Título: Serra quer reatar com eleitor para ir ao 2º turno
Autor: Lima, Vandson
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2012, Política, p. A8

Serra: candidato do PSDB faz caminhada pelo comércio do bairro de Vila Sabrina, na zona norte da capital paulista, durante campanha na tarde de ontem

Um eleitor que "pulou a cerca", namorou outras candidaturas, se divertiu, mas na hora de casar, voltou aos braços abertos daquele noivo de muitos anos. Parece um romance clichê, mas é também a explicação dada por integrantes do alto escalão da campanha de José Serra (PSDB) para as idas e vindas de seu eleitor típico, que ameaçou deixar o noivo tucano sozinho no altar da sucessão à prefeitura paulistana, mas que, esperam, lembrará dos bons momentos juntos e levará o tucano ao segundo turno da disputa.

Desde o início da campanha, os serristas apostaram que o rol de realizações do candidato daria conta de mantê-lo na ponta da corrida eleitoral, lugar ao qual chegou assim que anunciada sua entrada na peleja - antes, Serra teve de passar pela prévia do PSDB, na qual entrou fora do prazo e cuja presença forçou uma mudança de data que irritou muitos correligionários. O resultado mostrou que mesmo junto aos seus o ex-governador já não era unanimidade: Serra obteve 52,1% dos votos dos 6.229 filiados, apenas 256 votos a mais que a soma dos concorrentes José Aníbal e Ricardo Tripoli.

Na primeira pesquisa do Datafolha depois da confirmação da candidatura, Serra apareceu com 30% das intenções de voto, nove pontos à frente de Celso Russomanno (21%), que não era até então considerado uma preocupação. "Obviamente, para nós havia um claro cenário de polarização com o PT", afirma o coordenador de campanha do PSDB Edson Aparecido. Fernando Haddad (PT), à época, contava com 8%.

Nesse meio tempo, Serra conquistou o apoio de várias igrejas de orientação neopentescostal - inclusive da Assembleia de Deus, maior do segmento -, mas a campanha fez a opção, pelo menos no primeiro turno, de não explorar a questão. Ontem à noite, Serra compareceu a missa católica do padre Marcelo Rossi, de que é amigo.

Só que chegou o dia 20 de agosto, e o Datafolha mostrou Russomanno com impressionantes 31% das intenções, um dia antes da propaganda televisiva começar. "Ali foi um momento importante da campanha, porque tínhamos de nos planejar sobre quando e como falaríamos sobre alguns temas ao nosso eleitor tradicional", diz Aparecido.

Segundo o coordenador, desde o início da disputa já se planejava o momento em que Serra seria levado às telas para afirmar categoricamente que cumpriria os quatro anos de mandato. Isso só ocorreu, no entanto, no início de setembro, quando as sucessivas quedas nas pesquisas já o colocavam na casa dos 22% dos votos, enquanto Russomanno chegava a 35% e Haddad já aparecia no retrovisor com 16%. "Se a gente coloca o Serra para falar disso logo de cara, viraria o único assunto da campanha", justifica Aparecido.

O manda-chuva da campanha serrista não diz, mas outros tucanos entregam: naquele momento, ficou latente a necessidade de o governador Geraldo Alckmin (PSDB) se fazer cada vez mais presente na campanha de Serra, em detrimento ao prefeito Gilberto Kassab (PSD), cuja administração mal avaliada arrastava Serra para baixo.

As agendas públicas passaram a priorizar visitas a obras feitas na capital pelo governo do Estado, especialmente as realizadas no período em que Serra esteve no Palácio dos Bandeirantes (2007-2010). Tal escolha resolveu várias pendências de uma vez: mostrava que, apesar de ter deixado a prefeitura em 2006, Serra tinha trabalhado pela cidade como governador; e era um mote para que Alckmin comparecesse aos eventos como um aliado insuspeito.

Posteriormente, a entrada do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso na propaganda tucana foi outra medida tomada para estancar a perda de eleitores naturalmente simpáticos ao PSDB em São Paulo - em grande parte localizados no centro expandido da cidade -, mas que estavam arredios à postulação de Serra.

"Acho que podemos ter um segundo turno como se esperava lá atrás, com PSDB e PT. Essa é uma opinião minha, com a qual nem todo o comando de campanha concorda", conta o vice-governador Guilherme Afif Domingos (PSD). Caso ocorra, ele afirma os tucanos apostarão alto na politização da disputa, explorando os resultados do julgamento do mensalão. "O Haddad me parece até um bom rapaz, mas está cercado de más companhias e não tem experiência para lidar com isso. É uma questão a se explorar", projeta Afif.

Sobre o fato de Serra ter voltado a subir nas pesquisas, o vice-governador e o coordenador de campanha partilham da mesma tese. "O eleitor percebeu a fragilidade da candidatura de Russomanno", diz Aparecido. "O eleitor foi dar uma volta, buscar novidade. A insegurança o trouxe de volta para o Serra, que é garantido", avalia Afif.

À noite, o tucano participou de missa na igreja do padre Marcelo Rossi, dividindo as atenções com o adversário do PMDB, Gabriel Chalita. (Colaborou Fernando Taquari)