Título: FMI nomeia Murilo Portugal para o 4º principal cargo na hierarquia
Autor: Romero, Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 24/10/2006, Finanças, p. C2

O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo de Rato, convidou ontem Murilo Portugal para ocupar uma das três vice-diretorias da instituição. O cargo é o 4º mais importante na hierarquia do Fundo e o mais relevante que um representante de país em desenvolvimento pode ocupar na entidade. É a primeira vez que um brasileiro é nomeado para o posto.

Portugal não foi indicado pelo governo Lula. O cargo é uma escolha pessoal do diretor-gerente do FMI. Embora seja apenas uma formalidade, a nomeação ainda depende da homologação do Conselho Executivo do Fundo, onde estão representadas as 24 nações com assento permanente na diretoria da instituição - os 24 representam os 184 países-membros do Fundo.

Portugal vai suceder Augustín Carstens, convidado pelo presidente eleito do México, Felipe Calderon, para chefiar a equipe de transição de governo. "Murilo Portugal é idealmente qualificado para suceder Carstens. Ele possui conhecimentos econômicos e rica experiência no governo de uma importante economia de mercado emergente e, além disso, conhece o Fundo extremamente bem, tendo servido como diretor-executivo por sete anos", comentou Rodrigo de Rato.

De fato, Portugal atuou como representante do Brasil no FMI entre 1998 e 2005. Antes, de 1996 a 1998, foi o diretor do Brasil no Banco Mundial. Durante esse período em Washington, construiu a reputação de técnico competente e ao mesmo tempo duro na defesa dos interesses do Brasil e das oito nações que o país representa no Fundo. Em mais de uma oportunidade, foi homenageado por seus pares em reuniões do Conselho Executivo.

Em maio de 2005, atendendo a convite do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, mudou-se para Brasília, onde se tornou seu braço direito. Em março, com a queda de Palocci, Portugal deixou a secretaria-executiva da Fazenda e entrou em período de quarentena, que durou até agosto. Em setembro, passou a integrar os conselhos de administração de dois grupos empresariais - Brasif e Mabel.

Antes de receber o convite para voltar a trabalhar no FMI, Portugal tinha sido convidado por Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, para trabalhar na Rio Bravo, uma das maiores administradoras de recursos do país. "O lugar mais alto que alguém de um país em desenvolvimento pode chegar é esse. Então, achei que não podia desperdiçar a oportunidade. Posso ir para o setor privado mais tarde", disse Portugal ao Valor, lembrando que seu mandato no Fundo será de cinco anos.

No cargo de vice-diretor, Portugal, um economista com formação na Universidade Federal Fluminense e especialização em duas universidades inglesas (Cambridge e Manchester), terá inúmeras tarefas, dentre elas, cuidar dos códigos e padrões adotados pelo FMI, da avaliação do setor financeiro, da adequação dos sistemas bancários dos países às regras da Basiléia 2 e dos acordos de cooperação técnica. Na hierarquia da instituição, estarão acima do brasileiro, além do diretor-gerente Rodrigo de Rato, apenas o primeiro vice-diretor John Lipsky, um cargo reservado aos Estados Unidos, maior acionista do Fundo, e o vice-diretor Takatoshi Kato, indicado pelo Japão.

Portugal assumirá o posto num momento especial do FMI. A instituição aumentou recentemente as cotas de alguns países, utilizando fórmula de cálculo bastante criticada por nações em desenvolvimentos como o Brasil. Nessa fórmula, o poder de voto dos países-membros é calculado com base principalmente no grau de abertura da economia, em vez de no tamanho do PIB. Por causa disso, o Brasil tem um poder de voto inferior ao de vários países com PIB menor que o brasileiro.

Quando era diretor-executivo do Fundo, Portugal combateu essa fórmula. Agora, ele disse que não pode mais representar os interesses do Brasil na entidade, mas os de todos os 184 países-membros. Lembrou, no entanto, que a cúpula FMI se comprometeu em mudar a fórmula de cálculo das cotas no prazo de dois anos. "Será a segunda etapa da reforma", observou ele.