Título: Celular disputa espaço com dinheiro vivo
Autor: The Economist
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2007, Finanças, p. C8

Alguns dos melhores clubes noturnos têm uma nova maneira de confirmar a identidade dos clientes VIPs: eles enviam para os telefones celulares destes clientes um passe de entrada na forma de um supercódigo de barras. Este é escaneado na portaria. Até mesmo aqueles que têm de pagar para entrar podem precisar de seus celulares: em uma promoção recente, feita pelo Ministry of Sound de Londres, estudantes tinham desconto se usassem seus celulares para comprar ingressos eletrônicos.

Os telefones móveis estão se tornando uma maneira cada vez mais popular de realizar todos os tipos de pagamento. Nos Estados Unidos, os torcedores do Atlanta Hawks vêm testando celulares da Nokia especialmente adaptados (atrelados aos seus cartões de crédito Visa) para entrar no estádio do time e comprar refrigerantes. Em outros lugares, há esquemas mais avançados. Você já pode passar um dia inteiro na Áustria sem usar dinheiro vivo, cartões de crédito ou débito, para pagar de tudo, incluindo bens de consumo, com um telefone celular, afirma a Arthur D. Little, uma firma de consultoria administrativa. Ela avalia que os pagamentos via celulares vão subir no mundo todo de apenas US$ 3,2 bilhões em 2003 para mais de US$ 37 bilhões até 2008.

Os celulares são usados para comprar coisas na Ásia. No começo deste mês a Visa e a SK Telecom, principal companhia de telefonia móvel da Coréia do Sul, anunciaram o lançamento comercial de um sistema de pagamentos por telefone voltado inicialmente para 30 mil assinantes.

No Japão, centenas de milhares de transações, da compra de passagens de trem a guloseimas, já acontecem todos os dias, com os clientes passando seus aparelhos de mão por uma espécie de leitor. Os pagamentos são confirmados com um som parecido com o toque de uma velha caixa registradora.

Mais serviços bancários também estão sendo oferecidos por telefone. Em 12 de janeiro, 19 operadoras de telefonia com redes em mais de 100 países anunciaram que as pessoas poderiam agora usar seus celulares para enviar dinheiro para fora desses países.

A MasterCard vai operar o sistema no qual as remessas serão enviadas como mensagens de texto. Para as pessoas que não têm conta em banco, o crédito pode ser convertido em cartões pré-pagos que depois podem ser usados em compras. "Isso vai revolucionar o negócio de transferência de dinheiro", diz Sunil Bharti Mittal, presidente da Bharti Airtel, uma das maiores operadoras de telefonia móvel da Índia. A idéia é ter acesso aos mais de US$ 250 bilhões que migrantes enviam todos os anos para parentes e amigos.

A Vodafone do Reino Unido e o Citigroup dos Estados Unidos também estão lançando um serviço internacional de transferência de dinheiro desenvolvido a partir do serviço de remessas M-Pesa que já opera com sucesso no Quênia.

John Bond, ex-presidente do conselho de administração do HSBC e hoje presidente do conselho da Vodafone, há muito tempo está convencido de que pagamentos e celulares iriam convergir de alguma forma. "Os celulares poderão provocar uma mudança dramática da vida interiorana na África", diz. Ele também acredita que celulares carregados com crédito farão muitos dos pagamentos em que as pessoas usam dinheiro, nas economias mais ricas do planeta. Para os bancos com custos de infra-estrutura elevados, diz , "sempre foi difícil fazer dinheiro com pequenos pagamentos". Mas os modelos de negócios de custos menores, alguns dos quais vindos de países em desenvolvimento, estão abrindo novas oportunidades. O grande atrativo do celular enquanto "bolsa, ou bolso", é que muitas pessoas possuem um - até mesmo crianças.

Comprar um bilhete de metrô, um jornal ou pagar por uma xícara de café no caminho para o trabalho com apenas uma sacudidela do celular promete ser muito mais conveniente que procurar o dinheiro no bolso e esperar pelo troco, ou usar um cartão de crédito ou débito e ter que digitar números ou assinar um pedaço de papel.

Os cartões pré-pagos, ou "inteligentes", como o Octopus de Hong Kong e o Oyster de Londres, usados nas viagens nos metrôs, proporcionam muita conveniência - para operadoras e passageiros, já que o manuseio do dinheiro é caro. A Transport of London introduziu o cartão Oyster há três anos e hoje ele responde por três de cada quatro viagens realizadas no metrô e ônibus. Os pagamentos em dinheiro dos bilhetes caíram para apenas 5%. Isso tem ajudado a incrementar o uso com preços diferenciados: bilhetes comprados com dinheiro custam bem mais que os adquiridos com um cartão inteligente.

O atrativo do celular enquanto bolsa é que muitas pessoas possuem um. Será que os lojistas começarão a cobrar mais para pagamentos em dinheiro? No momento, as taxas que as lojas pagam às companhias de cartões de crédito levam muitas a impor limites mínimos aos pagamentos no cartão. Se as taxas pelo uso dos cartões inteligentes e celulares fossem baixas o suficiente, poderia ser mais caro aceitar dinheiro vivo, de modo que isso poderá gerar uma sobretaxa.

A MasterCard e a Visa lançaram nos Estados Unidos cartões de plástico que não precisam ser passados na máquina para aquisições inferiores a US$ 25. Ainda este ano um sistema de "interface dupla" será testado em Londres. Ele envolverá um único cartão plástico que combina Oyster para transporte, cartão Visa padrão emitido pelo Barclays Bank para pagamentos "chip e com número de identificação pessoal" e um novo Visa "wave and pay" para transações instantâneas de até 10 libras (US$ 19).