma. E, para quem tem conhecimento de mercado, a alternativa pode ser montar uma carteira própria de investimentos de longo prazo.

Combustível também pode ser uma fonte de economia devido à diferença de preços entre postos e regiões da cidade. Por isso, vale a pena pesquisar os postos no trajeto do trabalho e abastecer naquele com melhor relação de preço e qualidade. "Mas a maioria das pessoas abastece no primeiro posto que encontra", afirma Palatnik.

Nos telefones, o gasto pode ser menor usando-se a linha fixa em lugar do celular em casa, por exemplo. Ou preferindo horários promocionais para as ligações mais longas. E há ainda a opção dos sistemas via internet para ligações internacionais, o Skype. Celulares ou linhas fixas com pouco ou nenhum uso também podem entrar na lista dos cortes.

Os presentes de fim de ano são outra fonte de economia, com alguma organização. "Damos os presentes sempre para as mesmas pessoas em datas previsíveis, portanto é possível comprar com antecedência aproveitando as liquidações e pesquisando com calma", lembra Palatnik. O mesmo vale para quem quer renovar o guarda-roupa sem gastar demais - evitando os períodos festivos, como Dias das Mães, dos Pais, Natal e Namorados.

Nos impostos, os assalariados têm poucas alternativas para economizar. No máximo, podem aplicar em fundos de previdência que permitem abater o imposto retido na fonte. É o caso dos fundos oferecidos pela própria empresas, que costumam também ter taxas de carregamento e de administração mais baixos.