Título: Americano resiste em abandonar cartão de crédito
Autor: The Economist
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2007, Finanças, p. C8

Ao contrário dos japoneses, os americanos preferem usar o dinheiro de plástico. Os cartões respondem hoje por mais de metade de todas as transações. Eram 29% dez anos atrás. Cada lar americano tem em média mais de dez cartões de crédito. São mais de 1,5 bilhão de plásticos nas bolsas e carteiras.

A infra-estrutura para pagamento via celular está começando a tomar forma nos Estados Unidos. O mercado de cartões pré-pagos já supera US$ 180 bilhões e inclui cartões de empresas de telecomunicações, cartões emitidos pela Visa, MasterCard, American Express e Discover, e cartões-presente de redes varejistas como Gap ou Starbucks.

Bancos e companhias de cartões de crédito esperam converter mais dinheiro e pagamentos em cheques para o plástico com novos cartões inteligentes. Algumas versões já estão fazendo sucesso. Muitos americanos usam o EasyPass, no qual se paga pedágio por um sistema sem fio. Depois o valor é cobrado no cartão de crédito. O SpeedPass da ExxonMobil pode ser usado em postos de gasolina.

Mesmo assim, comparado com o mercado em geral, os novos sistemas de pagamento ainda são pequenos. John Suchanec, do Bank of America, diz: cartões de crédito e débito são aceitos em 6 milhões de pontos de venda nos EUA, mas só 1 milhão de pontos aceita cartões sem contato. Os mesmos sistemas de cartões sem contato podem ser usados para telefones móveis. Cobrar taxas menores dos lojistas poderia acelerar a adoção, junto com instalação de mais leitores de pagamentos.

Mais uma vez, países menos abastados são às vezes a origem de meios mais baratos de uso da tecnologia. Em vez de investir pesado em grandes quantidades de dispositivos NFC nas estações ferroviárias, a Croácia descobriu que bilhetes podem ser comprados e entregues diretamente por celular. Se o fiscal chama, o bilhete aparece na tela do celular.

Suchanec diz que grande oportunidade ainda a ser explorada é a conversação de "duas vias" que sistemas de telefones móveis possibilitam. Os bancos poderiam enviar mensagens de texto aos clientes usando celulares ligados a suas contas. Cupons ou informações sobre produtos poderiam ser enviados aos celulares. O consumidor pagaria pelo item escolhido. Isso abre novas oportunidades de marketing - e de comissões.

Art Kranzley, da MasterCard, acredita que pagamentos por celulares poderão reduzir fraudes. A companhia está testando, junto com a KeyBank, um sistema que possibilita ao cliente digitar seu número de identificação pessoal no celular antes de fazer uma compra, transformando o celular em cartão de crédito. Estudos feitos pela Visa mostram que o americano médio geralmente tem probabilidade duas vezes maior de levar consigo um celular do que dinheiro. Na faixa de 18 a 34 anos, a probabilidade é quatro vezes maior.

Alguns dos sistemas de pagamento que mais crescem já operam on-line. Bancos fornecem processamento online para clientes aceitarem pagamentos pela internet feitos por cartões de crédito ou débito quando o comprador não está presente. Mas, conforme espera a Sony, os computadores podem ser equipados para fazer a mesma coisa sem abrir mão de detalhes do cartão de crédito.

Isso poderá se mostrar muito popular. Um atrativo do Paypal enquanto sistema online de pagamentos é que os detalhes do cartão de crédito e do banco não são trocados quando os pagamentos são transferidos instantaneamente. O PayPal, que é controlado pelo site de leilões online eBay, possui hoje mais de 120 milhões de contas de pessoas de mais de 100 países, e alega que a taxa de fraudes é muito menor que em uma companhia de cartões de crédito típica.

Com o controle que têm sobre o mercado, os bancos e as empresas de cartões de crédito querem estar em posição de coletar a maior parte das taxas pagas pelos usuários de celulares e sistemas de pagamentos sem contato. Mas os novos sistemas poderão se mostrar uma "tecnologia de ruptura". Os bancos poderão ser "desintermediados" se de bilhetes de transporte, jornais e o cafezinho não aparecerem no extrato do cartão - e sim na conta do telefone.

Tendo gasto fortunas em suas marcas, companhias de cartões de crédito e bancos não querem ver outros sistemas de pagamento ganhar terreno. Serviços por celular e cartões inteligentes poderiam escapar de seu controle. Será? Bancos e administradoras de cartões dizem que se o dinheiro vivo for substituído, pretendem ser parte da transição.