Título: Governistas já articulam reunião com partidos para discutir coalizão
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 25/10/2006, Brasil, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai descansar dois dias depois das eleições e, caso seja confirmada a vitória no domingo, começará a chamar os presidentes de partidos aliados para discutir um programa de governo conjunto e iniciar os debates sobre o futuro ministério. Mas vai com calma, para dar tempo de o PMDB se recompor. Lula quer o partido unido e já avisou que, em um governo de coalizão, "as negociações precisam ser institucionais, envolvendo a direção partidária".

Durante toda a campanha, os interlocutores pemedebistas foram o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), o senador José Sarney (AP) e o deputado Jader Barbalho (PA). Na reta final, o grupo foi acrescido do líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR) e do deputado Geddel Vieira Lima (BA).

Mas nenhum deles comanda a máquina partidária, são apenas lideranças regionais importantes, com peso na legenda, mas sem condições de influenciar, isoladamente, os rumos nacionais do partido. "Para ser um governo de coalizão, os partidos precisam ser representados pela direção partidária", disse o ministro da coordenação política, Tarso Genro.

O Planalto aposta que, passado o segundo turno, o PMDB terá que aparar suas arestas internas. O próprio presidente da legenda, Michel Temer (SP) - que apóia a candidatura de Geraldo Alckmin - adiantou que pretende reunir seus correligionários para "tomar uma deliberação sobre o futuro. O importante é que o partido precisa sair unido". Temer defende ainda o adiantamento das discussões para o lançamento de uma candidatura pemedebista ao Planalto em 2010.

Os aliados do governo e o Palácio do Planalto contam com o PMDB integral na coalizão. Consideram o recado das urnas, que deu uma votação mais expressiva para o PMDB governista do que para os pemedebistas de oposição. Mas acham que está na hora de se colocar mais claramente as propostas do novo mandato.

Uma das pressões é para que se explicite mais claramente percentuais e metas de crescimento, investimento e emprego, ausentes no programa de governo apresentado antes do primeiro turno. "Precisamos deixar claro que a fase da estabilidade foi superada. Temos que propor 5% de crescimento anual e taxa de investimentos subindo de 20% para 25% do PIB", disse Renato Rabelo, presidente do PCdoB.

O presidente do PSB, Roberto Amaral (RJ), afirma que, se os partidos discutirem primeiro pontos em comum no programa para, depois, cobrar cargos na Esplanada, gera-se um comprometimento maior e diminui-se o espaço para as negociações no varejo. "Evidentemente, a política é feita de números, lideranças e cargos. Mas podemos diminuir o peso de alguns elementos nesta equação", pondera Amaral.