Título: Foco das campanhas é nas parcerias com o governo federal
Autor: Máximo, Luciano
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2012, Especial, p. A12

Com pouca margem orçamentária para executar projetos na área de saúde, como contratação de médicos, construção de hospitais e compra de equipamentos, candidatos a prefeito por todo o Brasil prometem melhorias para o setor ancoradas em novas parcerias com as esferas estaduais e federal.

Nos últimos cinco anos os investimentos da prefeitura de Porto Alegre no atendimento à saúde alcançaram quase 20% das receitas próprias, acima dos 15% exigidos pela Constituição. Durante a campanha na capital gaúcha, o prefeito José Fortunati (PDT), que busca a reeleição, admite que enfrenta problemas de financiamento, mas ainda assim planeja, caso seja reeleito, criar 800 novos leitos hospitalares e inaugurar três Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) a partir de 2013. "Cada uma exige investimentos fixos de R$ 5 milhões, que serão bancados pelo governo federal e pela prefeitura", projeta Fortunati, que lidera a corrida eleitoral com 45% das intenções de voto.

Sua principal adversária, a deputada federal licenciada Manuela D"Ávila, candidata pelo PCdoB (28% na pesquisa), também sustenta propostas para o setor de saúde de olho em verbas federais. Ela promete ampliar de 10% para até 25% a parcela do orçamento do setor destinada à atenção básica, elevando para 300 o número de equipes do programa federal Saúde da Família (PSF), além de inaugurar outra política do Ministério da Saúde, a Academia da Saúde.

Um dos argumentos do prefeito Márcio Lacerda (PSB), candidato à reeleição em Belo Horizonte, é o crescimento de 75% dos investimentos federais em saúde na cidade, durante seu primeiro mandato. Segundo a campanha do PSB, que lidera a disputa, o volume de recursos da União para atendimentos especializados e no PSF passou de R$ 530 milhões em 2008 para R$ 915 milhões neste ano. Num eventual segundo mandato, Lacerda espera receber ainda mais verba federal. Na dianteira na campanha, com 47% na pesquisa Ibope, o candidato promete contratar mais profissionais de saúde, abrir 73 postos de saúde, novos ou renovados e três novas UPAs.

Segundo Susana Maria Moreira Rates, da campanha de Patrus Ananias, candidato do PT na capital mineira, o projeto mais ambicioso do ex-ministro do Desenvolvimento Social no governo Lula, é criar uma ampla rede de emergência. A conta será paga pelo Ministério da Saúde. "A União financia a construção da rede, só dinheiro federal. Patrus tem uma ótima articulação com o governo federal e bons projetos", diz Susana Maria. Patrus, que aparece em segundo lugar nas pesquisas com 30%, também pretende construir nove centros de exames. "O custo de manutenção será de cerca de R$ 20 milhões, parte pago com recursos do município, parte do governo federal."

Questões ligadas à saúde têm aparecido com frequência nos discursos e no horário político dos candidatos à prefeitura de Curitiba. Os adversários do prefeito e candidato à reeleição, o médico Luciano Ducci (PSB), acusam a administração atual de "viver um verdadeiro apagão" na saúde. Questionam a ausência de parcerias com o governo federal.

A prefeitura prefere trabalhar junto com o governo estadual, do PSDB, que ajudou na aquisição de equipamentos para o Hospital do Idoso, inaugurado em março deste ano, com 141 leitos. O governo também será parceiro na instalação de cinco novas unidades de saúde e um convênio entre Estado e município para a construção de um hospital e um pronto-socorro na região norte da cidade.

Em São Paulo, a gestão do prefeito Gilberto Kassab (PSD) também é criticada por priorizar as parcerias estaduais. "As UPAs federais existem em várias cidades do Brasil, mas não aqui por causa da picuinha política entre a gestão municipal, controlada pelo PSDB e o PSD, e o governo federal, do PT. Vamos acabar com essa rixa e trazer as UPAs", diz a médica Marianne Pinotti, candidata a vice na chapa de Gabriel Chalita (PMDB).

A advogada Lenir Santos, especialista em organização federativa na saúde e professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), argumenta que as parcerias devem ser feitas envolvendo várias cidades de uma região. "É uma forma de integrar melhor a oferta de serviços municipais, estaduais e federal de acordo com as necessidades gerais", opina. (ML, de Curitiba, e LM, de São Paulo)

Esta é a terceira reportagem da série "A saúde pública nas eleições"