Título: Tradicional, Japão curva-se cada vez mais à novidade
Autor: The Economist
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2007, Finanças, p. C8

Os vários sistemas de pagamento "sem contato" dependem de uma tecnologia chamada "near-field communication" (NFC). O dispositivo NFC dentro dos cartões reage quando eles são colocados perto ou encostados a um leitor. A máquina aciona um circuito elétrico no dispositivo, que permite troca de dados para efetuar a transação, como deduzir o preço de uma passagem do valor armazenado.

Como os dispositivos NFC podem custar poucos centavos, podem ser inseridos em todos os telefones celulares. A idéia é que, em vez de carregar outro pedaço de plástico, carregar só o celular será suficiente. Pagamentos feitos por meio de celulares com valores armazenados são vistos como de risco relativamente baixo. Comerciantes têm a garantia de recebimento e, se os cartões ou telefones se perdem, ou são roubados, o custo para os usuários é limitado.

Celulares podem ser muito mais inteligentes que cartões inteligentes. Podem ser desativados à distância; possuem tela capaz de mostrar informações, como saldo de crédito e dados sobre produtos; possuem teclado para inserir informações e podem se comunicar. Significa que eles também podem ser usados para autorizar pagamentos maiores com a inserção direta de códigos PIN no aparelho ou serem recarregados com créditos a partir de uma conta bancária on-line, sem necessidade de se recorrer a um terminal automático de atendimento.

O Japão dá uma idéia do potencial do dinheiro dos celulares. A maioria dos japoneses possui pelo menos um cartão de crédito, mas eles tendem a ficar no bolso do dono. Como o crime nas ruas é quase inexistente, o dinheiro vivo reina supremo. Donas de casa tiram da bolsa notas de 10 mil ienes (US$ 82) para pagar compras. Contas de serviços públicos são pagas em dinheiro - nos bancos ou, mais ainda, nas lojas de conveniência. Mas apesar da popularidade do papel-moeda, celulares já começam a mudar os tradicionais hábitos japoneses.

Para os clientes com pressa, poder pagar com seus keitai - celulares - é muito mais fácil. Muitos celulares têm hoje várias funções de dinheiro, códigos, cartões de crédito e identidade. A maioria dos japoneses considera seus celulares seguros; se são perdidos ou roubados, podem ser bloqueados à distância para proteger valores atrelados a eles. Segundo o "Mobile Payments and Keitai Credit", um novo estudo de Gerhard Fasol, da Eurotechnology Japan, o pagamento de pequenos valores com o dinheiro eletrônico está reescrevendo as regras da indústria dos cartões de crédito. "Acreditamos que as operadoras de telefonia móvel, além das companhias de cartões de crédito de dentro e fora do Japão, deverão considerar como preparar-se estrategicamente para o provável sucesso desses sistemas de pagamento por celular", diz Fasol.

Contas podem ser abertas rapidamente, a maioria delas sem investigação do histórico de crédito. Já existem cerca de 500 serviços de cartões inteligentes no Japão e muitos deles estão migrando para os celulares. Os créditos podem ser comprados com dinheiro, via terminais automáticos de atendimento, ou adquiridos de serviços bancários online. Alguns cartões e telefones também servem de crachás para funcionários de empresas e permitem compras nas cantinas dessas empresas, restaurantes e máquinas de auto-serviço.

Edy é o maior sistema de pagamentos sem contato do Japão e é aceito por cerca de 43 mil lojas. O sistema é operado pela bitWallet (ela própria controlada em conjunto pela NTT DoCoMo, a maior operadora de telefonia móvel do país, e a Sony). O Edy realiza 15 milhões de transações por mês. A taxa dobra a cada ano. Possui cerca de 23 milhões de usuários, dos quais 4 milhões já usam celulares. A concorrente mais próxima é o Suica, criação da JR East Railway, com mais de 18 milhões de contas.

Muitos sistemas de cartões inteligentes não trabalham uns com os outros, mas isso vai mudar em 18 de março, quando 26 companhias ferroviárias e 75 de ônibus da área da grande Tóquio começarão a compartilhar o novo sistema de valor armazenado, chamado Pasmo. Ele também estará disponível como cartão de plástico inteligente ou inserido em celulares.

O que chama a atenção dos japoneses no dinheiro eletrônico é a maneira como ele acelera as coisas. Não é preciso mais do que um décimo de segundo para se concluir a maior parte das transações. Fraudes e roubos são reduzidos. Para o lojista, ele reduz o custo do manuseio do dinheiro. E é fácil agregar serviços extras. Por exemplo, a ANA, segunda maior companhia aérea do Japão, permite aos usuários do Edy converter milhagens em dinheiro eletrônico.

Um chip usado nos celulares e em computadores facilita trocas digitais. Conteúdo digital como filmes, música e jogos podem ser pagos facilmente, sem a necessidade de inserção de detalhes sobre cartões de crédito. Além disso, as operadoras podem oferecer crédito diretamente no celular. A consulta aos cadastros de crédito só são feitas no empréstimos de maior valor. Discrição total.