Título: Espanha nega pedido de ajuda e bolsas caem
Autor: Zampieri, Aline Cury; Katzumata, Suzi; Takar, Téo
Fonte: Valor Econômico, 03/10/2012, Finanças, p. C2

A possibilidade de o governo da Espanha jogar a toalha e pedir assistência financeira à União Europeia deu o tom dos mercados financeiros internacionais na terça-feira. Pela manhã, as especulações de que o pedido de ajuda era iminente impulsionaram os ativos de risco. Porém, o desmentido oficial no início da tarde levou à reversão dos mercados. O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, afirmou que o país não fará qualquer pedido de resgate neste momento e que as regiões autônomas reiteraram seu compromisso em cumprir as metas orçamentárias.

A agência de classificação de risco Moody"s, por sua vez, anunciará até o fim do mês a revisão do rating da Espanha. Na última avaliação, feita em junho, a Moody"s cortou a nota de "A3" para "Baa3". A revisão pode levar o país a perder o grau de investimento. "A revisão do rating da Espanha vai avaliar inúmeros fatores, incluindo a necessidade de capital dos bancos espanhóis, a natureza e o tamanho dos mecanismos de suporte, o plano orçamentário para 2013 divulgado recentemente e as consequências para o gerenciamento da crise da zona do euro do avanço de uma união bancária", disse a Moody"s.

Assim como vem ocorrendo nas últimas semanas, os movimentos nas bolsas foram limitados, tanto de alta quanto de baixa, refletindo a falta de convicção dos investidores em empurrar os ativos para uma direção. Em Nova York, os índices fecharam com sinais opostos: o Dow Jones caiu 0,24%, aos 13.482 pontos, o S&P-500 subiu 0,09%, para 1.445 pontos, e o Nasdaq Composite avançou 0,21%, aos 3.120 pontos. Na Europa, o índice FTSE 100, de Londres, caiu 0,20%, aos 5.809 pontos; o CAC-40, de Paris, perdeu 0,61%, aos 3.414 pontos; e o DAX, de Frankfurt, recuou 0,28%, para 7.306 pontos.

Por aqui, o Ibovespa teve um pregão "bipolar", na definição do estrategista da SLW Corretora, Pedro Galdi, operando em alta antes das declarações de Rajoy e firmando-se no terreno negativo no resto da tarde, até fechar com perda de 0,59%, aos 59.222 pontos, e volume de R$ 6,2 bilhões. A chefe de análise da Fator Corretora, Lika Takahashi, está preocupada com a aparente "desconexão" entre os mercados e a realidade da economia mundial.

"As medidas anunciadas nas últimas semanas pelos principais bancos centrais trouxeram estabilidade aos mercados. Mas elas são muito mais uma forma de gestão das dívidas do que propriamente medidas para promover crescimento", pondera a especialista. "Se a situação não fosse tão feia, não teríamos visto essas ações quase coordenadas dos bancos centrais", alerta Lika, apontando que os mercados chegaram a um ponto de indecisão e agora buscam novas justificativas para subir. Apesar das esperanças de que um pedido de resgate da Espanha proporcione alívio na crise europeia, a tendência é que os mercados voltem a olhar os persistentes problemas econômicos e políticos da região.

Enquanto uma solução para a Europa permanece distante, por aqui os investidores concentraram atenções no noticiário corporativo, que foi recheado de boatos e desmentidos. Marfrig ON (3,86%), Oi ON (4,21%) e PN (2,77%), B2W ON (2,47%) e as varejistas Lojas Renner ON (2,79%) e Lojas Americanas PN (2,46%) se destacaram entre as altas do Ibovespa. Reportagem do Valor ontem mostrou que grandes redes de varejo decidiram reduzir as taxas de juros cobradas nas operações de crédito após o movimento visto na semana passada no setor bancário.

No caso de Marfrig, o Bank of America Merrill Lynch (BofA) revisou a perspectiva para as ações do frigorífico, de "abaixo da média" para "neutra", e o preço-alvo subiu de R$ 11,50 para R$ 13. Os analistas do BofA acreditam que a direção da empresa está trabalhando em questões-chave para suas operações, "incluindo a avaliação de estratégias para a necessária redução de sua alavancagem". Já as ações da Oi reagiram à decisão do conselho de administração de vender imóveis no valor de R$ 643 milhões para fortalecer o caixa e reduzir o endividamento líquido.

Na outra ponta do mercado figuraram Gol PN (-10,93%), TIM ON (-3,81%) e as construtoras Brookfield ON (-5,18%), Rossi ON (-4,71%) e PDG Realty ON (-3,89%). Um analista lembrou que as construtoras devem apresentar uma nova rodada de balanços fracos do terceiro trimestre na temporada de divulgações que começa na próxima semana. Vale ressaltar que a Rossi ainda não publicou os números do segundo trimestre e as expectativas do mercado para esse balanço não são nada boas.

Gol PN devolveu toda a alta de segunda-feira, quando disparou 10,63% com a expectativa de que a empresa anunciasse a entrada de um sócio estratégico. Mas o que veio foi uma compra bilionária, de 60 aviões da Boeing.

Já as ações da TIM reagiram a um comunicado divulgado pela JVCO, acionista minoritária da companhia, de que a empresa estaria sendo investigada por supostas irregularidades nas provisões de risco tributário em seus balanços. A TIM disse desconhecer a investigação.