Título: PSDB revê programa e imagem
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2007, Política, p. A8

Com fortes nomes habilitados a disputar as eleições presidenciais em 2010, o PSDB quer superar divergências e corrigir erros que levaram às duas derrotas consecutivas, em 2002 e 2006. Por meio de pesquisas, seminários e aprovação de um novo programa partidário, os tucanos buscam um modelo de oposição que os una e os aproxime da sociedade.

Logo depois do Carnaval, o partido vai encomendar pesquisas ao sociólogo Antonio Lavareda, da Consultoria MCI, para identificar qual a imagem da sigla na população e quais os anseios do eleitor em relação à oposição ao governo Luiz Inácio Lula da Silva. Serão levantamentos quantitativos e qualitativos.

Também estão programados seminários regionais para envolver as bases na discussão. Esses encontros devem ser realizados no primeiro semestre. Em setembro ou outubro, um congresso aprovará o novo programa do PSDB. E, em novembro, uma nova Executiva Nacional será eleita em convenção nacional.

"O partido vive um momento novo, de atualização", define o senador Tasso Jereissati (CE), presidente nacional da legenda. Em recente reunião, a Executiva Nacional criou três grupos para organizar o processo de revisão do PSDB.

"É fácil fazer política no governo. Queremos formar um partido que tenha uma cara clara, conectado entre si. Que um ideal una as lideranças e não cargos ou poder. Isso vai dar as condições necessárias para disputar 2008 e 2010", afirmou Tasso.

Segundo ele, depois de dois mandatos seguidos como oposição ao governo federal, está na época de o PSDB se renovar. Avalia que, nos oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso, o partido fez reformas profundas e modernizou o Estado brasileiro, mas sofreu as conseqüências da proximidade com o poder: inchou e foi perdendo sua identidade.

"Além disso, foi fundado dentro da visão da social-democracia européia, em que o mundo era dividido ao meio. E a social-democracia parecia ser a alternativa. Hoje, a social-democracia não é mais uma alternativa a dois pólos diferentes de pensamento ideológico", afirmou .

Está fora dos planos do PSDB trocar a sigla, como decidiu fazer o PFL, que vai se transformar no PD (Partido Democrata), dependendo apenas de questões formais. Há quem aposte que essas revisões provoquem um distanciamento entre os parceiros de oposição.

"Queremos fazer uma avaliação em todo o país sobre a imagem do partido, acertos e erros, e o que a população imagina de um partido de oposição", afirmou o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), que integra o grupo responsável por elaborar o plano de comunicação do partido.

A idéia é aproveitar o diagnóstico levantado pela pesquisa no programa de televisão do partido de junho. "Não podemos imaginar que será natural em 2010 uma mudança de comando no Brasil: isso não acontece por inércia. Ou ficar esperando que aconteça uma catástrofe no governo. Precisaremos tomar um caminho, um rumo", disse Fruet.

Os sinais de crise entre os tucanos são vários. Em setembro, FHC divulgou carta aos militantes defendendo maior proximidade com a sociedade, com sindicatos e movimentos populares. Criticou, de forma velada, tucanos que privilegiam interesses locais em detrimento do projeto nacional. A carta de FHC foi considerada "desagregadora" pelo governador Aécio Neves (PSDB), de Minas Gerais.

Na eleição presidencial de 2006, além de se dividir na escolha do candidato (entre José Serra e Geraldo Alckmin), o partido não se entendeu na campanha de Alckmin. Houve críticas entre a coordenação nacional e diretórios estaduais de falta de empenho, de organização e de mobilização.

Na época, Aécio defendeu reciclagem do PSDB e reaproximação com setores da sociedade. Falou em um partido "mais democrático em suas decisões, mais nacional na distribuição das suas forças e mais próximo das pessoas".

Os problemas se agravaram com a eleição da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados. Uma ala do partido - integrada pelo líder Jutahy Jr. (BA) e tucanos de São Paulo - apoiou o candidato do PT, Arlindo Chinaglia (SP), contrariando a preferência da cúpula e da maioria pela candidatura de Aldo Rebelo (PCdoB-SP). O lançamento de Gustavo Fruet como terceira via uniu o PSDB no primeiro turno, mas no segundo o partido dividiu-se entre Chinaglia e Aldo.

O deputado José Aníbal (PSDB-SP), ex-presidente do partido, diz que, 19 anos depois de sua criação, é hora de o PSDB rever programa e posições. "No ano que vem tem eleições municipais e em 2010, presidenciais. O PT construiu uma máquina que exige de nós que apresentemos políticas, posições, rumos alternativos, senão essa máquina deles leva de trambolhada", disse. Segundo ele, o PSDB precisa balançar a bandeira, se mobilizar, formular políticas públicas para os novos desafios e recuperar a interlocução com a sociedade.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, diz que o PSDB reclama de seus problemas de "barriga cheia", já que o PT, maior rival, é campeão de complicações. Mas admite a necessidade de o partido se reciclar e se estruturar para enfrentar as eleições. "Qual partido tem candidato à altura dos três que a gente tem?", pergunta, referindo-se a Aécio, Serra e Alckmin. "É um partido competitivo. Mas tem que construir possibilidade de se manter competitivo. Para isso, tem que fazer duas coisas: se atualizar no discurso e cimentar sua unidade", disse.