Título: PT busca indefinidos da periferia
Autor: Cunto, Rapahel Di
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2012, Política, p. A9

Haddad em carreata na Cidade Dutra, zona sul, na manhã de ontem: "Muita gente se define nos últimos três dias, sobretudo na periferia, onde temos muitos eleitores"

Esperança de renovação do PT em meio ao julgamento do mensalão, Fernando Haddad chega a três dias da eleição para a Prefeitura de São Paulo sem conseguir até agora ultrapassar a marca de 20% de intenção de voto nas pesquisas, índice aquém da média histórica de sua legenda. Talhado para roubar votos dos tucanos nas classes média, o ex-ministro da Educação enfrenta resistência entre os eleitores da periferia, que tradicionalmente votam no PT, e com isso corre o risco de ser o primeiro candidato do partido a não disputar o segundo turno na capital paulista.

Ontem, antes de realizar duas carreatas em bairros carentes da Zona Sul, Haddad procurou minimizar as dificuldades e disse que a população ainda não escolheu em quem votar. "Muita gente se define nos últimos três dias, sobretudo na periferia, onde temos muitos eleitores. É agora que esse povo vai se informar, conversar com parentes, amigos e no trabalho, e não tenho dúvida que vamos crescer."

Para atingir esse público, o petista reforçará a campanha antes da votação. Hoje, fará três caminhadas na região central, uma delas, às 12h, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No sábado, irá a uma feira livre em Artur Alvim, na Zona Leste, e ao terreno onde é construído o futuro estádio do Corinthians, em Itaquera - o ex-presidente do clube e hoje diretor de seleções da CBF, Andrés Sanchez é filiado ao PT e fez caminhada com o petista esta semana.

Haddad tem crescido em intenção de voto, mas em ritmo mais lento do que gostaria o partido - que esperava atingir 25% já no início de setembro. O petista, que oscilou negativamente há um mês, se recuperou e subiu quatro pontos percentuais em duas semanas, até chegar a 19% no Datafolha de anteontem. Ele está empatado com José Serra (PSDB), que também estancou a perda de votos e cresceu para 23% - a margem de erro é de dois pontos percentuais.

Um dos motivos para o desempenho aquém do esperado pelo PT foi o julgamento do mensalão, o que tirou 10% dos votos de Haddad, diz o Datafolha. O petista foi alvo de ataques de Serra, e tentou defender-se ao mostrar sua "ficha limpa" como ministro da Educação e professor universitário. Haddad também teve dificuldade para atrair parte dos eleitores que simpatizam com o PT, mas que declararam voto em Celso Russomanno (PRB), ex-deputado que fez carreira na televisão defendendo os direitos do consumidor.

Depois de ser ignorado pelos ataques adversários, que imaginavam uma briga entre PT e PSDB, Russomanno está à frente na disputa, com 25% no Datafolha. Entretanto, a liderança, que agora é dividida com Serra, já foi bem mais folgada -há duas semanas, o candidato do PRB tinha 35%.

Começou a perder votos com os ataques do adversários na TV, rádio, ruas e redes sociais, há três semanas. Um dos que investiu nas críticas foi Haddad. Sem focar na relação do candidato do PRB com a Igreja Universal do Reino de Deus, para não prejudicar a relação do governo federal com a seita, o petista tentou colar a ideia de que Russomanno não tem propostas concretas nem equipe de governo.

Em uma das propagandas na TV, o narrador afirmava que o candidato do PRB, por "falta de experiência", prejudicava os mais pobres ao querer cobrar proporcionalmente a tarifa do ônibus - quem andar mais, pagaria mais, o que afetaria principalmente os moradores da periferia, onde Russomanno alcança seus maiores índices de intenção de voto.

Os sucessivos ataques deram certo, em parte. Russomanno caiu dez pontos percentuais em duas semanas, mas poucos desses votos foram para Haddad. O principal beneficiado foi o deputado federal Gabriel Chalita (PMDB), que vem em constante crescimento desde agosto, mas alcança apenas 11% das intenções de voto.

Para Haddad, o aumento dos eleitores de Chalita ocorreu principalmente nas camadas da classe média e alta por causa da rejeição a Serra, apoiado pelo mal avaliado prefeito Gilberto Kassab (PSD) e por ter renunciado à prefeitura no meio do mandato. "Parte da população que recusa o Serra e procura alternativa à queda do Russomanno migra para Chalita", disse.

Ontem, o candidato do PT não quis dizer, "em respeito as outras candidaturas", se tinha a expectativa de receber os votos de Chalita no segundo turno, caso disputasse contra Serra. Também negou pensar, no momento, em procurar o apoio do PSDB se o adversário for Russomanno. "Não estou trabalhando com a hipótese de reconfigurar a aliança para o segundo turno. A princípio, vou buscar reeditar a aliança exitosa com os partidos da base do governo Dilma."

As conversas de apoio no segundo turno ainda dependem do adversário, dizem petistas - e também se Haddad ainda estará na disputa. O principal alvo é o PDT, do deputado federal e candidato Paulinho da Força. Com o PMDB de Gabriel Chalita, já existe, desde o começo da eleição, acordo de apoio na reta final para o candidato que fosse ao segundo turno.