Título: Mercado de trabalho sinaliza a reação lenta da economia
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 27/09/2012, Opinião, p. A14

Os dados do mercado de trabalho em agosto desencantaram quem esperava indícios seguros de que a recuperação econômica está a caminho. Tanto a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) quanto o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho indicam que o emprego continua crescendo, mas divergem quanto ao ritmo da criação de vagas.

Não é a primeira vez que isso ocorre. Os dois levantamentos usam metodologias diferentes. O IBGE leva em conta pesquisas com a população e o emprego formal, informal e por conta própria em seis regiões metropolitanas. Já o Caged é um registro mensal feito pelas empresas no Ministério do Trabalho em todo o país e, portanto, só envolve vagas formais.

A pesquisa do IBGE indicou o forte aumento da ocupação em agosto, especialmente na indústria, alvo de uma série de estímulos e benefícios concedidos pelo governo. Segundo o IBGE, 155 mil trabalhadores encontraram ocupação em agosto nas seis regiões metropolitanas pesquisadas, dos quais 100 mil foram contratados pela indústria.

Já de acordo com o Caged, a economia brasileira criou 100,9 mil vagas com carteira assinada em agosto. O número ficou bem abaixo das projeções do mercado e é 47% inferior ao do mesmo mês do ano passado. O resultado é o pior para um mês de agosto desde 2003. Pelo Caged, a construção civil contratou 64,3% menos trabalhadores que em agosto de 2011 e criou 11,2 mil vagas. A redução na indústria de transformação foi de 54,2%, com apenas 16,4 mil contratações. Até no setor de serviços, que registrou maior número de contratações no mês, 54,3 mil, houve queda de 42,4%.

A taxa de desemprego de seis regiões metropolitanas do país medida pelo IBGE ficou em 5,3% em agosto, a menor da série histórica e em nítida trajetória de queda em comparação com 5,9% em junho e 5,4% em julho.

Uma eventual discrepância entre as pesquisas é apenas aparente. Ainda que a taxa de desemprego tenha recuado para níveis históricos segundo o IBGE, o instituto apurou uma redução no ritmo do crescimento da ocupação na virada do semestre. O total de ocupados subiu 1,5% em agosto, em comparação com o mesmo período do ano anterior, e registrou aumento de 1,4% em julho - abaixo dos 2% mensais registrados em média no primeiro semestre. Em 2010 e 2011 a ocupação cresceu em ritmo superior a 2%.

A demografia explica em boa parte esses números. A queda na taxa de desocupação pode ser atribuída à redução do ritmo de expansão da população economicamente ativa (PEA), que engloba as pessoas empregadas e as que estão procurando emprego, por causa da saída de jovens do mercado de trabalho. A PEA, segundo a consultoria LCA, vinha crescendo 1,6% ao mês, em média, na comparação anual, no período de 2006 a 2011. Em agosto, cresceu 0,7%. Na comparação com o mês anterior, caiu 0,8% de junho para julho, e aumentou apenas 0,1% em agosto, na série sem efeitos sazonais.

A redução dos jovens no mercado de trabalho tem relação com a mudança demográfica em curso no país provocada pela queda da fecundidade da mulher brasileira nos últimos anos. A taxa de fecundidade diminuiu de 2,13 filhos por mulher em 2004 para 1,95 no ano passado. O impacto dessa desaceleração do crescimento demográfico está sendo sentido agora na população da faixa de 15 a 24 anos, que constitui 26% da PEA.

Não só há menos pessoas nessa faixa de idade - o grupo de 18 a 24 anos, por exemplo, que somava 23,9 milhões de pessoas em 2005, agora é de 21,9 milhões -, como muitas delas, favorecidas pelo aumento da renda familiar, preferem estudar mais tempo para aprimorar a qualificação profissional.

Não é por outro motivo que os dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) referente a 2011, divulgados também na semana passada, mostram o número relativamente importante de empregados formais com alta qualificação (Valor, 19/9). Dos 2,242 milhões de empregos formais criados em 2011, 26,1% foram ocupados por trabalhadores com ensino superior completo, sendo 1,1% com mestrado ou doutorado.

O fato de a PEA estar crescendo menos do que a taxa de emprego - 1,6% e 2,5% ao ano, respectivamente, nos últimos sete anos - e a constatação de que os trabalhadores vêm buscando maior qualificação são dois fenômenos que terão implicações profundas não só nas políticas públicas como também no custo do trabalho e na melhoria da produtividade do país.