Título: Chalita atrai votos que deixam o PRB
Autor: Taquari , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2012, Política, p. A9

Eleição se decide no dia". A máxima costuma ser usada com alguma frequência por candidatos que, fora do páreo, procuram dar um sopro de esperança aos seus eleitores. Gabriel Chalita (PMDB) não foge à regra. Recorre à frase para justificar a expectativa de surpreender na reta final e chegar ao segundo turno da disputa pela Prefeitura de São Paulo. O pemedebista, no entanto, nem precisaria apelar para clichês políticos. Independente do resultado de domingo, Chalita chega ao fim do primeiro turno com uma certeza. Sai da eleição maior do que entrou.

Se passar para a próxima fase, desponta como a grande novidade da eleição paulistana. Em caso de derrota, seu apoio passa a ser determinante para as pretensões dos dois finalistas, sobretudo em um cenário que inclua a presença de Celso Russomanno (PRB). Isso porque José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT), que hoje disputam o segundo lugar nas pesquisas, tendem a ficar em lados opostos no segundo turno da sucessão municipal. Ou seja, os votos do pemedebista podem ser a chave da vitória para tucanos e petistas.

A três dias da eleição, esse apoio representa 11% da preferência do eleitorado paulistano, de acordo com o Datafolha. Os levantamentos recentes mostram que Chalita cresceu, ainda que de forma modesta, ao herdar votos de Russomanno. O pemedebista alcançou os dois dígitos nas pesquisas na última semana antes do primeiro turno, depois de oscilar boa parte da campanha entre 6% e 8%.

Trata-se um desempenho razoável para um candidato que disputa um cargo majoritário pela primeira vez e por um partido sem a mesma tradição do passado na capital paulista, principalmente após a morte do governador Orestes Quércia. Chalita também não tem padrinhos políticos do calibre do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do governador Geraldo Alckmin.

Sua principal arma neste sentido é o presidente licenciado do PMDB, Michel Temer, que embora tenha sido eleito vice-presidente da República na chapa com Dilma Rousseff há dois anos, teve certa dificuldade para se reeleger deputado federal na eleição de 2006, quando dos 70 deputados eleitos, ficou no 52º lugar, com 99 mil votos. A explicação para ascensão de Chalita nas pesquisas pode estar relacionada com diversos fatores, desde o recall conquistado na campanha de 2010, quando foi o segundo deputado federal mais bem votado por São Paulo, com 560 mil votos, até a insatisfação dos eleitores com as demais opções.

Essa, inclusive, é a avaliação do pemedebista, que aposta na migração de votos do candidato do PRB e no menor índice de rejeição (15%) entre os principais nomes na disputa para chegar ao segundo turno. "Quem foi para o Russomanno rejeita o Serra e também não quer o PT. Então, ele [eleitor] foi no novo, que era o Russomanno, mas eu também sou o novo. Quando as pessoas perceberam que ele [Russomanno] não tinha propostas, esses votos começaram a migrar", disse.

A imagem de "bom moço" também contribui para atrair o voto de eleitores descrentes com a classe política. O pemedebista veste a carapuça ao cumprir uma agenda de campanha que prioriza caminhadas e carreatas, especialmente pelas zonas sul e leste da capital, as mais populosas.

Chalita age com desenvoltura na rua. Pega crianças no colo, atende a dezenas de pedidos de fotos, ouve demandas de forma paciente e não se intimida quando se depara com um eleitor arredio, que se nega a estender a mão para cumprimentá-lo. Enquanto isso, os olhos permanecem atentos para ver se nenhum potencial eleitor ficou para trás, sem ser abordado. Idosos e crianças estão entre seus maiores fãs. Frequentemente é chamado de "bonitão" nas ruas, principalmente por mulheres mais velhas.

A acolhida nas ruas, por outro lado, reflete um trabalho anterior à eleição. Preocupado em voltar a ter um protagonismo no Estado, o PMDB visitou bairros para ouvir cidadãos sobre os problemas da cidade. A tática foi repetida depois por Chalita, quando ainda era pré-candidato.

Durante a campanha, o pemedebista concentrou as críticas em Russomanno, pela falta de projetos e experiência, e em Serra, por ter abandonado a prefeitura e o governo do Estado antes do fim do mandato. Com o tucano, aliás, protagonizou embates nos três debates realizados na TV, quando um acusou o outro de mentiroso.

Entre suas principais propostas na educação estão a construção de mil novas creches para atender uma demanda de 150 mil crianças e a implantação do ensino em período integral. Na saúde, defende convênios com o governo federal para a implantação de 39 Unidades e Pronto Atendimento (UPAs) e a construção de quatros novos hospitais.

Com relação aos transportes, propõe o Expresso Zona Leste. Com investimento de R$ 249 milhões, o programa promete fazer o trajeto Itaquera-Praça da Sé, de 18 quilômetros, em 30 minutos. Os ônibus sairiam da zona leste sem parada, utilizando uma faixa da avenida Radial Leste. Serão 450 ônibus novos, com 14 terminais acoplados a estação de metrô e 25 linhas expressas sem parada, com uma faixa exclusiva por sentido e integração com o Bilhete Único.