Título: Intel Capital sai em busca de projetos mais maduros
Autor: Rosa, João
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2007, Empresas, p. B3

Desde que foi criada, em 1991, a Intel Capital especializou-se em investir pequenas quantias em um grande número de companhias nascentes. Não é de estranhar, portanto, que nessa década e meia o braço de capital de risco da Intel, a maior fabricante mundial de chips, tenha aplicado mais de US$ 6 bilhões em cerca de mil empresas. Só no ano passado, 163 companhias receberam US$ 1,07 bilhão, sendo 91 negócios novos, que ainda não integravam a carteira da empresa.

Agora, porém, Arvind Sodhani - um indiano que vive há 30 anos nos Estados Unidos - está mudando o perfil da companhia de participações, cuja direção ele assumiu há dois anos. "Em mercados como os países da América Latina e a Rússia, não faz sentido investir em empresas em estágios muito iniciais", diz o executivo, em entrevista ao Valor. "O estilo de investimento mudou: vamos procurar companhias mais maduras."

Sob muitos aspectos, a mudança é um ajuste ao perfil da companhia. Ao contrário de outras empresas de participações, que farejam oportunidades não importa em que setor elas estejam, a missão da Intel Capital é mais focada: investir em empresas que criem tecnologias capazes de sustentar o ambiente de negócios da empresa-mãe Intel, caso das tecnologias sem fio WiFi e WiMax.

Nesse caminho, duas das contribuições que a Intel Capital tem a fazer, diz Sodhani, é a assessoria para melhorar a governança corporativa das empresas selecionadas - um ponto essencial para quem pretende negociar ações em bolsa - e a capacidade de apresentar essas companhias a grandes grupos econômicos, o que pode ajudá-las a obter contratos e, quem sabe, atrair um comprador estratégico.

No caso dos projetos muito jovens, o problema é que freqüentemente ainda não há sequer um produto a mostrar. A empresa está tão longe da bolsa ou de uma aquisição estratégica que os recursos oferecidos não produzem nenhum efeito. É por isso que a nova diretriz é buscar companhias mais maduras.

A nova abordagem já está em prática. No ano passado, a Intel Capital desembolsou US$ 600 milhões em uma única empresa, a Clearwire, que fornece de serviços de internet em banda larga nos Estados Unidos. Foi o maior investimento já feito pela companhia.

No Brasil, a caçada também começou. "Estamos procurando companhias em um estágio de desenvolvimento mais avançado", diz o americano David Thomas, diretor executivo da Intel Capital na América Latina.

Um exemplo do que está no radar é a fusão da brasileira Spring Wireless com a Sysgold, de origem colombiana. Fechado no fim de 2005 e efetivado no ano passado, o negócio contou com um aporte adicional da Intel Capital, que já havia investido na Spring Wireless em 2002, e deu origem a uma companhia de sistemas de comunicação sem fio com 65 mil usuários e presença em vários países.

Com a mudança de perfil, a previsão é de que o volume de investimento em cada empresa vai crescer. "Na fase anterior, o aporte médio era de US$ 1 milhão. Agora, estudamos ações entre US$ 4 milhões e US$ 5 milhões", diz Fábio de Paula, diretor de investimentos da Intel Capital na América Latina.

Algumas coisas, porém, não vão mudar. É o caso do limite para a compra de participação. A Intel Capital não costuma adquirir o controle das empresas. "Em geral, a participação adquirida vai até 20% do capital", afirma Fábio de Paula. "A idéia é investir na tecnologia e não adquirir a empresa."

Outras empresas de participações adotam modelos diferentes. É o caso da Votorantim Novos Negócios, ligada ao grupo Votorantim. Com apetite especial pela área de biotecnologia, a empresa já adquiriu o controle de companhias como Alellyx e Canavialis.

O co-investimento é outra tendência que será mantida. Vários aportes no país foram feitos em conjunto com outras empresas de participações.

No ano passado, a Intel Capital criou um fundo de US$ 50 milhões específico para o Brasil. Atualmente, são sete os investimentos no país, mas os aportes não são divulgados. Por enquanto, explica Sodhani, não há planos para aumentar os recursos ou criar um novo fundo brasileiro. "Investimos até perto da exaustão (de um fundo) e por enquanto só usamos uma pequena parte do dinheiro disponível ", justifica o executivo.

Enquanto busca novos investimentos, a idéia é deixar a nova abordagem cada vez mais clara no país. Até o fim do mês, será realizado em São Paulo o Intel Capital Technology Day. Trata-se de um dia inteiro de apresentações em que as empresas exibem suas virtudes a grandes clientes da Intel. Realizado em vários países, como China e Japão, o encontro ocorrerá pela primeira vez no Brasil.