Título: Dilma rebate críticas de Aécio em comício
Autor: Moura , Marcos de
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2012, Política, p. A11

A presidente Dilma Rousseff fez ontem uma série de críticas ao senador Aécio Neves, seu provável adversário nas eleições presidenciais de 2014. Durante um discurso de quase meia hora num comício de Patrus Ananias, candidato do PT à Prefeitura de Belo Horizonte, a presidente rebateu diversas vezes um comentário de Aécio do início da semana, quando usou o termo "estrangeiro" ao se referir à participação dela na campanha da cidade.

O tucano é o principal apoiador do prefeito e candidato à reeleição, Marcio Lacerda (PSB).

Dilma começou dizendo que nasceu e cresceu em Belo Horizonte e que considera "muito estranho e muito suspeito" quem agora a chama de estrangeira. Segundo ela, quem a classifica de estrangeira revelam uma "visão mesquinha da vida" e acha que "é capaz de apagar com borracha minha certidão de nascimento". E continuou dizendo que causa a ela um "profundo desgosto" ver como "o ser humano é capaz de confundir seus interesses pessoais com interesses do país".

No que soou ainda como uma referência sarcástica a Aécio, Dilma relembrou o início de sua militância política em Belo Horizonte e disse que deixou a cidade em sua juventude porque estava sendo perseguida pelo regime militar. "Quando saí daqui não foi para passear, para ir para a praia". Quando não está em Brasília, Aécio passa parte de seu tempo no Rio e parte em Belo Horizonte.

Durante o discurso, talvez um dos mais ácidos até agora contra Aécio Neves, Dilma ainda rebateu declarações recentes do senador sobre o veto presidencial a uma emenda tucana que previa o aumento do pagamento de royalties das mineradoras aos Estados e municípios. Aécio disse que era uma "maldade" o que Dilma fazia com Minas - que seria o Estado mais favorecido com a medida.

O veto causou certo furor entre os tucanos mineiros que participam da campanha de Lacerda, que chegaram a dizer que eleitores de Minas não votam em quem trai os interesses do Estado. Segundo ela o veto foi necessário porque o projeto tinha falhas e poderia ser contestado, caso aprovado, pelas empresas mineradores na Justiça.

"Como eu não quero isso, nós vetamos e vamos fazer a lei da mineração cobrando royalties do minério como se cobra royalties de petróleo. A regra é essa. Minério tem que pagar royalties como paga o petróleo", disse ela.

Em outro trecho do discurso, Dilma fez uma menção à disputa de São Paulo e à escolha da senadora Marta Suplicy para o cargo de ministra da Cultura, logo após ela ter finalmente se envolvido diretamente na campanha do candidato do PT à prefeitura Fernando Haddad. A indicação ao ministério foi interpretada como uma troca pela participação de Marta na campanha. Marta, segundo Dilma, será uma das melhores ministras da Cultura da história do país. "É mulher de fibra e de luta", disse Dilma.

Sobre Patrus, Dilma o classificou como um homem especial, que sabe que o mais importante é saber lidar com as pessoas e que foi um dos responsáveis pelo fato de o Brasil ser visto com tanto respeito no exterior em razão da redução dos indicadores de pobreza. Isso porque Ananias foi o ministro que ajudou a implementar o Bolsa Família no governo Lula e outras políticas sociais.

Aécio soltou nota rebatendo a presidente: "É lamentável ver que, até hoje, a presidente Dilma precisa gastar a maior parte do seu tempo tentando convencer os mineiros de que ela é mineira de fato. (...) Infelizmente, nesse caso, sou forçado a concordar com o ex-presidente Lula. Como ele já disse: "a gente tem uma gaúcha governando esse país..."