Título: Gerdau perde competitividade para usinas no exterior com alta de custos
Autor: Rockmann, Roberto
Fonte: Valor Econômico, 25/10/2006, Caderno Especial, p. F2

Em 2003, entre as dez usinas da Gerdau com preços mais competitivos de energia em todo mundo, oito estavam instaladas no Brasil. Três anos depois, a situação mudou: apenas duas figuram nesse grupo. O forte crescimento dos encargos setoriais, que saltaram de R$ 5 bilhões em 2003 para R$ 13,2 bilhões no ano passado, o realinhamento tarifário iniciado no início do governo Lula e a escalada tributária são alguns dos principais motivos das contas de luz mais salgadas para as fábricas da siderúrgica no Brasil.

O cenário poderá ficar ainda pior. Segundo o vice-presidente da empresa e também da Associação Brasileira de Grandes Consumidores de Energia (Abrace), Érico Sommer, as pressões de custos são crescentes. "O cenário futuro é ainda mais preocupante", afirma. "Esses aumentos estão fazendo com que as usinas brasileiras paguem preços mais elevados de energia em relação às fábricas no exterior. Este efeito é preocupante, já que a matriz brasileira é hídrica e, em países com características semelhantes, como Canadá e Noruega, os preços estão mais competitivos", afirma o executivo

Os empresários enxergam que os atuais preços dos leilões de energia têm sinalizado uma forte tendência do aumento do preço futuro. Enquanto a energia negociada até o fim desta década se mantém num patamar próximo de R$ 100 o MWh, a nova energia já aponta uma cotação muito maior. A dificuldade de licitação de empreendimentos hidrelétricos - energia mais barata - está fazendo com que aumentem os projetos de energia térmica. No leilão realizado em outubro, das 38 usinas leiloadas, 21 eram de fonte termelétrica, e 17, de hidrelétrica. Dos 1100 MW médios contratados, 48% vieram de termelétricas. Além disso, os custos sócio-ambientais e de construção têm aumentado.

Na Gerdau, a participação da energia nos custos de produção varia de 2% a 12%, dependendo do processo utilizado e da usina. Por exemplo, em uma etapa de produção, em 2004, o custo da energia ficava em 8%. Dois anos depois, ele saltou para 10% - uma alta de 25%. A siderúrgica tornou-se consumidora livre a partir de 2005, mas mantém um portfólio variado de contratos também com o mercado cativo.

Há outras preocupações entre os grandes consumidores. Após o racionamento de energia e as chuvas abundantes no segundo semestre de 2002 e em todo o ano de 2003, houve uma sobra de energia conjuntural. "Agora, o mercado vive uma fase de ajuste entre oferta e demanda, que associada à baixa oferta de novas hidrelétricas, tem levado a uma tendência de aumentar a dificuldade futura para renovação ou ampliação dos atuais contratos livres", diz Sommer.

Outro complicador é que o modelo do setor elétrico aprovado em 2004 tem estimulado a migração da oferta futura de energia, que poderia ser destinada ao mercado livre, para o cativo. Já os auto geradores - que no modelo anterior eram os principais vencedores dos leilões de empreendimentos - têm sido desestimulados a investir em projetos com o aumento de encargos e a instabilidade regulatória. (R.R.)