Título: Temer pressionado a se tornar "mais vice"
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 20/11/2010, Política, p. 4

Episódio do "blocão" deixou o presidente do PMDB e da Câmara numa saia justa entre seu partido e o PT

O feitiço virou contra o feiticeiro. Depois da fracassada operação do PMDB de montar um bloco para cobrar a manutenção de espaço no governo Dilma Rousseff, o vice-presidente eleito, Michel Temer, viu enfraquecer a posição de seu partido na disputa de poder e terminou numa encruzilhada. O PT o pressiona a assumir de vez a postura de vice-presidente, agindo de forma mais institucional e abrangente. E os peemedebistas querem que ele fique na linha de frente, na defesa do quinhão de poder do partido. ¿Não dá para assumir as duas tarefas¿, comentavam em conversas reservadas vários expoentes do PT durante a reunião do diretório nacional. Quanto à Presidência da Câmara, Michel avisou que deve deixar o cargo em 15 de dezembro, repassando as funções ao primeiro vice-presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS).

A manobra malsucedida do blocão PMDB-PTB-PR-PP pode levar os peemedebistas a terminar perdendo, por exemplo, o Ministério da Integração Nacional. A pasta entrou na rodada de conversas em que a presidente eleita discute a formação do ministério com os governadores. A ordem é colocar ministros que, além de representatividade partidária, representem a pluralidade de estados. Nesse contexto, a Integração Nacional casou com o pleito do governador reeleito da Bahia, Jaques Wagner, do PT. Wagner, assim como o PSB, reivindica a Integração. Wagner não foi o primeiro governador a conversar com Dilma. Na quinta-feira, ela já havia recebido Roseana Sarney (PMDB), do Maranhão. Na segunda-feira, será a vez de Cid Gomes, do Ceará (PSB).

Por enquanto, há um ministério que o PMDB pode manter, o de Minas e Energia. Ele atende não só aos senadores do PMDB como também ao Maranhão de Roseana. Ocorre que o PMDB tem ainda outros cinco espaços no governo e tinha como projeto manter todos. Hoje, depois do blocão, há a intenção de manter o número, mas as pastas é outra história. No balanço geral, depois do ensaio de dissidência, os petistas avaliaram que Dilma terminou por conseguir retomar a condução do próprio governo, sem aceitar uma intromissão direta do PMDB.

Xadrez Agora, avaliam, se o PMDB quiser mesmo retomar a sua força dentro do tabuleiro, será com Michel Temer mais vice-presidente e menos chefe de torcida do PMDB. Temer, da parte dele, tem feito tudo o que pode para ser mais vice e menos presidente do PMDB. Agiu assim inclusive esta semana, quando, depois do café com Dilma, chamou Henrique Eduardo Alves e forçou a reformulação dos objetivos do blocão.

Temer não teria meios de sustentar a manobra de seu partido. Afinal, avalia o PT, o PMDB não tem assim tanto poder de fogo para reivindicar tudo. Até porque, da bancada, pelo menos dez não se reelegeram e uma parte continua na oposição. E, para completar, do outro lado, PSB, PCdoB, PDT, PMN e PRB continuam fechados com Dilma e parceiros do PT. Ou seja, ou o PMDB se conforma a governar em parceria ou verá a mesma força que desfez o blocão agir em conjunto para isolar o PMDB.