Título: Resultado de pesquisa aumenta tensão no comando petista
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2012, Política, p. A8

Embora o PT acredite que o candidato a prefeito de São Paulo pelo partido, Fernando Haddad, avançará ao segundo turno da disputa, sua estagnação nas pesquisas de intenção de voto aumentou a tensão interna e as especulações sobre mudanças de rumo numa eventual próxima fase da disputa.

A maior insatisfação é com o marqueteiro da campanha, João Santana, apontado como responsável pela estratégia inicial de focar o eleitor da classe média e fazer o contraponto a José Serra (PSDB), e não a Celso Russomano (PRB). Isso, na avaliação de petistas, deixou o eleitor do partido à deriva para que Celso Russomano o cativasse.

Além disso, fala-se que Santana centralizou a condução da campanha e não deu espaço para que o vereador José Américo, indicado pelo partido para assessorá-lo, manifestasse a posição partidária sobre o rumo da campanha. Quando o fez, Santana não lhe deu ouvidos. Por exemplo, ao decidir pelo azul como cor paralela ao vermelho petista e ao abandono da estrela, tradicional símbolo da legenda.

Santana só mudou a campanha após a intervenção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana passada, quando pesquisas não mostraram grandes evoluções. Foi a hora de partir para a periferia e tentar estancar a perda de voto em seus redutos históricos.

As opções do próprio Haddad, em especial na pré-campanha, também é outro elemento de insatisfação dentre petistas. Integrante da corrente Mensagem ao Partido, o candidato evitou que petistas ligados à corrente interna Construindo Um Novo Brasil (CNB) assumissem o comando da campanha. Temia ingerências do grupo ligado a José Dirceu, que tem influência sobre boa parte da bancada federal e estadual.

O resultado foi o alijamento de petistas mais experientes na campanha no maior colégio eleitoral do país. Não se vê, por exemplo, integrantes da direção nacional e estadual atuando na campanha como nas passadas. Toda a coordenação está nas mãos de vereadores. Não há, portanto, aglutinação de forças em prol dos candidatos.

Apenas nesta semana, quando a presidente Dilma Rousseff participou de um comício na zona leste é que foi visto pela primeira vez todo o partido unido. Situação que também fez os excluídos da campanha durante o primeiro turno clamarem por alterações no segundo. Querem um comando colegiado para as semanas finais. Há o receio, porém, de que possa ser tarde demais para reverter o cenário.

Nas conversas com petistas, fica claro também que, ao apontarem a artilharia contra Santana, Haddad e a coordenação da campanha, ocorre também um processo de diminuição da responsabilidade de Lula em toda a campanha. É fato que Lula, em recuperação do câncer, não participava do dia-a-dia da campanha até esta reta final, quando passou a cumprir agenda diária com Haddad. Mas não há dúvida de que o candidato só existiu a partir de sua escolha.

A interlocutores, Lula atribuiu as dificuldades de alavancar Haddad ao fato de o PT não ter focado a campanha na chamada "nova classe média" formada a partir de seu governo e que, após experimentar a ascensão social, anseia por serviços públicos de qualidade -o mote da campanha de Russomano.

Ainda assim, ele, como os demais petistas, acreditam que a eleição chegará embolada no domingo e que Haddad irá ao segundo turno. As pesquisas internas do PT apontam crescimento de Haddad nas zonas sul e leste, mais pobres e populosas, e queda constante de Russomano.

Os votos do candidato do PRB têm migrado tanto para Serra quanto para Haddad como ainda para Gabriel Chalita (PMDB, mas o movimento maior seria para o petista. Na zona leste, dizem os petistas, Haddad já passou Russomano e vence por 33% a 29%.