Título: Ruralistas gaúchos também reprovam apoio de Maggi à reeleição
Autor: Zanatta, Mauro e Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 25/10/2006, Política, p. A8

Hostilizado pelos produtores rurais de Goiás e do Paraná por causa de seu apoio à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, considerado um algoz do agronegócio, o governador reeleito de Mato Grosso, Blairo Maggi, sofreu ontem um novo constrangimento durante encontro com lideranças ruralistas do Rio Grande do Sul.

Adversário do governo Lula e eleitor de Geraldo Alckmin, o presidente da federação estadual da agricultura, Carlos Sperotto, cobrou um "desembarque" de Maggi da campanha petista. "Ele virou peão caseiro do PT. Estamos indignados com esse apoio (a Lula). Estão usando a expressão dele na campanha em troca de um preço aviltado", afirmou o vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), em referência à promessa de liberação de R$ 1 bilhão pelo governo para socorrer produtores de soja.

Pressionado, Maggi tentou minimizar a reação dos ruralistas contra sua opção por Lula. "Não teve situação delicada nem hostilidades. Posição tem quem gosta e tem quem não gosta", disse ao Valor. "Não sou simplesmente líder agrícola. Sou governador e defendo meu Estado. Mas não mudei meus pontos de vista ou convicções. Se tiver um novo 'tratoraço', serei o primeiro a entrar em Brasília dirigindo um trator", afirmou. O governador não descartou a sua influência na escolha de um novo ministro da Agricultura. "Se a mim for solicitado, vou me manifestar na hora certa. Mas não falei nada disso com o presidente", disse. Sobre a reação de produtores de Goiás e do Paraná, que o chamaram de "traidor", saiu pela tangente: "Foi um protesto democrático. Tinha meia dúzia de caras do PSDB bravos no Paraná. Chamamos para conversar e eles entenderam".

Na condição de mediador entre Lula e o setor rural, que acusa o presidente de ignorar a crise do agronegócio, Maggi promete aproximar as lideranças com o governo reeleito. "No dia 30, vamos juntar forças. Se Lula for reeleito, vou chamar todos para conversar".

O embaraço de Maggi em Porto Alegre foi ainda maior porque sua visita não incluía o encontro com dirigentes da Farsul. O governador teve que voltar do aeroporto para dar satisfações aos ruralistas. "Não fomos convidados para o encontro dele com empresários. E dissemos que não aceitávamos a vinda dele dessa forma. Aí, ele se dispôs a aparecer aqui", afirmou Carlos Sperotto.

Pela manhã, Maggi tomou café com o candidato petista ao governo gaúcho, Olívio Dutra. Em seguida, almoçou com cerca de 20 empresários ligados ao agronegócio. E, segundo relatos, chegou a ser aplaudido ao fim da reunião. Um empresário presente ao almoço disse que Maggi foi questionado se o apoio a Lula envolvia uma renegociação de suas dívidas. Maior produtor individual de soja do mundo, Maggi disse que suas empresas "estão bem" e que "não necessitam" de socorro oficial. Sperotto foi irônico ao afirmar que o setor daria "muito mais pelo governador Blairo do que R$ 1 bilhão". "Compraram o passe dele muito barato. O Rio Grande daria cinco ou seis bilhões pelo passe dele", disse. Como resposta, o governador reiterou ter sido "mal interpretado" no episódio e que o fato está sendo "explorado eleitoralmente" pelos adversários de Lula.

Para amenizar o tom, Sperotto disse que as "profundas divergências" em relação ao apoio de Maggi no segundo turno da eleição não são impedimento para uma amizade que tem "laços muito fortes". E acrescentou que o setor teria "sorte" se o governador do Mato Grosso fosse chamado a ocupar o Ministério da Agricultura, hipótese que o próprio Maggi refutou com veemência.

Durante as entrevistas que concedeu durante a manhã, Blairo Maggi disse que a eventual vitória de Geraldo Alckmin representaria uma "perda de tempo" para o setor, que conseguiu "grandes avanços" nas negociações com o governo para apoiar o setor rural no caso das dívidas e da criação de novos mecanismos de comercialização. "Com um novo governo, certamente teríamos mais um ano e pouco pela frente para chegar ao estágio em que estamos com o atual", afirmou.

Maggi afirmou que há "compreensão" do governo Lula sobre as dificuldades do setor e "mecanismos no forno, prestes a sair" para ampliar o apoio oficial. Maggi citou a liberação dos transgênicos - de soja, milho e algodão -, a redução da burocracia e a liberação das importações (de defensivos). Ele lembrou que sob o governo Fernando Henrique Cardoso o setor enfrentou uma crise "mais séria e mais longa" em função da sobrevalorização do real. "Eles já estiveram aí oito anos e sei da dificuldade da compreensão que eles têm com o setor agrícola". Nascido no Paraná, mas registrado como gaúcho, Maggi disse que os tucanos "são muito paulistas" e que "não tem conversa com este pessoal" se o assunto não for do interesse de São Paulo.