Título: Integrantes da CPI divergem sobre a documentação enviada pela PF
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 25/10/2006, Política, p. A10

A divisão entre os membros da CPI das Sanguessugas ficou mais acirrada, ontem, por causa da divergência em torno da questão do recebimento ou não das quebras de sigilo das investigações sobre a compra do dossiê anti-PSDB pela Polícia Federal. De um lado, o presidente da CPI, Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), jura ter recebido um disquete com as informações secretas. De outro, deputados da oposição e a própria secretaria da CPI desmentem o petista.

As quebras de sigilo bancário, fiscal e telefônico de diversos suspeitos de envolvimento no caso do dossiê deveriam acompanhar o relatório parcial sobre o assunto elaborado pela PF, entregue à Justiça na semana passada e repassado ontem pela manhã à CPI. "Não veio nada. Nem as quebras, nem os vídeos do hotel em São Paulo onde foi apreendido o dinheiro do dossiê, nem transcrições de escutas telefônicas. Pedimos isso há cinco dias e nada chegou. O que é isso senão obstrução dos trabalhos?", protestou o vice-presidente da CPI, deputado Raul Jungmann (PPS-PE).

"A responsabilidade é da Polícia Federal. Não sei se o juiz Jeferson Schneider contribui para isso. Vou consultar os demais integrantes da comissão para analisarmos o que vamos fazer", completou o parlamentar, ao citar o juiz federal encarregado do inquérito em Cuiabá. Oficialmente, a CPI realmente não recebeu qualquer CD com informações referentes aos sigilos. Além do relatório, recebeu apenas cópias de depoimentos e documentos relacionados a ações de busca e apreensão.

Biscaia, no entanto, diz que recebeu um CD. "Vieram as quebras de sigilo", revelou. "Li os anexos integralmente. Não há quase nenhuma referência à compra do dossiê." Nem a secretaria da CPI tinha essa informação. Entre alguns integrantes da comissão, há o sentimento de que Biscaia pretende preservar a PF de eventuais acusações de obstrução dos trabalhos. Nos últimos dias, o petista tem reiterado que a polícia está fazendo tudo para revelar de onde veio o R$ 1,7 milhão que seria usado para pagar a família Vedoin, chefe da máfia das Sanguessugas, pelo dossiê.

As acusações de obstrução têm partido dos deputados da oposição. Na segunda-feira, Biscaia acusou-os de servirem como assessores do candidato do PSDB a presidente, Geraldo Alckmin. "Aqui não existe assessor de candidato. Só há parlamentar e assessoria técnica. Dizer isso desqualifica os parlamentares", disse Jungmann. E reclamou: "Fomos muito céleres quando tivemos de julgar os deputados no primeiro turno. Acho que isso também deve valer para esse segundo turno. Não pode ser nesse ritmo".

Biscaia marcou para os dias 7, 8 e 9 de novembro os depoimentos dos quatro ex-ministros da Saúde do período de atuação das sanguessugas: José Serra e Barjas Negri, tucanos, e Humberto Costa (PT) e Saraiva Felipe (PMDB).