Título: Os três porquinhos do Planalto
Autor: Pariz, Tiago; Iunes, Ivan; Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 20/11/2010, Política, p. 2

Dilma Rousseff oficializa o apelido criado por peemedebistas para se referir aos ex-coordenadores de campanha e hoje responsáveis pela mudança de governo, Cardozo, Dutra e Palocci O que era um apelido pejorativo, criado por correntes do aliado PMDB, virou marca oficial do triunvirato responsável pela coordenação da campanha de Dilma Rousseff à Presidência ¿ e que hoje ocupa lugar central na transição de governo. José Eduardo Dutra, José Eduardo Cardozo e Antonio Palocci tiveram o apelido de ¿os três porquinhos¿ confirmado pela presidente eleita em tom de brincadeira e agradecimento, durante a reunião do Diretório Nacional do PT, ontem, no Centro de Convenções Brasil XXI.

O apelido foi criado pelos peemedebistas durante a campanha como uma reclamação jocosa aos três assessores mais próximos da então candidata à Presidência ¿ e que centralizavam a maioria das decisões. Ontem, ao agradecer o papel que os três desempenharam, Dilma lançou mão do episódio para brincar com o trio. ¿Os `três porquinhos¿ foram muito bem-sucedidos na coordenação da minha campanha. Encontrei neles companheiros de todas as horas¿, elogiou a presidente eleita.

Mesmo antes de tomar as colunas políticas, o apelido já era utilizado nos bastidores de campanha pela própria Dilma. Dos três, apenas Dutra havia arriscado tecer comentários sobre a comparação dos políticos aos personagens da fábula, mas em tom de reclamação, via Twitter. Ele chegou até a reivindicar o papel do Prático ¿ o mais responsável do conto infantil. Mas depois que a alcunha virou brincadeira pública com a declaração de Dilma, Cardozo, secretário-geral do PT, decidiu assumir para si a divisão de papéis.

Segundo o porquinho Cícero (como Cardozo se define), Palocci seria o Prático e Dutra, Heitor. ¿A presidente incorporou (o apelido) e, a partir daquele momento, ela sempre nos chamava de os três porquinhos. Nós riamos e brincávamos: `O que há em comum entre nós, além da barriga, a ter esse apelido?¿. Eu tenho a impressão de que o Prático é o Palocci; o Heitor, o Dutra; e o Cícero sou eu¿, apontou Cardozo.

Trabalho A partir de janeiro, o papel dos três porquinhos deve ir muito além do que sugere a fábula sobre responsabilidade e trabalho. Enquanto Palocci é cogitado para um ministério na antesala do Palácio do Planalto, Cardozo também deve receber uma pasta na Esplanada, enquanto Dutra teria interesse em assumir o mandato de senador ¿ ele é suplente de Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), que pode ganhar um cargo no Executivo.

Durante a campanha, no auge do estresse da virada do primeiro para o segundo turno, os três porquinhos foram alvo da insatisfação de aliados. Dentro do núcleo duro da campanha, o marqueteiro João Santana reclamou, segundo parlamentares, diversas vezes, da dificuldade de trabalhar com Dutra, Palocci e Cardozo pela manhã. Dilma, por outro lado, começava a rotina sempre cedo, logo após as 6h, com uma caminhada.

PALHA, MADEIRA E ALVENARIA A fábula dos três porquinhos conta a história de três suínos que saem da casa da mãe para viverem sozinhos. Cícero, por ser o mais preguiçoso, faz uma casa de palha. Heitor constrói uma cabana de madeira e Prático, de alvenaria. Quando o Lobo Mau tenta comer os porquinhos, consegue destruir as moradias de Cícero e de Heitor, mas ambos conseguem se refugiar com o irmão. A ¿fortaleza¿ acaba por manter os três protegidos do inimigo.

Quem é quem na fábula

José Eduardo Cardozo (Cícero) Deputado federal eleito por São Paulo nas duas últimas legislaturas, assumiu o posto de Cícero ¿ o mais preguiçoso, que construiu uma cabana de palha ¿ para fazer média com os outros dois companheiros de coordenação.

José Eduardo Dutra (Heitor) O presidente do PT é o negociador oficial de Dilma com os partidos aliados. Apesar de ter sido classificado como o porquinho que levantou uma casa de madeira, foi o primeiro a admitir o apelido na internet.

Antonio Palocci (Prático) O deputado federal e ex-ministro da Fazenda é apontado como o político mais pragmático dos três. É dele o livro Sobre formigas e cigarras, que conta os bastidores de suas decisões frente os 1.181 dias que ficou à frente da pasta. Atua como chefe da equipe técnica do governo de transição.