Título: Boa avaliação lastreia liderança de Fortunati
Autor: Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2012, Política, p. A12

A boa avaliação do prefeito José Fortunati (PDT), que concorre à reeleição, a fratura do bloco de oposição, mais as fragilidades e os erros das candidaturas de Manuela D"Ávila (PCdoB) e Adão Villaverde (PT) transformaram o pedetista em favorito para vencer a disputa em Porto Alegre já no primeiro turno. A avaliação é do professor de Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), André Marenco.

O crescimento e o favoritismo de Fortunati aparecem em todos os levantamentos dos institutos de pesquisa. Pelo Datafolha, ele partiu de 38% dos votos totais em julho para 51% no início deste mês, enquanto no Vox Populi a evolução foi de 38% em maio para 50% no fim do mês passado. Segundo o Ibope ele saiu de 28% em abril para 47% no fim de setembro.

A principal adversária, Manuela, ao contrário, vem em queda constante. Depois de atingir o pico de 37% no Ibope em abril, quando chegou a abrir quase dez pontos de vantagem sobre Fortunati, caiu para 24% na semana passada. No Vox Populi e no Datafolha, o tombo foi de 32% no fim de agosto para 23% no fim de setembro e para 21% nesta semana, respectivamente.

"Fortunati cresceu a partir do início do horário eleitoral gratuito, associado à boa avaliação do governo", avalia Marenco. Conforme o Ibope, do início ao fim de setembro a parcela de eleitores que considera a administração ótima ou boa subiu de 51% para 56%, ao mesmo tempo em que os que aprovam o modo como o prefeito administra a cidade cresceram de 67% para 72%. "O eleitor médio se referencia pela avaliação do governo", explica o analista.

Para o professor, as tentativas dos candidatos de revelar afinidade com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com a presidente Dilma Rousseff também tiveram pouca influência. Primeiro, porque os três principais concorrentes são da base aliada do governo federal e todos trataram de tirar uma casquinha da popularidade presidencial, neutralizando os efeitos para um lado ou outro. Depois, entende Marenco, porque os apoios federais tradicionalmente têm pouco impacto nas eleições municipais em Porto Alegre.

Mas o prefeito também foi beneficiado pelas falhas dos adversários. Manuela, por exemplo, não conseguiu fechar uma chapa com o PT e ao longo da campanha foi perdendo votos de petistas que, mesmo assim, no início viam nela a alternativa matematicamente mais viável para derrotar Fortunati. O professor estima que, no início da disputa, de 50% a 60% das intenções de voto na candidata do PCdoB vinham de eleitores tradicionalmente mais afinados com o PT.

Mas a incapacidade de segurar esse apoio e ao mesmo tempo retirar votos de Fortunati foi culpa da própria candidata, diz Marenco. Segundo ele, ela rendeu-se ao "manual do marqueteiro mirim", segundo o qual "eleitor não gosta de crítica". Por isso, partiu tardiamente para a tentativa de "desconstruir" a administração bem avaliada do prefeito e, quando o fez, já bem atrás nas pesquisas, errou a mão, foi muito agressiva e acabou gerando rejeição contra ela. "Bateu o desespero", resume.

Segundo o professor, Manuela gastou tempo demais tentando construir um perfil "light", mas que acabou aparecendo indefinido ao eleitor. Ao demonstrar proximidade com Lula e Dilma, desagradou aos conservadores. Ao atrair a senadora Ana Amélia Lemos (PP), afastou os eleitores mais à esquerda. Além disso, os bordões adotados por ela, centrados na "inovação" e na promessa de "cuidar das pessoas", também soaram "insípidos e inodoros" e acabaram transformando a candidata num "picolé de chuchu" porto-alegrense.

Os erros de estratégia expressaram-se nos índices de rejeição, que nas últimas pesquisas ficaram em um intervalo entre 17% e 24% para Manuela, contra apenas 6% a 9% para Fortunati. Villaverde disputa a ponta neste quesito com a candidata do PCdoB: 14% a 23% dos eleitores dizem que não votariam nele de jeito nenhum.

Se as pesquisas se confirmarem, 2012 será a segunda eleição municipal frustrante para Manuela. Em 2008, ela disputou de ponta a ponta com a então candidata do PT, Maria do Rosário (hoje secretária especial de Direitos Humanos da Presidência da República), uma vaga no segundo turno contra José Fogaça (PMDB), que acabou vencendo a disputa e depois renunciou em 2010 para concorrer ao governo do Estado, cedendo o posto para Fortunati.

Há quatro anos, a candidata do PCdoB começou a campanha, em julho, com 18% das intenções de voto, segundo o Datafolha, e 19%, conforme o Ibope. No início de outubro, somava 16% e 20%, respectivamente, enquanto Maria do Rosário foi de 20% para 19% no Datafolha e 19% para 20% no Ibope. Para azar de Manuela, as pesquisas foram mais precisas em relação à adversária direta, que no fim somou 20,7% dos votos totais, enquanto ela parou nos 13,9%.

E agora, mesmo que os eleitores atendam aos apelos de Manuela e deem a ela "mais 20 dias", a tendência é que Fortunati confirme a vitória no segundo turno, entende Marenco. "Só houve uma eleição em Porto Alegre revertida no segundo turno, quando José Fogaça [então no PPS] venceu Raul Pont [do PT]". Além disso, se houver segunda rodada, o prefeito atual deve passar com uma vantagem bem maior do que os 8,6 pontos percentuais dos votos totais obtidos pelo petista no primeiro turno em 2004, algo difícil de ser batido mesmo que Manuela conte com o apoio do PT, entende o professor.

Já Villaverde pode tornar-se o petista com pior desempenho na eleição municipal de Porto Alegre desde 1988, quando Olívio Dutra foi eleito para o primeiro dos quatro mandatos consecutivos do partido na cidade com 34,3% dos votos totais (na época não havia segundo turno). Se as pesquisas se confirmarem, ele também será o primeiro candidato do partido a sequer ir para o segundo turno desde 1992, quando o sistema foi instituído.

Segundo Marenco, Villaverde, que é deputado estadual, foi um candidato de baixa densidade e fez um discurso pouco convincente para o eleitor. Além da rejeição elevada, o melhor desempenho alcançado pelo petista limitou-se a 12% na última pesquisa Ibope, divulgada no fim de setembro, sete pontos acima dos 5% obtidos no início do mesmo mês. No Datafolha e no Vox Populi, porém, ele oscilou entre 7% e 9%, apenas.

Para o professor, além das próprias fragilidades, Villaverde foi vítima do declínio do PT verificado nas últimas eleições municipais na cidade. Depois do pico dos 52% que elegeram Raul Pont no primeiro turno em 1996, o partido recuou para 45,6% em 2000, para 35% em 2004 e para 20,7% em 2008, sempre considerando o primeiro turno. "O PT achava que tinha um eleitor que não era dele, mas que vota de acordo com a avaliação que faz da administração", diz Marenco. Além disso, de acordo com ele, o PT já não consegue produzir uma "agenda" local que o diferencie dos demais partidos e sofreu com o fortalecimento de outras opções de esquerda, como o próprio PCdoB e o PSOL.