Título: Gerdau lidera ranking de companhias do país com maior internacionalização
Autor: Ribeiro, Ivo
Fonte: Valor Econômico, 25/10/2006, Empresas, p. B9

O grupo Gerdau, maior fabricante de aços longos das Américas, com sede em Porto Alegre, é a companhia brasileira com maior grau de internacionalização, de acordo com ranking elaborado pela Fundação Dom Cabral que foi apresentado ontem em Nova York, EUA, durante fórum realizado na Universidade de Columbia. O estudo da FDC, realizado pela primeira vez, baseou-se em sete indicadores de inserção internacional, entre os quais mercados de atuação, ativos existentes no exterior, domínio da cadeia de valor e governança corporativa. A pesquisa foi aplicada em 51 empresas. Quase metade (24) respondeu.

As chamadas transnacionais brasileiras ainda começam a engatinhar no processo de internacionalização, avalia Álvaro Cyrino, professor do Núcleo de Estratégia de Internacionalização de Negócios da FDC. "Somos entrantes tardios, pois só demos a largada nesse processo nos anos 90, embora tenhamos começado com um movimento de exportações na década de 70", afirma.

Segundo Cyrino, não mais que 30 companhias nacionais têm investimentos no exterior, o que significa dispor de ativos em outros países. Mas a maioria das empresas ainda se destaca por meio de exportações de bens e serviços a partir de bases produtivas no Brasil.

O caso da Embraer, fabricante de jatos regionais, é exemplar nesse tipo de indústria: 92% do total da receita é oriundo das vendas de aviões fabricados no Brasil e exportados. A empresa já dispõe de fábrica na China.

No caso da Gerdau, o índice chega a 61%, mas os ativos fora do país já representavam 38% em 2005.

A ida para fora se deveu a vários fatores. Cyrino estaca dois: movimento de reação das empresas, para se tornarem competitivas e poder contra-atacar suas concorrentes, e o crescimento limitado da economia brasileira da década de 80 em diante. O grupo Votorantim, por exemplo, foi buscar outros mercados no cimento devido à estagnação da demanda local e a sua elevada posição de mercado. Em agosto de 2001, adquiriu bases produtivas nos e Estados Unidos e Canadá. Já desembolsou cerca de US$ 1,5 bilhão nos dois países.

Neste momento, o exemplo mais emblemático dessa corrida para fincar bases fora do país e poder competir globalmente é o da Vale do Rio Doce. A mineradora, que aparece em terceiro lugar no ranking da FDC, suportada basicamente pelo seu alto nível de exportações de minério de ferro e outras commodities minerais, adquiriu ontem a canadense Inco, segunda maior produtora de níquel do mundo, com ativos também na Indonésia e Nova Caledônia.

O grupo Camargo Corrêa, que não aparece no ranking, no ano passado e neste fez dois movimentos importantes. Na área de cimento investiu mais de US$ 1 bilhão na aquisição da maior cimenteira Argentina, a Loma Negra. No negócio têxtil, adquiriu por meio da Santista o grupo espanhol Tavex que detinha ativos no Marrocos e México, além da Espanha. Com isso, busca maior facilidade de inserção de seus produtos no mercado americano, que encontram barreiras protecionistas partir do Brasil.

A Coteminas foi outra empresa que viu nesse processo a maneira de se manter competitiva ante suas concorrentes, principalmente as asiáticas. No início do ano fechou uma fusão com a americana Springs, constituindo a maior companhia têxtil do mundo no segmento de cama e banho, com 7% de mercado. A meta é chegar a 20% em dez anos. Encorpada, definiu uma estratégia de aquisições de ativos ou parcerias locais na Ásia. Um dos alvos é a China.

Nesse processo de internacionalização, comenta Cyrino, a maioria das brasileiras ainda se caracterizam nos negócios de industriais e de produtos de base, como aço, cimento, veículos pesados, motores, celulose, petroquímicos, metais e minerais. No setor de bens de consumo de ponta, caso, por exemplo, da Natura, ainda há poucos exemplos. "Nessa área, a internacionalização é mais complicada, pois requer uma marca reconhecida".

No caso de cimento, aço, petróleo e outros produtos de base, as vantagens competitivas das brasileiras são seus sistemas de gestão operacional que serão aplicados nas empresas adquiridas para agregação de valor. "O processo produtivo já é de domínio geral", diz o professor. No caso de Petrobras, a estatal leva sua tecnologia de extração em águas profundas.

A Gerdau, segundo a FDC, é a que mais evoluiu nos sete quesitos - mercados, ativos, recursos humanos, dispersão geográfica dos mercados, cadeia de valor, governança e experiência internacional. Com exceção de dispersão de mercados, nos demais seus indicadores são superiores aos de 80% das empresas pesquisadas.

A CNO, construtora da Odebrecht, tem operações em cinco diferentes regiões mundiais e o exterior responde por 75% de sua receita total. Já a Petrobras foi a primeira empresa da amostra a iniciar atividades no exterior, informa a FDC e hoje está listada em três bolsas de valores, além da Bovespa.

A Marcopolo, quinta do ranking, tem o maior índice de ativos no exterior (46%) e está presente em cinco diferentes regiões mundiais, com atividades de vendas, manufatura e compra de serviços e materiais. A receita líquida de internacionalização chega a 55%.