Título: Oposição rejeita diálogo com petista
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 25/10/2006, Política, p. A6

A oposição considerou "factóide eleitoral" e manifestação de "arrogância" a declaração do ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) sobre a intenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de procurar os partidos logo depois das eleições, para começar a discutir composição de governo. Com a afirmação, Tarso Genro criou nova frente de atrito com o PSDB e o PFL, que ontem continuaram a bater duramente no governo. A avaliação é que não será fácil para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconstruir pontes com a oposição, se for reeleito.

"O PT sofre de arrogância precoce. Essa declaração do ministro é de quem não acredita no voto como definidor de eleição", afirmou o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE). "Nós vamos ganhar a eleição e nosso interlocutor no governo vai ser aquele que demonstrar humildade na vitória e grandeza na derrota", continuou o dirigente tucano.

A cinco dias da eleição, tucanos e pefelistas já conversam reservadamente sobre o "day after", no caso de derrota do candidato da coligação PSDB-PFL a presidente, Geraldo Alckmin. Dirigentes dos dois partidos dizem que a união de forças das duas legendas será mantida, até por uma questão de sobrevivência política. Em relação ao governo, a tendência é manter dura cobrança das apurações dos escândalos envolvendo pessoas ligadas a Lula e ao PT. Com a perspectiva de derrota de Alckmin, as cúpulas do PSDB e do PFL começam a discutir como a oposição poderá conciliar o papel de denunciar o governo com a responsabilidade de aprovar projetos importantes ao país.

"A gente tem que deixar passar um tempo depois da eleição para discutir isso. Todo lutador, quando acaba a luta, tem que meditar", disse o líder da bancada tucana no Senado, Arthur Virgílio (AM). Para ele, o gesto de Tarso Genro é um "factóide eleitoral" de quem quer convencer a população de que a eleição está ganha. "Não passa de um gesto político eleitoreiro. Afinal de contas, há uma luta em curso, que está longe da definição. Teremos dias intensos pela frente. E soa como uma leviandade, porque soa como a tentativa de impingir à nação um fato consumado", disse. Para ele, o ministro está longe de ser o melhor interlocutor do governo com a oposição, já que vem atuando como "guerrilheiro" durante a eleição.

Para o líder do PFL, senador José Agripino (RN), a entrevista de Tarso Genro foi mais uma das "provocações" do governo, que têm contribuído para tensionar as relações com a oposição. O pefelista não vê possibilidade de aproximação entre oposição e governo tão cedo depois das eleições, independentemente do resultado.

"O Lula precisaria, primeiro, ganhar as eleições. Em segundo lugar, precisaria retirar todas as provocações que fez à oposição ao longo do processo eleitoral. E, em terceiro lugar, Lula teria que explicar todas as denúncias feitas contra seu governo. Feito isso, podemos conversar", disse José Agripino.

Ontem, senadores dos dois partidos cobraram da tribuna explicações do presidente sobre as suspeitas publicadas pela revista "Veja" contra Fábio Luiz, o "Lulinha", filho de Lula, de supostas irregularidades em operações envolvendo sua empresa Gamecorp e a Telemar.

"Nunca desejei investigar o filho do Lula, mas sempre disse aqui que ele tinha a obrigação de explicar por que entrou para a Telemar, por intermédio de uma empresa que tinha R$ 10 milhões de capital e que logo recebeu R$ 2 milhões, depois R$ 5 milhões, e depois, ao final, R$ 15 milhões para a Gamecorp", afirmou o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) da tribuna. "Quero que ele explique como pegou o dinheiro. Não estou pedindo nada demais. Estou apenas demonstrando como este governo pratica erros absurdos com o dinheiro público. É isso que está dando certos resultados na campanha eleitoral, não só o engodo, a mentira, a publicidade", disse o baiano.