Título: Biocapacidade do planeta está acabando, diz WWF
Autor: Carey, John e Woellert, Lorraine
Fonte: Valor Econômico, 25/10/2006, Internacional, p. A13

A população mundial já consome 25% a mais de recursos biológicos do que o planeta pode produzir (regenerar) por ano. A constatação é do relatório "Planeta Vivo", divulgado ontem pelo Fundo Mundial para a Natureza (conhecido pela sigla inglesa WWF), sediado nos arredores de Genebra. EUA, União Européia (UE), China, Índia e outros grandes economias utilizam os recursos naturais de uma maneira que pode levar a uma catástrofe em algumas décadas. Se o ritmo de degradação continuar, a humanidade vai consumir em 2050 duas vezes mais recursos que o planeta pode gerar anualmente.

O WWF utiliza um método sobre o impacto das atividades humanas chamado "pegada ecológica", elaborado pelo engenheiro suíço Matthis Wackenagel, cada vez mais reputado entre os estatísticos do meio-ambiente.

A "pegada" mede a pressão da humanidade sobre a biosfera, avaliando quantos hectares são necessários em média para fornecer os recursos biológicos (alimentos, madeira, fibras, óleo etc.) que uma pessoa consome, além da absorção dos resíduos de suas atividades (sobretudo dióxido de carbono).

Os últimos dados, relativos a 2003, indicam que a "pegada ecológica" da humanidade mais que triplicou desde 1961. Um habitante do planeta necessita hoje de 2,2 hectares "globais" para seu consumo e poluição, mas o planeta só tem capacidade de 1,8 hectare.

Os habitantes dos EUA são os campeões no uso de recursos naturais, com 9,6 hectares per capita. Em comparação, um francês precisa de 5,6 hectares, um japonês 4,4 e um moçambicano de apenas 0,4.

Já o consumo médio per capital dos brasileiros exige 2,1 hectares e coloca o país na 58ª posição da "pegada ecológica", na média mundial. O consumo é acima do que o planeta agüenta, mas o país tem o maior crédito ecológico entre os principais países.

Regionalmente, a situação é idêntica. Com a enorme demanda nos EUA e no Canadá, a América do Norte registra o débito ecológico mais alto por habitante, de 3,7 hectare per capita. A UE tem débito de 3,4 hectares. China e Índia, que assustam o mundo com o ritmo de seu crescimento econômico, também têm déficit ecológico.

Na outra direção, a América Latina tem reservas ecológicas de 3,4 hectares globais per capital, com "pegada" média por pessoa de um terço da capacidade disponível.

Se o consumo é cada vez maior nos países desenvolvidos, as maiores perdas naturais ocorrem nas áreas em desenvolvimento. Em 30 anos, 55% das espécies tropicais desapareceram por causa da conversão de habitats naturais em lavouras e pastagens. Peixes de água doce sofreram redução de 30%. Metade dos manguezais da América Latina foram destruídos, num total de dois milhões de hectares.

A maior "pegada ecológica" mundial, aquela que mais consome recursos, é dos Emirados Árabes Unidos, com 12 hectares por pessoa. Os EUA, a Finlândia e o Canadá vêm em seguida.