Título: Para Dilma, ida de Haddad ao 2º turno já seria uma vitória
Autor: Romero, Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2012, Política, p. A8

A presidente Dilma Rousseff não acredita na vitória do candidato do PT, Fernando Haddad, a prefeito de São Paulo. Para a presidente, a passagem de Haddad para o segundo turno já seria uma vitória, uma vez que representaria a derrota do PSDB na capital paulista. Mas, mesmo que isso ocorra, Dilma não aposta no triunfo de Haddad sobre Celso Russomanno, candidato do PRB e líder nas pesquisas.

A presidente decidiu, desde o início da campanha eleitoral, não se envolver diretamente nas disputas municipais. Julgou que esse é o comportamento que se espera de um estadista. Ademais, concluiu que participar do pleito seria arriscado: nas eleições municipais, os temas avaliados pelos eleitores são locais. Dilma não quer associar a reputação do seu governo a campanhas derrotadas.

A presidente abriu, entretanto, algumas exceções. Avisou a assessores, que recebem diariamente dezenas de pedidos de gravação para programas eleitorais, que atenderia a pouquíssimos pedidos e sob uma condição: ela só ajudaria os candidatos onde a base de apoio ao governo estivesse unida.

Manaus, onde o PT apoia a candidata do PC do B, Vanessa Grazziotin, é um exemplo. Outro é o Rio, onde a base aliada está unida em tomo do prefeito Eduardo Paes (PMDB), candidato que pode ganhar o pleito no primeiro turno — ele tem 52% das intenções de voto.

Na capital do Amazonas, Grazziotin, segundo a última enquete feita pelo Ibope, está empatada com o ex-senador Arthur Virgílio, do PSDB, com 29% das intenções de voto. Essa eleição tem um outro componente: o envolvimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que quer derrotar o desafeto Virgílio a qualquer preço.

Porto Alegre, domicílio eleitoral de Dilma, é, pelo princípio estabelecido pela presidente, o exemplo oposto ao de Manaus. Lá, não houve acordo e, por isso, os partidos da base governista têm seus próprios candidatos. Mesmo pressionada por petistas, inclusive Lula, Dilma quer distância da disputa, que, segundo a mais recente pesquisa do Ibope, traz dois aliados na frente — José Fortunatti, do PDT, com 45%, e Manuela D"Ávila, do PC do B, com 28%. Villa, o candidato do PT, aparece em terceiro, com 10%.

Outras capitais de onde Dilma quer distância são Recife e Curitiba. Na primeira, os desentendimentos entre o PSB do governador Eduardo Campos e o PT do ex-presidente Lula abalaram uma relação histórica. Inconformado com a recusa do PT em lançar o petista Maurício Rands, Campos fechou aliança com um adversário — o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) — para indicar um candidato desconhecido (Geraldo Júlio).

Revoltado com a aliança de Campos com Jarbas, seu desafeto, Lula entrou pessoalmente na campanha. Apesar disso, em pouco tempo Júlio cresceu nas pesquisas e, neste momento, ameaça vencer a eleição no primeiro turno. Ele tem, segundo o Ibope, 39% das intenções de voto, seguido por 24% do candidato do PSDB, Daniel Coelho. O candidato de Lula e do PT — o senador Humberto Costa — amarga o terceiro lugar, com 16%.

No caso de Curitiba, a base aliada também se dividiu. O candidato apoiado pelo PT — Gustavo Fruet, do PDT — caiu nas últimas pesquisas para terceiro lugar (com 16% da preferência). O atual prefeito, Luciano Ducci, do PSB, está, segundo o Ibope, em primeiro lugar com 31% da preferência, seguido por Ratinho Jr., do PSC, com 30%.

Seguindo seu princípio, a presidente não deveria participar da disputa paulistana, mas a pressão para fazê-lo é grande. Primeiro, porque se trata de uma eleição em que o ex-presidente Lula está totalmente envolvido. Segundo, porque existe, nas palavras de um assessor, a "possibilidade real" de se derrotar o PSDB, que governa o Estado há 18 anos e a capital paulista, com aliados, desde 2004.

Mesmo não acreditando na vitória de Fernando Haddad, Dilma quer ajudar o partido a tirar o candidato do PSDB, José Serra, do segundo turno. Uma parte da ajuda ela já deu ao nomear a senadora Marta Suplicy para o comando do Ministério da Cultura — para apoiar Haddad, Marta, que é popular nas regiões mais pobres de São Paulo, exigiu o cargo.

Outra exceção é Belo Horizonte, cidade natal da presidente. Lá, ela usou sua influência para o PT romper com o PSB do prefeito Márcio Lacerda, que é aliado também do senador Aécio Neves (PSDB), seu possível adversário na eleição presidencial de 2014.A operação uniu o PT e, por isso, Dilma concordou em ajudar, mas, a exemplo de São Paulo, não acredita na vitória do candidato petista, Patrus Ananias, que tem 30% das intenções de voto, face a 47% do candidato do PSB.

Em Salvador, Dilma decidiu gravar programa para o candidato do PT, Nelson Pelegrino, por uma única razão: deferência ao amigo Jaques Wagner (PT), governador da Bahia. Fez acordo também com o vice-presidente Michel Temer, assegurando-lhe de que não entraria nas disputas do interior de SP, onde candidatos do PMDB disputam prefeituras com o PT. Para tanto, negou pedidos dos ministros Aloízio Mercadante (Educação) e Alexandre Padilha (Saúde) para ajudar candidatos petistas.