Título: Prefeito petista adere ao PSB de Campos
Autor: Camarotto , Murillo
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2012, Política, p. A7

Longe dos holofotes desde que foi alijado da disputa pela reeleição, o prefeito do Recife, João da Costa (PT), atacou publicamente o candidato do seu partido na corrida municipal, o senador Humberto Costa (PT). Em entrevista coletiva convocada somente para responder aos adversários, o prefeito manifestou apoio ao candidato do PSB, Geraldo Julio, caso este enfrente no segundo turno o tucano Daniel Coelho, possibilidade mais factível segundo as pesquisas de intenção de voto.

Apesar de garantir que, por fidelidade partidária, irá votar em Humberto Costa no domingo, João da Costa é acusado por petistas de já estar fazendo campanha para o candidato do PSB, contra quem o PT trava uma batalha cada vez mais virulenta. Informações de bastidores dão conta de que pessoas ligadas ao prefeito, inclusive secretários, estariam organizando reuniões com servidores para pedir votos a Geraldo Julio.

Foi justamente por esse motivo que, na sexta-feira, o candidato petista usou boa parte do seu programa eleitoral para criticar a atual gestão municipal e admitir, pela primeira vez, que a indicação de João da Costa, há quatro anos, foi um erro. "Infelizmente, a atual administração do Recife, sobre a qual reconhecemos a nossa responsabilidade, não correspondeu às expectativas", disse Humberto Costa.

Por conta do alegado apoio ao candidato do PSB, o comando do PT em Pernambuco já fala na abertura de um processo de expulsão do prefeito após as eleições. A baixa popularidade e a imperícia política custaram a reeleição de João da Costa, que foi indicado pelo antecessor no cargo, o deputado federal João Paulo Lima e Silva, hoje candidato a vice na chapa petista. Criador e criatura brigaram no início da atual gestão e nunca mais se falaram.

Retirado da disputa, João da Costa se tornou um mico para o PT, que não soube como tratar da gestão municipal durante a campanha. No início, Humberto Costa tentou se aproximar do prefeito que, magoado, negou-se a pedir votos para o senador. Paralelamente ao rebuliço interno, a candidatura petista foi atropelada pelo poderio do governador Eduardo Campos (PSB), cujo candidato saiu do anonimato para a liderança nas pesquisas em poucas semanas.

Apesar de negar o apoio imediato ao PSB, o prefeito disse na coletiva que irá "bater de porta em porta" pedindo votos para Geraldo Julio caso a eleição vá ao segundo turno. O apoio, contudo, não é bem vindo no PSB, que não deseja se atrelar à imagem desgastada de João da Costa, apesar de o partido ocupar atualmente a vice-prefeitura.

A meta do PSB é não cometer erros e intensificar o trabalho na reta final da campanha em busca de uma vitória ainda no primeiro turno, satisfazendo, assim, o conhecido apreço de Campos por vitórias contundentes. Com 42% das intenções de voto, segundo a última pesquisa do Datafolha, o partido acredita ter boas chances de levar a prefeitura já no domingo.

Com pesquisas internas apontando um patamar muito próximo de 50% de votos válidos, o PSB entrou em clima de alto astral na última semana da campanha, deixando para trás o belicismo das semanas anteriores. Milhares de eleitores da cidade estão recebendo telefonemas com gravações em que Geraldo Julio pede, além do voto, que as intrigas contra ele sejam ignoradas. O candidato se refere à polêmica envolvendo o projeto de parceria público privada da companhia estadual de esgoto (Compesa), que está sendo tratado pelos petistas como privatização.

Também esta semana, o governo estadual lançou uma ampla campanha nos principais veículos de comunicação do Recife, na qual garante que a Compesa não será privatizada. Os anúncios geraram novas críticas por parte do PT, que alega uso de dinheiro público para tratar de questões eleitorais. Campos e seus aliados, no entanto, só pensam na vitória. Reconciliado com o governador após 20 anos de separação, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) debochou do adversário petista, em entrevista à imprensa local: "Vai ser uma chinelada."