Título: EUA mantêm taxa pela 3ª reunião; economia está em ritmo moderado
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Fonte: Valor Econômico, 26/10/2006, Finanças, p. C2

O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) decidiu ontem manter o juro do país pela terceira reunião consecutiva, dizendo que a economia deve crescer em ritmo mais moderado, mas que ainda vê alguns riscos inflacionários.

Como esperado, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) manteve a taxa em 5,25%, nível atingido em junho, depois de 17 aumentos seguidos desde meados de 2004. A pausa foi estabelecida em agosto e mantida em setembro.

A decisão não foi unânime. Pela terceira vez, o presidente do Fed de Richmond, Jeffrey Lacker, queria um aumento de 0,25 ponto percentual. "As leituras do núcleo da inflação têm sido elevadas, e o alto nível de utilização de recursos tem potencial de sustentar as pressões inflacionárias", apontou o Fed em comunicado junto com a decisão. "Contudo, as pressões inflacionárias devem provavelmente moderar ao longo do tempo."

Como nas reuniões recentes, os membros do Fed afirmaram mais uma vez que seu foco está principalmente nos riscos inflacionários, deixando a porta aberta para possíveis aumentos do juro. "A extensão e o momento de qualquer aperto adicional que possa ser necessário para enfrentar esses riscos (inflacionários) irão depender da evolução da perspectiva para inflação e crescimento econômico", acrescentou o banco central americano.

A desaceleração econômica dá ao Fed condições de "esperar para ver" se isso será suficiente para combater a inflação. A reunião foi feita em dois dias para permitir uma discussão sobre como o Fed poderia melhorar sua comunicação com o público, mas o comunicado não deu pistas sobre que mudanças poderiam ser feitas.

Na ata da reunião de setembro, os diretores do banco haviam declarado ter visto um "risco substancial" de que a inflação nos EUA não ceda, sem descartar inclusive um novo aumento de juros. Os dados sobre inflação de setembro foram recebidos com apreensão pelos economistas, que julgaram que os índices poderiam levar o banco a reverter a pausa e, ao contrário das previsões de um corte nos próximos meses, voltar a elevar a taxa.

O comportamento dos preços, porém, teve uma mudança no mês passado: os índices gerais, que consideram os movimentos de preços da energia, tiveram deflação expressiva; já o núcleo da inflação -- no qual são desconsiderados os preços de energia e alimentos -, tiveram alta, o que mostra que as elevações de preços já afetam outras categorias de produtos. O CPI (sigla em inglês para índice de preços ao consumidor) teve deflação de 0,5% em setembro, enquanto o núcleo do índice (que exclui os preços de alimentos e energia) subiu 0,2% - dentro da margem considerada adequada pelo Fed.

Já o PPI (índice de preços ao produtor, na sigla em inglês) teve deflação de 1,3% em setembro, mas o núcleo do índice (que exclui os preços de alimentos e da energia) teve alta de 0,6%, maior desde janeiro de 2005.

Os preços da energia têm apresentado queda devido à redução nos preços da gasolina - conseqüência, por sua vez, da baixa nas cotações internacionais do petróleo: o preço do barril já recuou cerca de US$ 20 desde julho, para os níveis atuais, de US$ 58 a US$ 60. A economia americana continua apresentando sinais de desaquecimento. Um deles foi a criação de 51 mil postos de trabalho no país no mês passado, índice muito inferior ao de agosto, quando foram abertas 188 mil vagas.

A retração entre um mês e outro causou também tensão quanto ao ritmo da desaceleração econômica dos EUA, elevando o temor de que poderia haver um "pouso forçado" da economia em 2007.