Título: Mercado tem dia de tensão
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 23/11/2010, Economia, p. 12

Investidor inicia semana temendo saída de Meirelles do Banco Central e piora da situação de países do velho continente e da Ásia

Um início de semana tenso para o mercado acionário. As bolsas de valores do mundo inteiro desabaram ontem com as más notícias da Europa e da Ásia. A dívida soberana da Irlanda se manteve entre as principais preocupações. Apesar de o país europeu ter, finalmente, aceito a ajuda financeira de cerca de 100 bilhões de euros do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da União Europeia (UE), ainda há dúvidas se conseguirá cortar gastos equivalentes a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) e fazer ampla reforma no setor bancário. As informações desencontradas confundiram os analistas, que opinavam de forma divergente.

A Bolsa de Valores de São Paulo veio se dissolvendo ao longo do pregão, na medida em que aumentava a instabilidade externa. O Ibovespa, índice mais negociado na BM&FBovespa, fechou em queda de 1,78%, nos 69.632 pontos, acompanhando o Índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, que baixou 0,22%. As bolsas da Europa seguiram o mesmo ritmo. A de Paris teve queda de 1,07%, enquanto a de Londres caiu 0,91% e a de Frankfurt recuou 0,31%. O efeito da crise na Irlanda também repercutiu nas bolsas asiáticas. A de Xangai caiu 0,15%. A de Hong-Kong fechou em queda de 0,35%. A bolsa de Tóquio encerrou em alta de 0,93%, auxiliada pelo fortalecimento do euro e do dólar frente à moeda local e pelo bom desempenho do setor exportador.

A situação ficou ainda pior depois que a agência de classificação de risco Moody¿s divulgou que deverá rebaixar a nota soberana da Irlanda, atualmente em ¿AA2¿, por conta das incertezas econômicas. Os temores sobre a eficácia desse pacote trouxeram suspeitas sobre o ressurgimento de problemas da mesma ordem com Portugal e Espanha. A China também surpreendeu, ao elevar pela segunda vez em duas semanas as taxas de recolhimento compulsório dos bancos para o patamar recorde de 18%, na tentativa de combater a inflação. No mercado doméstico, concentraram as atenções as apostas pela presidência do Banco Central, diante da previsão de saída de Henrique Meirelles.

¿As atitudes expansionistas da presidente eleita Dilma Rousseff vão jogar por terra anos de trabalho. Agora que estamos colhendo os frutos, há quem queira colher mais frutos que a mangueira tem capacidade de dar¿, assinalou Demetrius Borel Lucindo, da Corretora Prosper. Para Luiz Roberto Monteiro, da Corretora Souza Barros, tudo vai depender de quem vai suceder Meirelles e se vai manter ou não a política interna. ¿Comenta-se que o sucessor será Alexandre Tombini, atualmente diretor de Normas do BC. Se for ele, o rumo continua o mesmo. Só se perde um pouco em termos de repercussão do nome¿, argumentou. Mas o atual secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, também é cotado para o cargo.

Aversão ao risco » Analistas comentam que as especulações em relação à nova equipe econômica e à preferência de Dilma Rousseff pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, interferiram no mercado de câmbio e incentivaram ainda mais a aversão ao risco dos investidores. O dia começou com problemas técnicos que afetaram as negociações do dólar no seguimento futuro da BMF&Bovespa, paralisadas por mais de uma hora. Após altos e baixos, repercutindo os problemas bancários na Irlanda, suspeitas de possível contágio de outros países da Zona do Euro e o desaquecimento da economia chinesa, a divisa americana encerrou o dia em alta de 0,64%, cotada a R$ 1,730.