Título: Intervenção estatal assusta, mas nova gestão agrada investidores
Autor: Bortolozi , Tatiane
Fonte: Valor Econômico, 28/09/2012, Empresas, p. B2

O processo de capitalização deixou um certo amargor entre os acionistas minoritários da Petrobras. O governo aproveitou a maior emissão de papéis da história para aumentar a participação na companhia; desde então, as constantes intervenções em políticas de preços ou na própria gestão arranham a credibilidade da estatal. Mas uma esperança de melhora vem com a gestão de Maria das Graças Foster, dizem analistas.

Há dois anos, a Petrobras emitia 4,27 bilhões de ações na bolsa brasileira, captando R$ 120,36 bilhões. Mas "o tratamento diferenciado concedido ao acionista controlador na capitalização, o fato de R$ 7 bilhões dos R$ 47 bilhões aportados [em dinheiro na empresa] terem sido usados para pagamento ao governo federal, bem como a possibilidade de que tais procedimentos sejam novamente usados, prejudicaram profundamente a avaliação da empresa", diz a Geração Futuro Corretora, em relatório.

A diluição de capital foi especialmente dura para os estrangeiros, que investiam na ação com os recibos das ações (ADRs, na sigla em inglês) nos Estados Unidos. Ao não participarem da capitalização por razões técnicas, a fatia deles no capital da petrolífera caiu de 40% para 33%. Hoje, está em 34%. Os acionistas diretos e indiretos, na época da capitalização eram 827 mil no Brasil. Agora, são 656 mil. Nos Estados Unidos, passaram de 300 mil para 276 mil.

A estatal brasileira também afasta acionistas ao não repassar o aumento de preços do petróleo aos combustíveis das refinarias, em um esforço para ajudar o governo a conter a disparada da inflação. Apesar de comemorada pelos consumidores nas bombas de gasolina, a decisão provoca muita preocupação entre investidores.

O aumento de 7,83% no preço da gasolina e dos dois reajustes do diesel, de 3% e 6%, em junho e julho, nesta ordem, foram insuficientes para compensar a defasagem dos preços dos combustíveis desde o início do ano. Esse é um dos principais motivos para o prejuízo registrado no segundo trimestre, o primeiro em mais de 13 anos.

"O maior problema da Petrobras é a governança", afirma Wagner Salaverry, sócio-diretor da Geração Futura Corretora de Valores. "A empresa tem dificuldade de mostrar aos minoritários suas decisões, entre elas o repasse de preços, provocando perdas no resultado", explica. Na contramão do setor, a empresa tem prejuízo com a alta do produto que vende.

Luiz Francisco Caetano, analista da Planner Prosper Corretora, observa que a geração de caixa é pressionada por uma produção que não cresce, apesar dos robustos investimentos.

"A produção em julho foi de 1,94 milhão de barris de óleo por dia no Brasil, o mesmo número de fevereiro de 2009. Depois de investir US$ 140 bilhões, de 2009 ao primeiro semestre de 2012, a produção segue estagnada", ressalta Caetano.

O pré-sal deve trazer efeitos concretos na produção somente a partir de 2014. Antes disso, a expectativa dos analistas ouvidos pelo Valor é que um reajuste da gasolina no início do próximo ano é inevitável.

Outro consenso é que a empresa caminha para a melhora de sua governança após Maria das Graças Foster ter substituído Sérgio Gabrielli na presidência da companhia, em fevereiro.

"A administração parece focada na monetização das reservas, e não mais em descobertas. O discurso é muito positivo e aponta para o aumento da produção e dos preços. É tudo o que o mercado quer ouvir", diz Caetano.

No resultado do segundo trimestre, quando a empresa divulgou o primeiro prejuízo em mais de dez anos, Graça Foster rompeu a tradição e participou pessoalmente da teleconferência.

A franqueza ao explicar a contabilidade da empresa e a promessa de melhorar a rentabilidade convenceu analistas. "Essa conjunção de fatores não deverá se repetir, com a mesma magnitude, em trimestres próximos", disse ela na ocasião.

No mesmo dia da teleconferência, as ações preferenciais, que haviam começado o pregão caindo mais de 5%, fecharam estáveis. Na terça, avançaram mais 1,66%. O analista William Alves, da XP Investimentos, creditou a melhora no rendimento dos papéis à apresentação de Graça Foster, "reiterando a necessidade de reajustes".

Para Mauro Rodrigues Cunha, presidente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec), a nova administração parece estar consciente dos problemas e indica um cenário melhor para a empresa, mas a governança ainda precisa melhorar. "A política do governo e as decisões tomadas pela companhia não devem se misturar e precisam passar pelo escrutínio do conselho", diz. (TB)